Frederico Aguiar, Presidente da Abimde. Empresas brasileiras têm hoje uma participação de apenas 0,1% do mercado mundial de defesa, que chega a US$ 1,5 trilhão.
O negócio de equipamentos militares, sistemas, armas e serviços, ganha mais fôlego no Brasil. Na mesma semana em que os grupos Odebrecht, do Brasil, e EADS Defence & Security, da Alemanha, anunciaram em Munique a criação de uma joint venture com sede em São Paulo, para atuar no setor, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, declarou que "a participação intensa da base industrial é vital para a consolidação da Estratégia Nacional de Defesa". Frederico Aguiar, 39 anos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Defesa, a Abimde, concorda e avalia que o pacote de grandes programas de reaparelhamento das Forças Armadas "pode alcançar qualquer coisa entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões em contratos" ao longo de 30 anos. É um programa e tanto, no qual Aguiar quer ver as empresas nacionais como protagonistas principais.
Para isso, ele considera necessária "uma atuação mais determinada do governo", por exemplo, no processo de participação por meio de compensações, o "off set" financeiro exigido de fornecedores estrangeiros. "O ideal, em um futuro próximo, é que as empresas e indústrias de interesse estratégico para o País, em sintonia com a Estratégia Nacional de Defesa, sejam as principais contratadas pelo governo para a gestão e o desenvolvimento dos projetos de Defesa", afirma. Preparando a participação brasileira na seleta mostra especializada Eurosatory, em Paris, entre os dias 14 e 18, Frederico falou ao Estado:
Qual é o tamanho do mercado internacional de material de defesa?
Em 2008, os gastos militares mundiais alcançaram a marca de US$ 1,5 trilhão, seguindo um aumento contínuo desde o final da década de 90, impulsionado por conflitos regionais, ameaça terrorista, a busca por acesso a recursos naturais e fontes de energia.
A indústria brasileira tem participação efetiva nesse mercado?
O último censo realizado pela Abimde, também em 2008, mostrou que as 20 principais empresas da nossa Base Industrial de Defesa, a BID, exportaram R$ 2,7 bilhões, algo em torno de US$ 1,5 bilhão, ou seja, temos uma fatia no mercado internacional de cerca de 0,1%.
Essa participação pode crescer?
Se as decisões tomadas pelo governo e expressas na Estratégia Nacional de Defesa forem totalmente implementadas até 2011, estimamos que possamos alcançar até 2020 a marca de 1% de participação no mercado mundial de defesa e segurança, ou seja, podemos crescer dez vezes. Insisto: os dispositivos são suficientes, sim, para alavancar a Base Industrial de Defesa - mas desde que sejam implementados imediatamente. Existem no País acima de 300 empresas classificadas no Ministério da Defesa e cerca de outras 700 que atuam indiretamente gerando, no total, 70 mil empregos diretos e indiretos.
A política nacional do setor é coerente?
Considerando a pretensão do Brasil de ser um player mundial com posição de destaque no Conselho de Segurança da ONU, comparado aos demais países do Bric (Rússia, Índia e China), entendo que há disposição política para que haja um grande avanço no campo da indústria de defesa.
O Estado brasileiro sustenta o esforço da indústria de defesa?
Para se ter uma indústria de defesa forte, em qualquer país, é imprescindível a atuação do Estado. Um enorme passo no Brasil foi dado com a criação da Estratégia Nacional de Defesa, END, que é um documento de Estado de longo prazo; diretrizes e prioridades para a defesa, entre outros, a transferência de tecnologia e domínio completo de nossos sistemas de defesa. Na prática, isso significa a adequação fiscal e tributária, política de desenvolvimento tecnológico, estímulos à inovação tecnológica, legislação sobre salvaguardas e responsabilidades civis na guarda de informações sensíveis; orçamento impositivo, aquele protegido de cortes ou do contingenciamento, para programas de alto conteúdo tecnológico, com garantias de disponibilidade orçamentária.
O Estado de São Paulo