Após duas mortes, militares reforçam patrulhamento no Complexo da Maré
As Forças Armadas na Maré (arquivo do blog) |
RIO DE JANEIRO - Após um dia com dois tiroteios em diferentes pontos da comunidade, o Complexo da Maré, na zona norte do Rio, amanheceu nesta terça (4) com um patrulhamento reforçado pelos militares do Exército e da Marinha que integram a Força de Pacificação. Na segunda (3), os confrontos entre militares e traficantes resultaram nas mortes de dois adolescentes, ambos com 17 anos, atingidos por disparos. Em um dos casos, na Vila do João, militares da Força de Pacificação contaram que dois suspeitos atiraram contra a tropa que patrulhava a região. Um deles foi atingido e morreu. De acordo com a polícia, o jovem morto possuía ficha criminal. O outro jovem morto teria sido atingido quando estava sentado em uma cadeira diante de um projeto social no interior da Maré. Diferente de segunda, na manhã desta terça, militares e policiais ocupavam os principais acessos do complexo de 15 favelas. Carros que deixavam ou entravam na comunidade eram parados e os documentos dos motoristas eram pedidos. Nesta terça, as aulas aconteceram normalmente. Na manhã de segunda, 4.010 alunos ficaram sem aulas devido os confrontos entre traficantes e militares.
Nota
O grupo intitulado 'Maré que queremos', que reúne ONGs e 16 associações de moradores, divulgou nota criticando a atuação militar no Complexo:
Por Redes de Desenvolvimento da MaréInstituições questionam “postura bélica” de militares na MaréNota Pública
O movimento “Maré Que Queremos”, que reúne representantes das 16 associações de moradores, a Redes da Maré e outras organizações, lamenta que a ocupação da Maré por forças militares não esteja garantindo, como anunciado, a gradativa criação de condições para que o direito à segurança pública seja assegurado à população local.
Sete meses após a entrada das Forças Armadas, a Maré vive uma rotina de confrontos violentos entre vários grupos armados, dentre esses, os militares. Hoje, novos enfrentamentos resultaram em ao menos um morto e um ferido e deixaram acuados os moradores. Desde sexta-feira, há notícia de que outras três mortes teriam ocorrido na região.
Em abril, em reunião com o “Maré Que Queremos”, o secretario de Segurança José Mariano Beltrame endossou um Protocolo para Ação das Forças de Segurança na Maré. Em um dos pontos, o documento previa que “a intervenção dos agentes de segurança pública deveria priorizar ações de inteligência e de controle do uso de armas e munições para desarticular a presença de redes criminosas armadas”.
Apesar desse compromisso, repetidos conflitos armados, além de práticas hostis de abordagem, tem mantido os moradores da Maré em situação de tensão e medo não muito diferente da que marcava o cotidiano antes da chegada dos militares ao território. Esperamos que as autoridades do setor revejam os procedimentos atuais e de fato cumpram os compromissos assumidos em várias reuniões com as organizações locais, para que de fato a população tenha garantido o seu direito à segurança pública.
Com este fim, o movimento “Maré que Queremos” desenvolverá ações em questionamento ao posicionamento bélico que o Exercito vem tendo, como forma de continuar a necessária discussão sobre qual deve ser as abordagem do Estado para garantir o direito a segurança pública em favelas e periferias.
Com Folha Press e Brasil 247