Frederico Aguiar, Presidente da Abimde. Empresas brasileiras têm hoje uma participação de apenas 0,1% do mercado mundial de defesa, que chega a US$ 1,5 trilhão.

Para isso, ele considera necessária "uma atuação mais determinada do governo", por exemplo, no processo de participação por meio de compensações, o "off set" financeiro exigido de fornecedores estrangeiros. "O ideal, em um futuro próximo, é que as empresas e indústrias de interesse estratégico para o País, em sintonia com a Estratégia Nacional de Defesa, sejam as principais contratadas pelo governo para a gestão e o desenvolvimento dos projetos de Defesa", afirma. Preparando a participação brasileira na seleta mostra especializada Eurosatory, em Paris, entre os dias 14 e 18, Frederico falou ao Estado:
Qual é o tamanho do mercado internacional de material de defesa?
Em 2008, os gastos militares mundiais alcançaram a marca de US$ 1,5 trilhão, seguindo um aumento contínuo desde o final da década de 90, impulsionado por conflitos regionais, ameaça terrorista, a busca por acesso a recursos naturais e fontes de energia.
A indústria brasileira tem participação efetiva nesse mercado?
O último censo realizado pela Abimde, também em 2008, mostrou que as 20 principais empresas da nossa Base Industrial de Defesa, a BID, exportaram R$ 2,7 bilhões, algo em torno de US$ 1,5 bilhão, ou seja, temos uma fatia no mercado internacional de cerca de 0,1%.
Essa participação pode crescer?
Se as decisões tomadas pelo governo e expressas na Estratégia Nacional de Defesa forem totalmente implementadas até 2011, estimamos que possamos alcançar até 2020 a marca de 1% de participação no mercado mundial de defesa e segurança, ou seja, podemos crescer dez vezes. Insisto: os dispositivos são suficientes, sim, para alavancar a Base Industrial de Defesa - mas desde que sejam implementados imediatamente. Existem no País acima de 300 empresas classificadas no Ministério da Defesa e cerca de outras 700 que atuam indiretamente gerando, no total, 70 mil empregos diretos e indiretos.
A política nacional do setor é coerente?
Considerando a pretensão do Brasil de ser um player mundial com posição de destaque no Conselho de Segurança da ONU, comparado aos demais países do Bric (Rússia, Índia e China), entendo que há disposição política para que haja um grande avanço no campo da indústria de defesa.
O Estado brasileiro sustenta o esforço da indústria de defesa?
Para se ter uma indústria de defesa forte, em qualquer país, é imprescindível a atuação do Estado. Um enorme passo no Brasil foi dado com a criação da Estratégia Nacional de Defesa, END, que é um documento de Estado de longo prazo; diretrizes e prioridades para a defesa, entre outros, a transferência de tecnologia e domínio completo de nossos sistemas de defesa. Na prática, isso significa a adequação fiscal e tributária, política de desenvolvimento tecnológico, estímulos à inovação tecnológica, legislação sobre salvaguardas e responsabilidades civis na guarda de informações sensíveis; orçamento impositivo, aquele protegido de cortes ou do contingenciamento, para programas de alto conteúdo tecnológico, com garantias de disponibilidade orçamentária.
O Estado de São Paulo