Ex-coronel do Exército comanda segurança da seleção brasileira com rigor
'Fiscal' dos jogadores se encarrega de acordar de madrugada para vasculhar o hotel
SÍLVIO BARSETTI - Enviado Especial - Agência Estado
GOIÂNIA - O chefe de segurança da seleção brasileira é uma figura querida entre a comissão técnica e os jogadores da equipe. Funcionário da CBF há mais de 20 anos, o coronel reformado do Exército, Castelo Branco, leva sua atividade tão a sério que às vezes deixa a impressão de ser muito rigoroso. Em Goiânia, ele surpreendeu os agentes destacados para dar segurança a Neymar e companhia. Isso por causa de alguns hábitos que faz questão de manter.
Nos dias em que a seleção esteve no Hotel Mercure, no setor oeste de Goiânia, Branco ordenou que se destacassem dois homens de uma agência privada de segurança para cada um dos dois andares em que se hospedavam os atletas, sempre em quartos individuais. Para se certificar de que tudo transcorria normalmente, o coronel saía de seus aposentos toda madrugada, entre 3h e 4 horas. Caminhava em silêncio pelos corredores e preferia às escadas aos elevadores.
Numa noite da semana passada, ele viu apenas um segurança num dos pavimentos restritos aos atletas. Aproximou-se dele e lhe perguntou sobre a ausência do outro. A resposta não lhe pareceu convincente: nervoso, o rapaz abordado disse que o colega tinha ido ao banheiro. Imediatamente, Castelo Branco acionou o seu cronômetro e se sentou na cadeira que deveria estar ocupada.
Esperou entre 15 e 20 minutos, e nada. Então, olhou bem para o agente de plantão e o advertiu com algumas palavras pouco amistosas. Por fim, lhe disse que a dupla seria trocada imediatamente e ele comunicaria o caso aos superiores dos excluídos.
Esse fato chegou ao conhecimento de vários PMs de Goiânia, notadamente ao grupo de 30 homens que cuidam da segurança da seleção. Uns acharam graça da reação intempestiva do coronel. A maioria, porém, não aprovou o tom utilizado por ele.
A partir desta quarta-feira, a seleção se hospeda em Brasília. O esquema de segurança deve ser ainda mais rigoroso que o de Goiânia, assim como as madrugadas investigativas do coronel, homem de confiança do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
ESTADÃO Esportes/montedo.com
Comento:
Parece que o coronel Haroldo Castelo Branco procura fazer seu trabalho, mas enfrenta resistências da 'paisanaria'. Se uma empresa é paga - e muito bem paga! - para prestar segurança, presume-se que ela deva... prestar segurança! 'Palavras pouco amistosas' é um eufemismo do jornalista para substituir termos como 'vagabundo', 'irresponsável' ou equivalente. Ardilosamente, usa a suposta opinião de PMs para menosprezar a atitude de Castelo Branco. Uns, 'teriam achado graça', outros, 'desaprovado o tom'. Tá bom.
Com mais de vinte anos de CBF, o coronel tem jogo de cintura para tirar de letra situações como essa. Afinal, sobreviveu a coisas bem piores, como a 'mijada' pública que levou de Dunga quando treinador da seleção, em 2007.