O prisma assombrado
Ruben Barcellos de Melo
Bagé (RS) - Na Instrução Básica do Combatente (IBC) do ano de 1986 fomos para o Ibaré com o CFS. Na época, era um dos monitores o sargento Ferreira.
No patrulhão, o Ferreira ficaria num dos muitos postos de controle ao longo do percurso estabelecido. E onde o Ferreira ficou? Bem num cemitério ao lado da estrada. De noite, mesmo para os que não tem medo, isso é uma coisa chata de encarar, ainda mais à luz de lanterna.
Ferreira colocou o prisma encima dum túmulo, fácil de identificar de longe, mas teriam de se aproximar para anotar o número deste e o próximo azimute (direção a ser seguida indicada pela bússola).
Chegou a primeira patrulha, comandada pelo aluno Vieira. Confabularam na entrada do cemitério... identificaram o prisma...mas cadê coragem para chegar mais perto?
O comandante da patrulha escalou:
- “Julio, tu como cabo da patrulha e comandante da esquadra de assalto vai até o prisma e anota tudo”. Julio foi, mais pelo conceito em jogo do que pela própria vontade.
Ferreira escutou o nome do cabo da patrulha e pensou:
- “É hoje”.
A uns três passos do prisma, com a missão quase cumprida, suor empapando a testa e as mãos, Júlio tremia na base.
Ferreira salta do túmulo e grita:
- “Te peguei cabo cagão!”
Julio soltou o FAL, a carta, a caneta, a coragem e o grito de "mãããiiiiiiiiiiiêêêêêê!"
Que, dizem alguns, até hoje se ouve por aqueles lados.