Prisões criam dormitórios separados para facilitar transição de ex-combatentes de guerra para a liberdade
Lizette Alvarez
James R. White, um veterano da Marinha, saudou a guarda de honra que marchava ao redor do pátio, parou e voltou a marchar novamente.
Mas não havia armas à vista. Sapatos polidos. Quepes brilhando. Os 85 homens que compunham a marcha usavam uniformes de prisão. Quando a cerimônia acabou, eles caminharam de volta para sua ala do Complexo 1, uma área residencial reservada para veteranos militares cumprindo pena no Instituto Correcional Sumter, uma prisão de segurança máxima na zona rural da Flórida.
Prisioneiros esperam por contagem matinal em dormitório para veteranos na prisão Sumter, em Bushnell, na Flórida (Foto: NYT)
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A Flórida é um dos poucos Estados americanos que estão repensando o tratamento dado a veteranos presos, na esperança de facilitar a sua transição de volta para a sociedade e, em seguida, mantê-los fora da prisão. Em agosto, o Estado criou um programa que oferece dormitórios separados em cinco prisões para veteranos militares que foram dispensados com honrarias e que não têm mais de três anos em sua sentença. Califórnia e Illinois têm programas semelhantes, todos projetados para atender melhor às necessidades dos veteranos presos.
Por enquanto, 300 dos 6,7 mil veteranos presos da Flórida vivem nestes dormitórios, um número que as autoridades estaduais pretendem aumentar. O sistema prisional do Estado abriga 101 mil detentos no total.
"Percorremos um longo caminho em poucos meses", disse Jeffrey P. Trovillion, diretor do Sumter, que não têm condenados à morte. "Esse projeto está trazendo de volta um sentimento de orgulho e disciplina."
Enquanto os veteranos comem com os presos comuns, e compartilham horário de visitação e telefone com eles, o resto de seus dias, na medida do possível, segue regras militares.
Todas as manhãs os homens acordam e são avaliados em formação, como faziam em serviço. Depois são realizadas o hasteamento da bandeira e outras cerimônias, além da apresentação de uma guarda de honra. O beliche de cada homem contém um cartão com sua foto, ramo e tempo de serviço. Camas e dormitórios têm de estar limpos e organizados. Caso queiram, os homens podem até mesmo passar suas roupas.
Ao colocar os homens juntos, o Estado tem maior facilidade na prestação de serviços, uma grande preocupação entre os defensores dos veteranos que dizem que a maioria dos que são libertados da prisão sabe pouco ou nada sobre os benefícios disponíveis a eles.
Seis meses antes de sua libertação, os presos se encontram com um funcionário do Departamento de Assuntos de Veteranos para obter informações e ajuda com suas aplicações. Eles também recebem orientação sobre a desordem de estresse pós-traumático, caso necessário, e aulas sobre como se preparar para empregos e para os obstáculos mentais e emocionais que os esperam na vida civil.
Mas para se qualificar para a colocação nos dormitórios, e permanecer lá, os veteranos devem se comportar melhor do que a população carcerária comum. Honestidade e respeito são fundamentais. Palavrões e insultos raciais são malvistos. Os homens não devem usar drogas. Caso quebrem as regras, eles recebem um aviso. Se o fizerem novamente, estão fora do dormitório. O programa não custa nenhum dinheiro adicional ao Estado, mas espaço é necessário para que os homens sejam alojados separadamente.
Até agora, nenhum dos 85 veteranos prisioneiros no dormitório de Sumter foi expulso. Eles foram selecionados entre candidatos cumprindo pena em prisões de todo o Estado. O mais velho lutou na Coreia, um dos mais jovens lutou no Iraque.
"Isso está reforçando alguns dos valores que eu tinha e espero ter novamente", disse White, 58, que serviu entre 1974 e 1978 como sargento na Marinha. Ele está na prisão desde 1996 por roubo. O dormitório e seus rituais "estão trazendo à tona estas memórias antigas, de ser um cidadão honesto".
Os laços destes homens com os militares promovem o tipo de camaradagem que raramente existe fora do dormitório. Não é perfeito, mas mesmo nos piores dias é civil e por isso todo mundo é cuidadoso com as regras.
Embora a maioria dos veteranos seja do Exército, há muita provocação sobre quais ramo das Forças Armadas é o melhor. Um fuzileiro naval é um fuzileiro naval, afinal de contas, e gosta de mostrar superioridade. Mas eles principalmente compartilham informações e experiências. O fato de que muitos dos policiais que vigiam os homens são veteranos militares também contribui.
"Não há mais stress aqui dentro", disse Jorge Rosario, 55, que serviu como sargento e maquinista no Exército por 20 anos. Ele acabou na prisão em 2002 depois de ter matado três pessoas em um acidente de caminhão. "Geralmente, nos damos muito bem, ajudamos uns aos outros", disse ele. "Há responsabilidade, honestidade. É como se você tivesse um trabalho em equipe. "
Paulette Julien, o diretor assistente, disse que logo depois que os homens chegaram no dormitório, "você podia ver o orgulho deles voltar."
Andre Lewis, 43, que passou 16 anos no Corpo de Fuzileiros Navais, disse que outros programas veteranos pareciam um desperdício de tempo. Eles eram fugazes e não ofereciam nenhuma coesão. Aqui, disse ele, os serviços e programas estão enraizados em seu cotidiano.
"Há uma sensação de bem-estar", disse Lewis, que serviu na infantaria e tem três anos restantes em uma pena de seis anos por um crime que se recusou a discutir. "Estou mais do que feliz por estar aqui."
iG/montedo.com