O Haiti e o desafio da ordem social: apesar de violência, Exército brasileiro vê futuro de modo positivo
Foto: AFP
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FELIPE FRANKE
Na semana em que o terremoto que devastou o Haiti completa um ano e em que o balanço do trabalho realizado em 2010 é negativo, o Exército brasileiro defende que há "bons indícios" no país. Para o Coronel Valdir Campelo Júnior, "ainda tem muito a ser feito aqui no país", mas há "mudanças positivas" que precisam ser valorizadas.
"Você vê um alívio de circulação nas ruas, coisa que não existia logo após o terremoto. O calendário escolar voltou, então você pais levando crianças até a escola. Os aeroportos, ainda com limitações, estão operando. Se você caminhar pela cidade, você vê o comércio informal funcionando", descreve o Coronel, chefe do Batalhão de Comunicação Social brasileiro da missão de paz da ONU.
Campelo não discorda das críticas feitas quanto à demora da reconstrução do país, no qual a maior parte dos escombros do terremoto segue nas ruas e cerca de um milhão de haitianos permanecem sem lar. "Com certeza essa reconstrução não caminha na velocidade que a gente desejaria, a gente queria que avançasse muito mais rápido, mas eu vejo indicativos positivos", contemporiza. São indicativos que mostram que o país não quer ficar parado.
O Exército brasileiro está presente no Haiti desde 2004, quando a ONU enviou tropas para estabilizar o país, abalado por uma crise política. Após a emergência do terremoto, o Brasil reforçou sua presença no país, aumentando de 1,3 mil para 2,2 mil militares, mantendo-se como o protagonista das forças de paz internacional.
Com a catástrofe, o objetivo inicial de estabelecimeno da ordem civil foi ampliada para a ajuda humanitária, mas Campelo esclarece que "o principal da missão continua sendo o ambiente seguro e instável, que a gente considera ao pré-requisito até mesmo para que chegue a ajuda e se consiga desenvolver projetos. Antes da pacificação do país, a ajuda humanitária, mesmo que quisesse vir, era impensável".
Em 2010, o Haiti enfrentou não apenas os episódios dos terremoto e do cólera, mas também os inúmeros protestos contra à falta de alimento, moradia e tratamento. No final do ano, o processo eleitoral que deveria definir o presidente para liderar o país em 2011 fracassou, gernado mais revolta da população, indignada com os rumos do país.
Campelo enxerga uma explicação histórica para a violência, e também vê avanços. "Acidentes ou manifestações que ocorreram agora, nesse período eleitoral, estão dentro de um histórico do país. Retirando essa fase, veremos que os índices de segurança são semelhantes aos que (havia) antes do terremoto."
Ele conta que, com o tremor, um presídio do Haiti desmoronou, ocasionando a fuga de presos. "Num primeiro momento, imaginou-se que poderia haver um recrudescimento da violência, mas isso não ocorreu", comemora. Foi instalado um serviço de Disque-Denúncia para a população, que "teve uma resposta muito positiva. Ela já não aceitava mais a vinda dos antigos marginais".
Futuro conjunto
Alguns analistas e observadores internacionais criticam o modelo de ajuda humanitária empregado no Haiti, que seria pouco ágil e que, em certa medida, manteria o país refém da bondade internacional. A saída, argumentam, é a ajudar o Haiti a construir a si mesmo.
Campelo concorda com a urgência do estabelecimento de um governo próprio que, superado o caos eleitoral, possa assumir as tarefas tão necessárias para a melhoria do país. "O que se espera é que em muitos poucos dias esteja sendo feita a divulgação dos candidatos vencedores do primeiro turno para que se passe a uma segunda fase, em defintivo", estima.
No entanto, apesar das deficiências do modelo conjunto entre governo local e comunidade internacional, Campelo enxerga ambos juntos no futuro próximo do país. "É importante que exista um governo constituído, porque quem ganhar as eleições será o grande líder, junto com a comunidade internacional, que nos próximos anos vai poder fazer a reconstituição do país", finaliza.
TERRA