(barco Comandante Sales, naufragado em maio de 2008 em Manacapuru(AM): 48 mortos)
Imagem: O Globo
Imagem: O Globo
Ricardo Montedo
Leio na coluna do sempre bem informado Cláudio Humberto que a Marinha do Brasil vai lançar a Operação "Tolerância Zero", para fiscalizar as pequenas embarcações que navegam no Lago Paranoá, em Brasília. A medida é decorrência do naufrágio de uma lancha supeerlotada no dia 22, onde morreram duas irmãs, que não usavam colete salva-vidas.
Não tenho nada contra a operação em si, pelo contrário, considero-a extremamente adequada. Porém, esse foi o primeiro acidente grave de que se ouviu falar no Paranoá ao longo de muitas décadas.
Agora, fala sério: o que a Marinha está fazendo em relação aos barcos que navegam nos rios da Amazônia, com muita razão chamados de gaiolas, e que vitimam dezenas de pessoas a cada ano? Quantas mortes precisarão ocorrer com as embarcações que cruzam o Solimões, o Purus, o Negro, com cidadãos brasileiros amontoados e dividindo espaço com cabras, galinhas, butijões de gás e toda sorte de tarecos, em condições subumanas, para que a "Tolerância Zero" chegue por lá?
Os Almirantes, pautados pela mídia, agem como os governantes e adotam medidas casuísticas, varrendo a periclitante realidade do transporte fluvial na Amazônia para debaixo do tapete. Isso, até o dia em quem algum figurão afunde no Madeirão, em um barco com meia dúzia de coletes salva-vidas, todos com validade vencida. Aí, a coisa muda de figura. Até lá, oremos pelos irmãos do Norte.