23 de janeiro de 2012

Amazônia: nova campanha para internacionalização

Carlos Chagas
Nada melhor do que começar o ano arriscando um palpite: qual o mais lamentável episódio ecológico de 2011? Em nosso entender, foi a saída da ex-ministra Marina Silva do Partido Verde, coisa que reacenderá a disputa travada faz décadas ou até séculos em torno da soberania na Amazônia.
Aproveitam-se os eternos abutres do Hemisfério Norte para voltar à velha cantilena de que afastada sua maior defensora, ficará mais fácil batizar-se a região em patrimônio da Humanidade, devendo ser administrada por um poder internacional, sobreposto aos governos dos países amazônicos.
Editoriais do New York Times volta e meia funcionam como uma espécie de toque de corneta capaz de arregimentar as variadas tropas de assalto.
Vinte anos atrás incrementou-se a blitz institucionalizada por governos dos países ricos, de Al Gore, nos Estados Unidos, para quem o Brasil não detinha a soberania da floresta, a François Mitterrand, da França, Felipe Gonzalez, da Espanha, Mickhail Gorbachev, da então União Soviética, Margareth Tatcher e John Major, da Inglaterra, entre outros.
Quando de sua primeira campanha, George W. Bush chegou a sugerir que os países com grandes dívidas externas viessem a saldá-las com florestas, coisa equivalente a perdoar os países do Norte da África e do Oriente Médio, que só tem desertos.
Naqueles idos a campanha beirava os limites entre o ridículo e o hilariante, porque para fazer a cabeça da infância e da juventude, preparando-as para integrar as forças invasoras, até o Batman, o Super-Homem, a Mulher Maravilha e outros cretinos fantasiados levavam suas aventuras à Amazônia, onde se tornavam defensores de índios vermelhos e de cientistas lourinhos, combatendo fazendeiros e policiais brasileiras desenhados como se fossem bandidos mexicanos, de vastos bigodes e barrigas avantajadas.
Depois, nos anos noventa, a estratégia mudou. Deixou-se de falar, ainda que não de preparar, corpos de exército americanos especializados em guerra na selva. Preferiram mandar batalhões precursores formados por milhares de ONGS com cientistas, religiosos e universitários empenhados em transformar tribos indígenas brasileiras em nações independentes, iniciativa que vem de vento em popa até hoje e que logo redundará num reconhecimento fajuto de reservas indígenas como países “libertados”.
Devemos preparar-nos para uma nova etapa, estimulada pela falta que está fazendo Marina Silva, ferrenha adversária da internacionalização da floresta. Aliados à quinta-coluna brasileira composta por ingênuos e por malandros, dão a impressão de recrudescerem na tentativa de afastar o governo brasileiro da questão.
Terá sido por mera coincidência que os Estados Unidos já puseram no mar a Quarta Esquadra de sua Marinha de Guerra, destinada a patrulhar o Atlântico Sul, reunindo até porta-aviões e submarinos nucleares?
Do nosso lado, bem que fazemos o possível, aparentemente pouco. Não faz muito que uma comissão de coronéis do Exército Nacional, chefiados por dois generais, passaram meses no Viet-Nam, buscando receber lições de como um país pobre pode vencer a superpotência mais bem armada do planeta, quando a guerra se trava na floresta.
Do general Andrada Serpa, no passado, ao ex-ministro Zenildo Lucena, aos generais Lessa, Santa Rosa e Cláudio Figueiredo, até o general Augusto Heleno e o coronel Gélio Fregapani, agora, a filosofia tem sido coerente.
Nossos guerreiros transformam-se em guerrilheiros. Poderão não sustentar por quinze minutos um conflito convencional, com toda a parafernália eletrônica do adversário concentrada nas cidades, mas estarão em condições de repetir a máxima do hoje venerando general Giap: “Entrar, eles entram, mas sair, só derrotados”.
Em suma, pode vir coisa por aí em 2012, para a qual deveremos estar preparados. Claro que não através da pueril sugestão de um antigo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de transformar soldados em guarda-caças ou guardas florestais. Os povos da Amazônia rejeitaram, na década de setenta, colaborar com a guerrilha estabelecida em Xambioá, mas, desta vez, numa só voz, formarão o coro capaz de fornecer base para uma ação militar nacional.
Para aqueles que julgam estes comentários meros devaneios paranóicos, é bom alertar: por muito menos transformaram o Afeganistão e o Iraque em campo de batalha, de onde, aliás, estão saindo derrotados, apesar de enfrentarem o deserto e não a selva, mil vezes mais complicada…

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