Hervé ASQUIN
Eles não chegaram a ouvir a convocação do general Charles de Gaulle à resistência - e não precisaram. No dia 18 de junho de 1940, no momento em que o general pronunciava seu discurso no microfone da BBC, eles embarcavam nos portos da Bretanha e chegavam à costa inglesa.
Setenta anos depois de terem viajado para dar continuidade ao combate, após o marechal Pétain assinar o armistício com os alemães, eles retornaram a Londres a tempo de presenciar as comoventes cerimônias no Hospital Real de Chelsea, o 'Invalides' inglês.
Cento e cinquenta veteranos franceses, entre eles alguns Companheiros da Libertação, ordem criada pelo general para recompensar os membros mais valiosos, viajaram de Paris até Londres em um Eurostar (trem de alta velocidade) especial, decorado com as cores da França Livre e da Resistência e com os retratos de Gaulle, Jean Moulin, general Leclerc, Berty Albrecht e Félix Eboué.
Os veteranos, curvados, de cabelos brancos e bengalas, ainda têm fresco, na memória, o carisma de Gaulle.
Por que você fugiu da França ocupada? Claude Rosa, 90 anos, encolhe os ombros. "Visceral, você sabe o que isso significa? Automático, evidente, os alemães estavam lá, tínhamos que fazer alguma coisa, dane-se tudo", irritou-se.
Ao mesmo tempo, uma formação rasgava o céu de Londres: um Spitfire, o caça emblemático da Força Aérea Real, cercado pelos sucessores, um Rafale francês e um Typhoon inglês. Muito simbólico.
No palco, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro britânico David Cameron celebravam a amizade das duas nações. O coro do exército francês cantava "Le Chant des Partisans", os guardas reais e republicanos uniformizados apresentavam as armas...
Os veteranos cultivavam outra nostalgia, sobre o jovem e heróico general.
André Quélen se lembra da "figura imponente", a "autoridade" e seu carisma. "Quando ele falava, não escutávamos outra coisa". No dia 18 de junho de 1940, ele embarcada em Conquet com um camarada motivado por um "sentimento patriótico", retornando à França somente em 1944.
Com uma história parecida, o almirante Emile Chaline tinha apenas 18 anos quando seu pai lhe disse: "vá para a Inglaterra e cumpra o seu dever". Pertencente as Forças Navais francesas livres, ele vestia seu uniforme com quatro estrelas de vice-almirante da esquadra, como insígnias de grande oficiais da Legião de Honra. "Mas a minha mais bela condecoração, é a insígnia da França Livre", um modesto losango com a cruz de Lorraine.