ENTREVISTA - PAUL CRUZ
“Um trabalho de vários anos”
Quando o general brasileiro Luiz Guilherme Paul Cruz assumiu o comando das tropas de vários países que formam a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), em abril do ano passado, a ajuda de emergência pelo terremoto de janeiro tinha acabado. Era hora de começar as ações de reconstrução do país. Desde então, no comando de um contingente de 11 mil homens, ele teve de enfrentar o surto de cólera e garantir as eleições presidenciais. Em entrevista ao Correio, por telefone, o comandante da Minustah se diz esperançoso com um novo governo, apesar do complicado processo eleitoral, e afirmou que a ajuda do Brasil “ é um trabalho de vários anos”.
Um ano depois do terremoto, como está a reconstrução?
Muita coisa já foi feita, mas o desafio é enorme. A ajuda emergencial passou e ainda há muito o que fazer. Os grandes projetos, destinados a dar sustentabilidade econômica, precisam deslanchar. Por isso, há uma grande esperança nas eleições, para que, com um governo legítimo, o país possa levar a cabo o desenvolvimento e se tenha um interlocutor entre o Haiti e a ajuda humanitária.
Qual é o papel das tropas brasileiras?
A tropa tem sua ação primordial na segurança e na estabilidade. Isso é necessário para que se desenvolvam os trabalhos de cooperação pontual, para poder ajudar as pessoas. Temos uma relação estreita com o comando da embaixada brasileira, principalmente na área da saúde e de operações técnicas. O Brasil tem dado uma ajuda relevante ao Haiti. Além disso, na posição política, faz com que haja engajamento dos outros países da América do Sul para trazer soluções e desenvolvimento.
Mas os militares também fazem trabalho humanitário, não?
Uma das questões de segurança é estar junto das comunidades onde você atua. Aparece uma necessidade e, naquilo que é possível, contribuímos. Mas há uma diferença entre ser o responsável e participar desse esforço. A engenharia militar brasileira, por exemplo, faz recuperação das ruas de Porto Príncipe, mas com ajuda de fundos do Itamaraty para compra de asfalto. É todo um conjunto.
Até quando a ajuda do Brasil será necessária para os haitianos?
A cooperação do Brasil é importante para o Haiti. Ela vai continuar e deve crescer, como ocorre com outros países da América Latina e do Caribe. A nossa participação e das Nações Unidas pode mudar de perfil conforme a situação do país tenha uma evolução e maior estabilidade. É um trabalho para vários anos. Em respeito a tudo que já foi feito, temos de preservar para que continue. Esperamos que o processo eleitoral conduza a um novo governo e que o povo haitiano possa seguir em frente.
CORREIO BRAZILIENSE