DIOGO ALCÂNTARA
A substituição de Luiz Inácio Lula da Silva por Dilma Rousseff na Presidência do Brasil animou a sueca Saab na concorrência para vender ao Brasil inicialmente 36 aviões de caça. A empresa é a fabricante do Gripen NG, um dos finalistas do negócio estratégico que pode trazer uma nova tecnologia de produção ao Brasil e custar cerca de R$ 10 bilhões, segundo estimativas. O modelo sueco concorre com o americano F-18 Super Hornet (Boeing) e o francês Rafale (Dassault), preferido do ex-presidente Lula.
Hoje, as negociações estão suspensas por causa do corte orçamentário de R$ 50 bilhões do governo brasileiro, anunciado no início do ano. A expectativa da Saab, no entanto, é que o projeto de reequipamento da aeronáutica brasileira seja retomado já no ano que vem. O fato de o Brasil ser comandando agora por Dilma Rousseff dá novo fôlego para os concorrentes do Rafale.
"Há pessoas diferentes fazendo as coisas de maneira diferente, então sim, acho que pode haver critérios diferentes (na escolha)", limitou-se a dizer o diretor para a campanha do Gripen NG no Brasil, Andrew Wilkinson, referindo-se à troca no Planalto e no comando do Ministério da Defesa. O ex-presidente Lula chegou a dizer em reuniões que havia "uma preferência política" pelos caças franceses.
Com a mudança de poder no Brasil, o trunfo dos suecos é a melhor oferta de transferência de tecnologia a um custo mais baixo. Sem poder revelar valores, que são confidenciais, Wilkinson garante que o Gripen NG deverá sair pela metade do custo dos seus concorrentes. O primeiro modelo do Gripen já tem seis países como clientes, três deles parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): República Tcheca, Hungria e Reino Unido.
Como estratégia de marketing para atrair a atenção do grande público, a Saab está com um stand montado no autódromo de Brasília e um simulador de voo do Gripen Foto: Diogo Alcântara/Terra
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A versão NG ainda é um protótipo, mas para a Saab isso não é uma desvantagem. Pelo contrário, o Brasil poderia participar da finalização de um modelo em estágio já avançado, tendo assim acesso ao código-fonte da aeronave e total autonomia para exportá-lo. "O Gripen ainda está sendo desenhado e desenvolvido e o Brasil pode se envolver de perto com essa produção", diz o diretor para a campanha do Gripen NG no Brasil. "Eu acho que essa é uma ambição brasileira: tornar-se independente na produção. E a única forma de fazer é aprender construindo", acrescentou.
Os franceses estão tendo dificuldades para exportar o Rafale. Até agora, nenhuma unidade foi vendida para outros países. Devido à baixa procura, o ministro da Defesa da França, Gerard Longuet, chegou a ameaçar uma suspensão a "médio prazo" do caça. O F-18 Super Hornet também tem a desvantagem de não conseguir garantir a total transferência de tecnologia, além de restringir a exportação de aeronaves para países não aliados dos Estados Unidos.
A possibilidade de construção conjunta de um caça, mesmo que não seja o mais sofisticado do ponto de vista bélico, é uma vantagem significativa na opinião do brigadeiro José Carlos Pereira, ex-presidente da Infraero. "O Brasil não está sofrendo a eminência de um ataque, é o momento de se preparar. Essa é a grande oportunidade para nossa engenharia entrar de cabeça nesse projeto", disse, referindo-se ao desenvolvimento do Gripen NG.
Para o brigadeiro, se o Brasil fosse considerar apenas o melhor produto do ponto de vista do desempenho, compraria o modelo russo Sukhoi, eliminado em etapas anteriores no projeto de compra do Brasil pela difícil transferência de tecnologia e pelo alto consumo de combustível.
Simulador
Como estratégia de marketing para atrair a atenção do grande público, a Saab está com um stand montado no autódromo de Brasília e um simulador de voo do Gripen. Um piloto sueco especializado em simuladores orienta os curiosos a operar comandos básicos da aeronave. O modelo apresenta recursos avançados de ataque e simula atingir velocidades de um caça supersônico. A velocidade máxima atingida pelo Gripen é confidencial, mas em simulação feita pelo Terra ultrapassou 1.200 km/h.
Em agosto, a Boeing adotou estratégia parecida e instalou um simulador no Congresso Nacional, pouco antes de parlamentares da Comissão de Relações Exteriores ouvirem representantes da empresa americana.
TERRA/montedo.com