8 de agosto de 2010

GENERAL ADVERTE: "EXÉRCITO NÃO QUER SUBSTITUIR POLÍCIAS".

Exército adverte que não quer substituir as polícias
Comandante militar do Sul teme que medida faça população confundir missão das Forças Armadas
Humberto Trezzi | humberto.trezzi@zerohora.com.br
À espera de sanção presidencial, a lei que autoriza as Forças Armadas a realizarem prisões nas fronteiras levou uma inquietação ao Comando Militar do Sul. Comandante da unidade, o general Túlio Cherem, 60 anos, teme que a população confunda a missão do Exército – a defesa do país contra inimigos externos – com a ação das polícias – a segurança interna. Mas admite que os militares farão detenções.
– O projeto nos dá segurança jurídica para realizar prisões e apreensões, algo que não tínhamos antes – analisa o general, que chefia 50 mil militares vinculados ao Comando Militar do Sul (CMS), unidade que engloba as tropas do Exército nos três Estados sulinos.
Cherem acredita que as mudanças são mais jurídicas do que práticas, mas promete: que ninguém se atreva a atacar quartéis, como já aconteceu no eixo Rio-São Paulo. O Exército irá atrás para recuperar o que é seu, adverte.
Ele admite também que reforço de contingente e armamento são esperanças das Forças Armadas, com essa nova missão recebida, de ampliar guarnição nas fronteiras. Para o Sul estão chegando blindados, devem ser comprados novos fuzis e, na parte da Força Aérea, Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), especiais para vigilância eletrônica.
O projeto que concede poder de polícia às Forças Armadas foi aprovado esta semana no Senado. Como a proposta partiu do governo federal, a sanção pelo presidente Lula é dada como certa.
"Nosso inimigo é externo. Está na Constituição"
Na manhã de ontem, o militar mais graduado em atuação no Sul do Brasil, Túlio Cherem – catarinense de Tijucas, general do Exército, da arma de artilharia – recebeu Zero Hora na sede do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre. Ele fez questão de que as fotos fossem feitas sob o retrato de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, Patrono do Exército. Austero, evitou polêmica:
Zero Hora – O que muda com o projeto que acaba de ser aprovado?
General Túlio Cherem – Pouca coisa. Na prática, já fazíamos operações de vistorias na fronteira, sobretudo contra o contrabando. Na hora de prender, chamávamos policiais. As Forças Armadas e as polícias continuarão atuando de forma conjunta. A diferença é que, em eventuais operações isoladas, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica já dispõem de um mecanismo legal que lhes permite fazer ações típicas de polícia, principalmente contra contrabando e tráfico de drogas. Sem constrangimentos legais.
ZH – A população deseja mais engajamento das Forças Armadas contra o crime.
Cherem – Sabemos disso, mas nosso inimigo é o externo. Está na Constituição. Podemos ajudar internamente, quando solicitados, mas para isso já existem as polícias, que cumprem bem o seu papel.
ZH – O Exército seguidas vezes ocupou favelas no Rio, sobretudo após roubos de armas nos quartéis. Se acontecer algo do gênero no Sul, o senhor autoriza ações do Exército nas cidades?
Cherem – Não tenha dúvida. Ninguém pode roubar nosso armamento e ficar impune. Iríamos atrás. Mas, felizmente, isso não tem ocorrido no Sul. Somos muito bem vistos pela população daqui, até por razões históricas. Os gaúchos e sulinos em geral sempre tiveram grande presença nas Forças Armadas.
ZH – Qual a contrapartida que o Exército vai exigir para fazer o policiamento na fronteira? Equipamentos?
Cherem – Faremos o que nos for solicitado. Mas é óbvio que temos uma Estratégia Nacional de Defesa que demanda mais equipamentos. Na Amazônia, há promessa de 28 novos pelotões de fronteira. No Sul a prioridade são blindados, chegarão 220 carros de combate Leopard até 2011. Teremos também fuzis mais modernos. Sabemos que a Aeronáutica terá Veículos Aéreos Não Tripulados. Tudo para melhor vigiar.

O projeto
- Integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica poderão fazer patrulhamento, revistar pessoas, veículos, embarcações e aeronaves, assim como fazer prisões em flagrante sempre que não houver policiais presentes
- O texto do projeto não estabelece a área de patrulha de fronteira. A Constituição, porém, diz que a área de fronteira terrestre equivale a uma faixa de 150 quilômetros de largura
ZERO HORA

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