Contratos militares entre Brasil e Israel chegam a quase R$ 1 bilhão, revelam documentos
Patrícia Dichtchekenian | São Paulo
Deputado Ivan Valente (PSOL) solicitou dados sobre acordo bilateral ao Ministério da Defesa, que mostra consórcio com Elbit, empresa acusada de atividades ilegais em área palestina
Documentos disponibilizados pelo Ministério da Defesa após requerimento de informações do deputado federal Ivan Valente (PSOL), sobre as atuais relações do Brasil com Israel e suas empresas militares, revelam que os contratos bilaterais chegam a quase R$ 1 bilhão. Opera Mundi teve acesso a esses documentos, que confirmam o fluxo comercial com empresas israelenses, embora as autoridades brasileiras neguem que exista uma cooperação militar de fato em vigor com Israel. O material foi solicitado à época da operação “Margem Protetora”, ofensiva contra o grupo islâmico Hamas na Faixa de Gaza que resultou na morte de mais de 2 mil palestinos e 70 israelenses, durante cerca de 50 dias de conflito.
“Nós estamos atrás dessa documentação há muito tempo e sabíamos que o Brasil tinha relações com indústrias israelenses. Há contratos que não estão muito esclarecidos, o que exigirá novos requerimentos”, explica Valente em entrevista por telefone a Opera Mundi. “Estamos comercializando com a máquina de guerra de Israel. É importante termos acesso a essas informações oficiais. A própria divulgação desses documentos vai gerar uma cobrança mais direta dos rompimentos de contratos militares. É um instrumento de pressão para que a diplomacia brasileira trabalhe com mais altivez”, acrescenta.
Segundo o Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, José Carlos de Nardi, a proposta de um acordo de cooperação militar entre Brasil e Israel foi apresentada ao Ministério da Defesa do Brasil, em agosto de 2007, por iniciativa do Ministério da Defesa de Israel. Em meio a negociações, aguarda-se uma contraproposta israelense, de modo que tal cooperação não está em vigor.
No entanto, o Ministério da Defesa divulga diversos contratos com empresas israelenses. De acordo com a assessoria do gabinete do comandante da Marinha brasileira, não há acordo de cooperação militar com Israel, mas existem contratos com quatro empresas: Israel Military Industries (IMI), que proporciona modernização de 30 viaturas, no valor superior a US$ 15 milhões; Hagor Industries Ltda., que fornece materiais como placas e coletes balísticos, no valor superior a US$ 1 milhão; Achidatex Nazareth Elite Ltda., que provém coletes balísticos, no valor superior a US$ 242 mil; e Israel Aerospace Industries (IAI), que realiza reparo e revisão dos motores de aeronaves no valor de US$ 1,8 milhão.
Já segundo o general do Exército Enzo Martins Peri, existem outros 13 contratos que foram firmados entre 2012 e 2014 para o fornecimento de materiais bélicos como metralhadoras, morteiros e canhões, entre outros utensílios para armamentos. Entre as empresas, destaca-se um contrato no valor de US$ 13,5 milhões com a isralense Elbit Systems Ltda.
Principal corporação bélica israelense, a Elbit foi denunciada por sua colaboração na construção do muro que segrega os territórios palestinos, além de ser responsável por fornecer equipamentos de segurança para colônias judaicas consideradas ilegais pelas ONU (Organização das Nações Unidas). Estima-se que a empresa fature US$ 2 milhões ao dia com os contratos que detêm nessas atividades.
A gravidade das denúncias contra essa companhia já provocou reação de países europeus, incomodados com o desrespeito às resoluções internacionais. O governo norueguês, por exemplo, obrigou seus fundos públicos a venderem todas as ações da Elbit que tinham em carteira. Processos semelhantes estão em curso na Alemanha e na Holanda.
Os documentos divulgados pelo Ministério da Defesa ainda atestam um contrato de R$ 839 milhões proveniente de um consórcio formado por duas empresas brasileiras (Savis e Bradar), pertencentes à Embraer Defesa e Segurança, e pela Elbit Systems.
Em Israel, despesas com as forças armadas representam cerca de 30% do orçamento nacionalMikhail Frunze/Opera Mundi |
No ano passado, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, já havia informado que a Elbit era sócia da Embraer em uma empresa de capital misto, que está renovando tecnologia dos aviões Bandeirantes, utilizados pela Força Aérea Brasileira. “Nosso estado tem o dever de estabelecer relações com quaisquer empresas em função de seu projeto regional de desenvolvimento”, justificou a Opera Mundi após assinar compromisso com a empresa.
Em Israel, as despesas com Forças Armadas representam cerca de 30% do orçamento nacional, o que acaba sobrecarregando as importações e provocando saldos negativos na balança comercial. Mesmo com os EUA arcando, a fundo perdido, com 20% dos gastos em segurança (aproximadamente US$ 3,5 bilhões anuais), Israel só sai do vermelho atraindo novos capitais.
Opera Mundi/montedo.com