26 de junho de 2013

Demolição de antigo quartel do Exército gera polêmica no interior do RJ

Movimento tenta salvar antigo quartel do Exército em São Gonçalo
Terreno daria lugar a casas para famílias do Morro do Bumba

PAULO ROBERTO ARAÚJO
O prédio 3º Batalhão de Infantaria, que poderá ser destombado para construção de condomínio Foto: Freelancer / Letícia Pontual/20-5-2008
O prédio 3º Batalhão de Infantaria, que poderá ser destombado para construção de condomínio Freelancer / Letícia Pontual/20-5-2008
RIO — Moradores e entidades de São Gonçalo se mobilizam em torno do que consideram um crime contra o patrimônio histórico e ambiental: o destombamento e a demolição da área do desativado 3º Batalhão de Infantaria do Exército (3º BI), no bairro Venda da Cruz, quase no limite com Niterói. O estado planeja construir ali 1.240 unidades habitacionais para desabrigados do desabamento de 2010 no Morro do Bumba, em Niterói. A denúncia foi enviada na semana passada por dez entidades para o Ministério Público Federal (MPF), com pedido de liminar.
— Além do local não possuir infraestrutura para receber tantas famílias, o conjunto arquitetônico tem uma longa história a ser preservada. Foi dali que saíram os brasileiros que tomaram Monte Castelo, na Itália, na Segunda Guerra Mundial — lembra José Pinheiro, um dos líderes do movimento de preservação.
A área foi tombada pela prefeitura em 2011 como patrimônio histórico, artístico, cultural, paisagístico e ecológico. No subsolo passa o rio Zumbi, que transborda em época de chuvas e que, de acordo com a lei ambiental, só pode receber construções a uma distância de 14 metros das margens. Os prédios do 3º BI estão ocupados hoje por desabrigados do Morro do Bumba. Também estão lá, provisoriamente, a 72ª DP (São Gonçalo) e a Delegacia de Mulheres.
Os defensores do patrimônio temem que os 28 vereadores de São Gonçalo atendam ao pedido do Governo do Estado e façam o destombamento. O presidente da Comissão de Direito Administrativo da OAB do Rio, o advogado Bruno Navega, disse que os vereadores não podem derrubar o decreto de preservação. O prefeito de São Gonçalo, Neilton Mulim (PR), no entanto, enviará amanhã à Câmara mensagem com o destombamento.
Os líderes do movimento afirmam que o projeto do estado não tem estudo de impacto e prevê um conjunto habitacional para 5 mil pessoas numa área já saturada.

Batalhão para a PM
O movimento quer que o terreno seja destinado à segurança, ao lazer e à cultura da população. Há uma proposta para que o endereço abrigue um novo batalhão da Polícia Militar.
— Existem outras áreas na cidade livres para receber a obra, sem necessidade de demolição ou desmatamento. Na próxima reunião do Conselho de Segurança, na quinta, vamos debater o problema da falta de policiamento. O 3º BI seria o local ideal para um novo batalhão da PM porque lá já existe um aquartelamento pronto, que fica numa região estratégica para atender a Niterói e São Gonçalo — sugeriu o presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Carlos Alberto de Paula.
Na última visita que fez a São Gonçalo, para inaugurar a unidade de trauma do Hospital Estadual Alberto Torres, o governador Sérgio Cabral declarou que o estado pode voltar atrás no projeto de destombar o conjunto do 3º BI:
—Vamos acatar o desejo da comunidade — prometeu.
A área foi, no século XIX, moradia da família do visconde Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan. Conhecida como Chácara Paraíso, com árvores e palmeiras centenárias, abrigou de 1832 a 1916 o Aldridge College, a primeira escola da cidade, que se equiparava ao British-American, no Rio, e ao Mackenzie, em São Paulo.
O Globo/montedo.com

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