Guerrilha tem presença em seis cidades do AM
Guerrilheiros colombianos são proibidos de entrar em confronto com Exército e polícia do Brasil e não podem construir acampamentos no País
Ruth Costas - O Estado de S.Paulo
Quatro frentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) atuam de forma coordenada na região da fronteira com o Brasil: a Frente 1, à qual pertencia a base descoberta pela Polícia Federal (PF) em maio, a Frente 16, de Carlos, o guerrilheiro entrevistado pelo "Estado", além da Frente 44 e 39.
A guerrilha teria presença em pelo menos cinco cidades, além de Manaus, de acordo com Carlos: São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, Tabatinga, Cucuí e Tefé, onde a PF encontrou uma estrutura das Farc para comunicar-se com Manaus. "De vez em quando, passávamos a droga até Boa Vista (RR) de carro. Lá o preço era muito melhor", diz Carlos. Os municípios serviriam de passagem e, algumas vezes, de pontos de venda da droga.
A cocaína entraria no Brasil por duas rotas principais, quase naturais, dado a geografia da fronteira. A primeira, pelo Rio Solimões, foi revelada pela PF na semana passada: a droga entraria por Benjamin Constant ou Tabatinga e iria até Tefé rumo a Manaus. A segunda seria pelo Rio Negro: passaria por Cucuí e São Gabriel da Cachoeira, antes de seguir para Manaus. As armas fariam o caminho inverso, escondidas em caixas simples. Viagens à noite seriam as preferidas.
De fato, em 5 de abril de 2006, soldados brasileiros do 4.º Pelotão Especial de Fronteira, em Cucuí, interceptaram três colombianos em uma lancha com fuzis que tinham o emblema do Exército Brasileiro, munição brasileira e R$ 700 mil em várias moedas.
Justo Alexander Ramos, William Norbey e Wilver Yeison Villanueva iam para San Felipe, na Colômbia, onde trocariam a munição por cocaína e, no tiroteio, o último foi morto. Interrogados, os dois colombianos negaram que fossem das Farc.
Só na cidade de São Gabriel da Cachoeira a PF já chegou a apreender 12 mil caixas com munição da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). Na época, uma investigação da PF e da CPI do tráfico, na Câmara dos Deputados, já indicava que traficantes brasileiros estariam trocando armas desviadas de quartéis do Exército por cocaína.
"Preferimos fazer negócios com grandes organizações (do tráfico) brasileiras para correr menos risco", diz Carlos. "Apesar de Fernandinho Beira-Mar agora estar preso, seus colegas continuam (a negociar com a guerrilha)." Segundo o ex-guerrilheiro, a ordem é evitar o embate com qualquer agente de segurança do Brasil. Os guerrilheiros também são proibidos de fazer acampamentos em território brasileiro. "Isso pode atrapalhar os negócios, que são bons", diz. "Quem arranja confusão com o Exército ou com a polícia brasileira, em geral, é submetido a um julgamento pela guerrilha. E pode acabar morto."
PARA ENTENDER
Guerrilheiros colombianos são proibidos de entrar em confronto com Exército e polícia do Brasil e não podem construir acampamentos no País
Ruth Costas - O Estado de S.Paulo
Quatro frentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) atuam de forma coordenada na região da fronteira com o Brasil: a Frente 1, à qual pertencia a base descoberta pela Polícia Federal (PF) em maio, a Frente 16, de Carlos, o guerrilheiro entrevistado pelo "Estado", além da Frente 44 e 39.
A guerrilha teria presença em pelo menos cinco cidades, além de Manaus, de acordo com Carlos: São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, Tabatinga, Cucuí e Tefé, onde a PF encontrou uma estrutura das Farc para comunicar-se com Manaus. "De vez em quando, passávamos a droga até Boa Vista (RR) de carro. Lá o preço era muito melhor", diz Carlos. Os municípios serviriam de passagem e, algumas vezes, de pontos de venda da droga.
A cocaína entraria no Brasil por duas rotas principais, quase naturais, dado a geografia da fronteira. A primeira, pelo Rio Solimões, foi revelada pela PF na semana passada: a droga entraria por Benjamin Constant ou Tabatinga e iria até Tefé rumo a Manaus. A segunda seria pelo Rio Negro: passaria por Cucuí e São Gabriel da Cachoeira, antes de seguir para Manaus. As armas fariam o caminho inverso, escondidas em caixas simples. Viagens à noite seriam as preferidas.
De fato, em 5 de abril de 2006, soldados brasileiros do 4.º Pelotão Especial de Fronteira, em Cucuí, interceptaram três colombianos em uma lancha com fuzis que tinham o emblema do Exército Brasileiro, munição brasileira e R$ 700 mil em várias moedas.
Justo Alexander Ramos, William Norbey e Wilver Yeison Villanueva iam para San Felipe, na Colômbia, onde trocariam a munição por cocaína e, no tiroteio, o último foi morto. Interrogados, os dois colombianos negaram que fossem das Farc.
Só na cidade de São Gabriel da Cachoeira a PF já chegou a apreender 12 mil caixas com munição da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). Na época, uma investigação da PF e da CPI do tráfico, na Câmara dos Deputados, já indicava que traficantes brasileiros estariam trocando armas desviadas de quartéis do Exército por cocaína.
"Preferimos fazer negócios com grandes organizações (do tráfico) brasileiras para correr menos risco", diz Carlos. "Apesar de Fernandinho Beira-Mar agora estar preso, seus colegas continuam (a negociar com a guerrilha)." Segundo o ex-guerrilheiro, a ordem é evitar o embate com qualquer agente de segurança do Brasil. Os guerrilheiros também são proibidos de fazer acampamentos em território brasileiro. "Isso pode atrapalhar os negócios, que são bons", diz. "Quem arranja confusão com o Exército ou com a polícia brasileira, em geral, é submetido a um julgamento pela guerrilha. E pode acabar morto."
PARA ENTENDER
Fundada em 1964, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), são a maior e mais antiga guerrilha de esquerda do continente. O grupo, de inspiração marxista, atua em mais de 100 frentes em 31 dos 32 Departamentos (Estados) do país. O narcotráfico e o sequestro transformaram-se numa fonte valiosa de recursos. O grupo ainda tenta negociar um acordo humanitário com a libertação de 22 reféns militares em troca de 500 guerrilheiros presos.