“Dinheiro não chegou ao Haiti”, diz militar brasileiro
Vice-almirante afirma que verba brasileira está bloqueada em fundo da ONU
Gustavo Gantois
Há exatamente um ano, um terremoto de sete graus na escala Richter sacudiu o Haiti, matando mais de 250 mil pessoas, entre elas 21 brasileiros. De lá para cá, o país ainda teve de enfrentar um furacão que matou outras 50 e a epidemia de cólera, que atinge mais de 180 mil habitantes. Ao todo, 1,5 milhão de desabrigados vivem em barracas espalhadas pelo país.
O Brasil, que desde 2004 chefia a missão de paz das Nações Unidas no Haiti, a Minustah, foi obrigado a rever os planos de retirada. Até janeiro de 2009, o país caribenho vinha caminhando no sentido da pacificação. O contingente de 1.250 brasileiros que faziam parte das tropas estava diminuindo gradualmente. Militares eram substituídos por engenheiros, que planejavam escolas, hospitais e até uma hidrelétrica para fornecer energia ao país. Com o terremoto, o contingente teve de ser aumentado para 2.231.
Para o vice-almirante Ney Zanella dos Santos, vice-chefe de Preparo e Emprego do Ministério da Defesa, ainda não é possível prever a data em que o Brasil poderá sair do Haiti, ainda mais porque a ajuda financeira que foi mobilizada tanto por países quanto por organizações não-governamentais não chegou ao destino.
- A ajuda que teria vindo do exterior posso afiançar que não veio. O dinheiro não chegou. A mobilização internacional foi muito solidária no momento do terremoto. Levaram alimentos, hospitais de campanha, navios com suprimentos emergenciais. Mas a necessidade do Haiti não era só ajudar naquele instante.
O vice-almirante Zanella explica que apenas o Brasil doou R$ 67 milhões (US$ 40 milhões), mas todo o dinheiro está bloqueado em um fundo da ONU. Questionado sobre o motivo, Zanella não soube informar o porquê da lentidão das Nações Unidas em liberar a verba que poderia começar a reconstrução do Haiti.
- A situação continua tão grave quanto antes. Dos escombros, não foram retirados nem 5%. Aliás, tem um agravante, agora, que é o político, porque o segundo turno das eleições presidenciais está marcado para o dia 7 de fevereiro e até agora não sabemos quem são os candidatos, por problemas na recontagem dos votos.
Enquanto isso, o Brasil vai ajudando como pode. O Ministério das Relações Exteriores vem intermediando projetos na área de agricultura, com a Embrapa, e também em saúde e educação. Para manter as tropas brasileiras no Haiti, R$ 240 milhões foram separados no Orçamento de 2011 – dinheiro que será ressarcido pela ONU.
Renovada a cada três meses, a missão brasileira no Haiti foi renovada por um ano – algo fora do comum devido à gravidade em que se encontra o país.
- Não temos ideia de quando sairemos de lá. A ONU já renovou por mais um ano para não perder tempo. Acredito que a saída poderia se dar em cinco ou seis anos, mas precisamos de reconstrução. Sem emprego e condições de vida, a população precisa de algum tipo de ingresso que não seja o das forças armadas.
R7