A história dos Jogos Militares Mundiais
Leonardo Filipo*
Os Jogos Mundiais Militares foram criados pelo CISM, o Conselho Internacional de Esportes Militares. Desde 1948, a entidade, uma espécie de Comitê Olímpico Internacional das Forças Armadas, organiza competições isoladas de esportes. A ideia de uma “Olimpíada militar” surgiu somente em 1995 para comemorar o 50º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Desde então são disputados de quatro em quatro anos, sempre no ano anterior aos Jogos Olímpicos.
O Rio de Janeiro foi escolhido como sede da quinta edição em 2007, na Assembleia do CISM, que reúne 133 países. A disputa do Brasil foi com a Turquia. A sede dos Jogos de 2015 foi apontada este ano: a candidata única Mungyeong, na Coréia do Sul. Também são disputados os Jogos Mundiais Militares de Inverno: a primeira edição foi realizada em 2010, no Vale de Aosta, na Itália. A próximo será em 2013, em Annecy, na França.
No esporte militar, quem manda é a Rússia, que alegou falta de verba para não vir ao Rio. Melhor para a China, que nas duas últimas edições dos Jogos vinha se aproximando dos russos na disputa pelo primeiro lugar do quadro de medalhas. Países do Leste Europeu, com passado comunista, costumam ter bons resultados. Os Estados Unidos, mais atentos ao esporte universitário, têm desempenho discreto.
O Brasil é ainda mais tímido. Este ano, porém, seguiu os passos de França e Itália e cooptou uma legião de atletas olímpicos. Nas palavras do almirante Gamboa, presidente da CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil), “nós não vamos organizar os Jogos Militares para por medalha no pescoço dos estrangeiros”. Sem a Rússia, a promessa feita por Gamboa – de que o Brasil ficará entre os três primeiros – tornou-se ainda mais possível.
Sob as bênçãos do Papa
Roma abrigou a primeira edição dos Jogos Mundiais Militares. A cerimônia de abertura foi realizada no Estádio Olímpico e os 4 mil atletas de 93 países receberam as bênçãos do Papa João Paulo II. Entre os atletas mais conhecidos estavam o fundista e maratonista queniano Paul Tergat, que foi prata nos 5.000m, e um jovem chamado Alessandro Del Piero. Naquela época, o craque do futebol italiano havia se alistado no Exército. Sua presença, no entanto, não impediu que a Azzurra caísse nas quartas-de-final. A França foi a campeã.
O basquete teve uma final digna de Guerra Fria: Rússia x Estados Unidos, com vitória fácil dos russos por 113 a 72. No quadro de medalhas, domínio amplo dos ex-soviéticos, com 62 ouros, contra 22 da Itália e 11 da China.
Os Jogos seguintes foram disputados em 1999, na cidade croata de Zagreb. Sete anos antes o país havia sido declarado independente da antiga Iugoslávia após uma batalha sangrenta contra os sérvios. Na final do basquete, para delírio da torcida anfitriã, a Croácia de Kovacic bateu os Estados Unidos por 101 a 76.
Foi em terras croatas que o Egito começou o seu domínio no futebol militar ao vencer a final contra a Grécia. Após empate em 3 a 3, vitória por 8 a 7 nos pênaltis. O Brasil disputou o pentatlo militar com dois campeões mundiais na equipe: o tenente Bandeira, com quatro títulos, e o sargento Carlos Alberto Silva, duas vezes campeão. Mas sucumbiu diante da potência chinesa. No quadro de medalhas, mais uma vez deu Rússia (46 ouros), seguida da China (29) e da Itália (16).
Rússia x China
Madri seria a sede dos terceiros Jogos de 2003, mas a capital espanhola desistiu, e a competição voltou a ser realizada na Itália. Coube à Catânia abrigar o evento aos pés do vulcão Etna. Atletas de 87 países, cinco a mais do que a edição anterior, foram à Sicília (foto acima). A esgrimista italiana Valentina Vezzali, tetracampeã olímpica no florete, conquistou o segundo ouro nos Jogos. Na final do futebol, o favorito Egito foi derrotado pela Coreia do Norte, que eliminara a Itália na semifinal. O Brasil fez dobradinha nos 100m do atletismo, com Bruno Pacheco e Rafael Araújo, ouro e prata, respectivamente. Com 33 ouros, a Rússia por pouco não foi superada pela China, que dominou a natação e saiu da Itália com 31 medalhas douradas. O hino anfitrião tocou 25 vezes.
Em 2007, os Jogos Mundiais Militares saíram da Europa pela primeira vez e desembarcaram na Índia, na cidade de Hyderabad. Foram quase 5.000 atletas de 101 países. A mascote da competição era um bisão chamado “Bravo”. O Egito venceu Camarões na final do futebol masculino. No vôlei, deu China no masculino e no feminino. O judoca grego Ilias Iliadis, campeão olímpico em 2004, levou o ouro na categoria até 90kg e estará no Rio defendendo o seu título. Mais uma vez Rússia e China travaram um duelo pela primeira posição no quadro de medalhas. E novamente os russos terminaram no topo, com 42 ouros contra 38 dos asiáticos.
O desempenho do Brasil nos Jogos
Nas quatro primeiras edições, os atletas militares brasileiros conquistaram duas medalhas de ouro,
11 de prata e sete de bronze – 20 no total. O melhor desempenho foi a 15ª colocação nos Jogos de
Catânia, em 2003. Com oito pódios, o judô é o esporte que mais deu medalhas ao país nos Jogos Mundiais
Militares. Com alguns nomes que estão até hoje nos tatames, como João Gabriel Schlittler e Daniel Hernandez, que disputaram a final do Grand Slam do Rio, em junho – vitória de Schlitler. Ou de Hugo Peçanha, que volta a participar da competição neste ano.
Medalhas do Brasil nos Jogos Mundiais Militares
Roma (1995)
1 prata – equipe de pentatlo militar
2 bronzes – Gleyson Alves (judô, até 60kg) e Alexander Guedes (judô, até 78kg)
Colocação no quadro de medalhas – 37º
Zagreb (1999)
1 ouro – Alexander Guedes (judô, até 81kg)
4 pratas – Godoy de Oliveira (atletismo, 800m), Carlos Alberto Silva (pentatlo militar individual), equipe de pentatlo militar e revezamento do pentatlo militar
3 bronzes – Fulvio Myata (judô, até 60kg), Sebastian Pereira (judô, até 73kg) e Ribamar Bandeira (pentatlo militar individual)
Colocação no quadro de medalhas – 22º
Catânia (2003)
1 ouro – Bruno Pacheco (atletismo, 100m)
4 pratas – Bruno Pacheco (atletismo, 200m), Rafael Araújo (atletismo, 100m), Sérgio Santos (atletismo,
110m com barreiras), Daniel Hernandez (judô, acima de 100kg),
1 bronze – Rafael Oliveira (natação, 50m costas)
Colocação no quadro de medalhas – 15º
Hyderabad (2007)
2 pratas – Thiago Sales de Jesus (atletismo, 400m com barreiras) e João Gabriel Schlitler (judô, mais de 100kg)
1 bronze – Hugo Peçanha (judô, até 90kg)
Colocação no quadro de medalhas – 33º
* Jornalista, editor do SporTV
MEMÓRIA E.C. (Marcelo Monteiro) - Globo Eporte
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