Atuando sempre em território hostil, os boinas-verdes americanos são especialistas em atacar de surpresa e desaparecer antes mesmo que o inimigo perceba o que aconteceu
Boinas Verdes em cerimônia militar (Imagem: Wikipédia) |
Roberto Navarro
Em julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, o então capitão do Exército americano Aaron Bank foi lançado de pára-quedas sobre a França ocupada pelos nazistas para uma missão secreta. Fluente em francês e falando alemão razoável, Bank deveria juntar-se aos guerrilheiros franceses na luta por trás das linhas inimigas, além de coletar a maior quantidade possível de informações sobre as tropas alemãs. A missão foi um sucesso. O grupo liderado por Bank tomou vários vilarejos, sempre adotando a tática de atacar e desaparecer antes que os alemães pudessem revidar.
Ao fim da guerra, Bank persuadiu seus superiores sobre a necessidade de um grupo capaz de lançar ações de sabotagem e adotar táticas de guerrilha, operando secretamente em território inimigo. Em 1952, Bank, já promovido a coronel, tornou-se comandante da primeira unidade de Forças Especiais do Exército americano.
As exigências para um candidato ser admitido ao grupo eram que se apresentasse como voluntário, dominasse pelo menos dois idiomas além do inglês, tivesse treinamento como pára-quedista e estivesse disposto a lutar atrás das linhas inimigas, usando roupas civis, se necessário, ainda que isso representasse o risco de ser fuzilado, caso capturado. No final de 1952, as primeiras unidades do Grupo de Forças Especiais foram enviadas para a Guerra da Coréia, em apoio ao Exército americano no combate a tropas comunistas. Seu desempenho foi considerado brilhante e levou à criação de outros grupos de elite do Exército americano nos anos posteriores à Guerra da Coréia, encerrada por um armistício em 1953.
Nasce a boina verde
Ao tomar posse como presidente dos Estados Unidos, em 1961, John F. Kennedy logo percebeu que as Forças Especiais representavam o melhor instrumento para atuar num novo tipo de guerra que surgia – a contra-insurgência, ou seja, a luta contra movimentos rebeldes que ameaçavam desestabilizar países aliados. Em setembro daquele ano, Kennedy visitou Fort Bragg, na Carolina do Norte, onde funcionava a sede das Forças Especiais, e autorizou seus integrantes a acrescentar a boina verde ao uniforme. Até então usada informalmente, a boina tornou-se sinônimo das operações especiais, que, nas décadas seguintes, viriam a ser indispensáveis à política externa americana.
No Vietnã, onde estavam presentes, desde 1956, treinando tropas de elite locais, as Forças Especiais do Exército americano destacaram-se em ações clandestinas, capturando ou executando chefes da guerrilha vietcongue, identificando depósitos ocultos de armas do inimigo e recolhendo informações. Na mesma década, em 1968, os Boinas-Verdes participaram da captura do líder revolucionário Ernesto “Che” Guevara, médico argentino que, sob inspiração de Cuba, tentava instaurar um movimento de guerrilhas na Bolívia.
Na década de 80, unidades de Forças Especiais americanas foram enviadas a dezenas de países para intervir em conflitos cuja solução interessava aos Estados Unidos. Em 1989, os Boinas-Verdes juntaram-se às forças convencionais do Exército na invasão do Panamá para derrubar o homem-forte do país, Manoel Noriega.
No início de 1991, os Boinas-Verdes estavam no Iraque, participando da Primeira Guerra do Golfo. Eles foram cruciais para localizar e destruir lançadores móveis de mísseis Scud. Igualmente importante foi o papel dos Boinas-Verdes na década seguinte, quando foram mobilizados para combater guerrilheiros da rede Al Qaeda no Afeganistão. As Forças Especiais voltariam ao Iraque em 2003, na Segunda Guerra do Golfo. Agora, além de missões de reconhecimento, os Boinas-Verdes deram apoio aos combates na região de Sargat e, após sua tomada, juntaram-se a guerrilheiros curdos no avanço para controlar Tikrit, um dos principais centros de influência do ditador Saddam Hussein, derrubado pouco tempo depois.
Diante do sucesso da corporação em mais de meio século na coleta de informações confidenciais, não é surpresa que o governo americano tenha decidido, em 2004, ampliar a atuação dos Boinas-Verdes para as atividades de espionagem. Seu novo papel reflete a atual obsessão de Washington com a guerra contra o terrorismo. Isso não significa, porém, deixar de lado as principais funções para as quais os Boinas-Verdes foram criados: realizar ações armadas clandestinas em território do adversário, organizar forças rebeldes em países hostis para defender interesses americanos e atuar como guerrilheiros capazes de atacar de surpresa e desaparecer antes mesmo que o inimigo sequer perceba o que aconteceu.
Os guerreiros-professores
Seguindo a mesma estrutura criada pelo coronel Aaron Bank, em 1952, cada companhia de Boinas-Verdes é formada por seis destacamentos, todos denominados “Equipe A”, cada um com 12 homens comandados por um capitão. Cada “Equipe A” deve ser capaz de planejar e executar ações especiais por conta própria ou como integrante de uma unidade maior; conduzir operações em áreas hostis (muitas vezes por trás das linhas inimigas) durante longos períodos de tempo com o mínimo de ajuda exterior; e improvisar soluções à medida que as necessidades surgirem, fazendo uso apenas dos meios que estiverem disponíveis. Chamados muitas vezes de “guerreiros-professores”, os Boinas-Verdes têm ainda a função de treinar outras forças americanas para a realização de operações especiais, além de organizar, preparar e comandar tropas de países amigos na execução de missões do interesse dos Estados Unidos.
Para saber mais
- The Green Berets at War (on the Front Lines), Michael Green e Gladys Green, Capstone High-Interest Books, 2003
- The Green Berets, Robin Moore, Mass Market Books, 2002
- The Green Berets: Weapons and Equipment, Hans Halberstadt, Crowood, 2000
Aventuras na História/montedo.com (colaborou: Acelino Pontes)