3 de dezembro de 2012

Restauro da imagem de Santa Bárbara foi feita por profissionais gabaritados, diz Exército. Fala sério!

Exército afirma que restauro de imagem de Santa Bárbara foi feito por profissionais gabaritados
Segundo porta-voz, peça - que fica no Forte de Santa Cruz - está hoje como quando foi esculpida, no século XIX

CAROLINA OLIVEIRA CASTRO
CARLA ROCHA

A imagem de Santa Bárbara, do século XIX, na Fortaleza de Santa Cruz, antes, em 2002, e agora, em ângulos diferentes
Foto: Milton Teixeira / Divulgação
A imagem de Santa Bárbara, do século XIX, na Fortaleza de
Santa Cruz, antes, em 2002, e agora, em ângulos diferentes 
Milton Teixeira / Divulgação
RIO — A “plástica” que transformou uma imagem de Santa Bárbara do início do século XIX numa peça com aspecto de nova está no centro de uma polêmica. O trabalho de restauração da estátua, que fica no altar principal da capela da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Jurujuba, Niterói, foi feito por uma equipe de preservação e conservação do Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana. O resultado foi considerado malfeito e classificado até de “grotesco”. O Exército, no entanto, rebate as críticas.
— Os procedimentos de identificação histórica e higienização foram feitos. Quando chegou na decapagem (que possibilita saber quantas camadas de tinta tem obra), percebeu-se várias camadas de tinta. Como é padrão, optou-se por manter a pintura original — explicou o Major Migon, porta-voz da Fortaleza de Santa Cruz da Barra.
Uma dupla exposição de fotos, mostrada nesta terça-feira na coluna Gente Boa, do GLOBO, revela as mudanças acentuadas em linhas e cores. E aí reside a primeira crítica: restaurar uma peça, dizem os especialistas, é restabelecer a forma original, e não torná-la nova.
— O que se vê é algo grotesco. Mais parece uma imagem de gesso contemporânea. Em nada se parece com o que se fazia naquela época, no início do século XIX. Era um período pós-barroco, em que os artistas buscavam uma aproximação das imagens religiosas da figura humana, através de uma técnica chamada de encarnação — diz o professor de história da arte e especialista em arte barroca Elmer Corrêa Barbosa, que lecionou durante 40 anos na PUC. — Usava-se, por exemplo, uma camada de gesso sobre a madeira, buscando a textura e a tonalidade da pele verdadeira, e contas de vidro nos olhos. Era uma busca pelo realismo. Dizia-se que a peça era “esculpida e encarnada”, de onde veio inclusive uma expressão muito conhecida até os dias de hoje.

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A Santa Bárbara modificada tem 1,73 metro e é feita em madeira. O Exército, que não identificou os restauradores, diz que a imagem foi recuperada para a festa do Dia de Santa Bárbara, em 4 de dezembro de 2011. Mas as modificações só se tornaram conhecidas graças ao historiador Milton Teixeira.
— É uma obra lindíssima, que conheço há 20 anos e deve datar de 1810. Estava em bom estado. Isso o que fizeram foi um crime. Descaracterizaram uma peça histórica que, no máximo, precisava de uma limpeza — disse.
O acervo do Forte de Santa Cruz da Barra, que inclui estátuas, canhões e obras de arte, não é tombado. O tombamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), feito em 1993, abrange apenas a edificação, uma das mais antigas do Rio, que data do final do século XVI.
Segundo a restauradora Cláudia Nunes, antes de se restaurar uma obra, o procedimento padrão é limpá-la, fotografá-la e mapear os danos. Em caso de danos mais graves, como lascas e descascados, faz-se a intervenção.
— A gente sempre tenta manter as características mais antigas da obra. Com a ajuda da tecnologia, tenta-se ver se é possível restaurar o que está por baixo. Restauração é uma ciência. Não é qualquer pessoa habilidosa e que entenda de tinta que pode se aventurar a fazer — disse Cláudia Nunes.
Crítico e historiador de arte, Carlos Roberto Maciel Levy — que recentemente apontou erros graves no trabalho feito no quadro “A primeira missa no Brasil”, de Victor Meirelles, do Museu Nacional de Belas Artes — alerta para a falta de controle sobre o trabalho de restauração no Brasil:
— O grande problema é o anonimato. Estamos falando em patrimônio. O anonimato é incompreensível e inconcebível. Além disso, os órgãos, embora existam, não têm qualquer controle.
Em setembro, a restauração desastrosa de uma octogenária na obra “Ecce Homo”, de Elias Garcia Martinez, em Borja, na Espanha, ganhou o mundo e se transformou em viral na internet.
O Globo/montedo.com

Comento:
Profissionais gabaritados uma ova! A imagem ficou igualzinha a essas que se compram em qualquer beira de estrada. Fala sério!

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