Após passar fome na infância, fuzileiro Alex Sandro Barreto entra para a Marinha, participa de missão de paz e vira referência do esporte militar
SporTV.com Rio de Janeiro
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os militares buscaram no esporte uma alternativa para manterem as tropas em ritmo de combate e apresentaram ao mundo uma modalidade baseada nas atividades cotidianas de marinheiros e de fuzileiros navais. As simulações de conflito se transformaram em provas, como pista de obstáculos, natação de salvamento, natação utilitária, habilidades navais e cross country anfíbio. No último domingo, o "SporTV Repórter" pegou carona no Mundial de Pentatlo Naval para contar a história de Alex Sandro Barreto, 34 anos, o fuzileiro naval que viu a guerra com os próprios olhos e hoje é um dos grandes nomes da história do desporto militar (assista ao vídeo, no primeiro bloco).
Fuzileiro, Alex Sandro Barreto participou da missão de paz da ONU no Haiti (Foto: SporTV.com) |
Neste ano, o evento ocorreu no Brasil, pela quarta vez na história. Entre os dias 12 e 15 de julho, o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), no Rio de Janeiro, recebeu militares de 12 países para por aprova o que sabem. Homens e mulheres, que, em muito casos, viveram guerras de verdade e sabem bem o que vale cada gota de suor. Em 2004, já com quatro anos de fuzileiro naval, Alex Sandro enfrentou o maior desafio da carreira: integrou a primeira tropa brasileira em missão da ONU, no Haiti, que estava praticamente em guerra civil após a saída do poder do presidente Jean-Bertrand Aristide.
- Eu dei meu nome, tinha que ser voluntário. Já que era para engrandecer a carreira, eu fui. No início de maio de 2004, a gente chegou no Haiti. Lá, se alguém morresse ou ficasse na rua e se a gente não fosse tirar, o cachorro comia.
A história do fuzileiro Barreto começou na Ilha de Marajó, no Pará, onde desde os noves anos começou a trabalhar na roça com o pai, fazendo farinha ou pegando açaí. Na infância, o pequeno Alex passou por muitas privações e necessidades por causa da difícil vida do campo. Mas conseguiu concluir os estudos mesmo com inúmeras adversidades. A carreira de militar era um sonho de criança por influência dos tios, mas que soube realizar, superando pouco a pouco todos os obstáculos que via pela frente. Anos depois, o militar paraense, que um dia havia se confrontado com a fome, foi enviado para ajudar a reforçar a segurança na capital haitiana, Porto Príncipe, e conheceu a miséria absoluta.
- Eles comem uma gordura mistura com um tipo de lama, um barro. Aí, eles põem para secar. Às vezes, é aquilo que os caras comem. Aquilo é um tipo de coisa que você olha e fala: “Isso é impossível!”. Mas não
Nos seis meses que ficou na missão, o fuzileiro e seu companheiros enfrentaram aquela tragédia social de frente. Nenhuma lágrima escorreu de seu rosto, como prefere dizer. De volta ao Brasil naquele mesmo ano, ele entrou para o esporte militar e não parou nunca mais, acumulando participações em Mundiais da categoria. Mas foi agora, em 2013, no 49º Campeonato Mundial de Pentatlo Naval do CISM, que chegou ao alto rendimento. Em “habilidades navais”, onde o competidor simula as rotinas de um marinheiro, Alex Sandro Barreto fez o melhor tempo da história da prova (3 minutos e 17 segundos), que existe há 60 anos. Um feito para a Marinha do Brasil.
- É a sensação de dever cumprido. Consegui fazer o que eu queria.
A sensação de uma vitória no esporte não foi tão diferente da cumprida num campo de batalha. Mas a maior alegria da vida do militar foi chegar em casa depois da missão no Haiti e encontrar pela primeira vez a medalha mais preciosa que já ganhou na vida: Sofia Santana, sua filha. Quando ele partiu para a missão na América Central, a mulher dele estava grávida. No retorno, antes de reencontrá-la no Rio de Janeiro, deu uma passada em sua terra, no Pará, onde ainda vivem alguns parentes e ficou sabendo da surpreendente notícia.
- Eu passei na casa da minha sogra, vi uma foto e perguntei quem era aquela menina. Ele me olhou e falou: “Você não conhece?” Eu: “Não”. Ela: “É sua filha”. Eu fiquei muito feliz. Quando, a vi então... Chegando para me receber na base... Foi uma felicidade imensa ver pela primeira vez um filho que você não viu nascer. Aí que caiu a ficha que eu era pai.
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