Paulo Pacini
do blog bicentenário de Osório |
No final de 1888, voltava da Europa o escultor Rodolpho Bernardelli, em missão na França para adquirir materiais indispensáveis à criação de nova e importante obra, encomendada no ano anterior: uma estátua eqüestre do conhecido General Osório, falecido em 1879. Com a maquete do projeto aprovada, o artista caminhava para sua realização efetiva.
Manuel Luís Osório foi um dos mais destacados militares da história brasileira. Nasceu em 1808 — mesmo ano da chegada da côrte portuguesa — no Rio Grande do Sul. Aos 15 anos, já com o país independente, iniciou carreira acompanhado o regimento de seu pai, também soldado. Apesar de ter simpatia pelo movimento farroupilha, não concordou com as idéias separatistas, e integrou-se ao exército Imperial. Sua grande capacidade e destemor levariam aos mais altos postos, tendo-se tornado uma das grandes figuras da Guerra do Paraguai, movida por Brasil, Argentina e Uruguai contra o ditador Solano Lopez. No conflito, encerrado em 1870, Osório sofreu ferimentos que prejudicaram a saúde, mas que elevaram ainda mais sua aura de herói.
Bernardelli, um dos maiores escultores que o país conheceu, estava à altura da tarefa, e, em seu afã de perfeccionismo, estudou por meses o movimento dos cavalos, e, no final de dois anos, o molde estava pronto. Em 1892 seguiria para a França, onde seria fundido, Bernardelli o acompanhando como um pai extremoso, para garantir o sucesso da empreitada. Tudo correu perfeitamente, e, após o retorno, cuidou-se da construção da base da estátua, feita com pedra importada da Itália.
O monumento foi inaugurado em 12 de novembro de 1894, com a presença de autoridades e grande público, homenageando uma figura exponencial cuja lembrança ainda era recente. A Praça XV sofreu uma reforma para acomodar a memorável obra, a qual recebeu em sua base os restos mortais de Osório, lá permanecendo até 1993, quando foram trasladados ao Rio Grande do Sul e sepultados perto da casa onde nasceu.
Nas últimas décadas, a Praça XV e os prédios históricos remanescentes foram beneficiados por iniciativas de preservação, valorizando a região e consequentemente a cidade. Os monumentos, contudo, se ressentem da falta de uma estrutura de vigilância que impeça sua contínua destruição nas mãos de vândalos e vagabundos, que mereceriam punições bem mais rigorosas que as atuais. A magnífica estátua de Osório não foi exceção, infelizmente, tendo várias partes roubadas, como o portão de acesso, as balas de canhão nos 4 cantos, as pontas de lanças da grade e até mesmo a corbeille que emoldurava a dedicação. Uma perda irreparável, considerando que o bronze empregado era proveniente do derretimento dos canhões apreendidos ao Paraguai após a guerra de 1870. Objetos podem ser substituídos, a história não.
A estátua encontra-se em processo de restauração, o que deve ser elogiado, mas, a menos que se implemente um esquema de vigilância permanente com câmeras e guardas dedicados — coisa que qualquer prédio sem importância possui — a recuperação dos monumentos terá de continuar por toda eternidade, pois as forças da destruição estão e sempre estarão de prontidão, noite e dia.
JB ONLINE (Coluna Rio Antigo)