O ex-presidente Lula acena para seus apoiadores em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, em 05/04 - Nelson Antoine / AP |
Josias de Souza
Inconformado com o roteiro que Sergio Moro preparou para o seu ocaso, Lula se
autoconcedeu um último privilégio antes de se entregar à Polícia Federal: com
desembaraço autocrático, o líder máximo do PT escolheu seu próprio caminho para
o inferno. Trancado em seus rancores, Lula perdeu o faro. No intervalo de um dia e
meio, produziu três desastres:
1) Bunker sindical: A pretexto de estimular o movimento “Lula livre”, o condenado
aprisionou-se no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, seu berço político.
Foi como se viajasse até o passado num túnel do tempo. A volta às origens
denunciou, por assim dizer, o isolamento político de Lula . Fora do prédio, uma
multidão de militantes devotos. Nem sinal da classe média que guindou o exoperário
ao Planalto.
Dentro do bunker, além dos áulicos petistas, havia dois presidenciáveis que, mesmo
não tendo votos, descartam a ideia de se coligar com o petismo: Manuela D’Ávila
(PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL). Ciro Gomes (PDT), que sonha com uma vaga
no segundo turno da disputa presidencial, preferiu não dar as caras. Solidarizou-se
à distância. A autoproclamada esquerda já não se reúne nem no cárcere.
Mal acomodado, Lula perdeu o sono na sala da presidência do sindicato. No meio
do dia, faltou água na prisão sindical. Foi necessário chamar o caminhão-pipa. Na
sala especial que Moro mandou a Polícia Federal preparar para hospedá-lo em
Curitiba, Lula terá mais conforto.
2) Afronta ao Judiciário: Sem discutir em profundidade os prós e contras, Lula
participou de uma coreografia concebida para sapatear sobre a autoridade de
Sergio Moro. Respondeu com grosserias às gentilezas do juiz da Lava Jato, que lhe
ofereceu condições especiais para se apresentar à polícia sem constrangimentos.
O diabo é que a sentença que condenou Lula não é mais de Sergio Moro, mas do
Judiciário. O TRF-4 confirmou o veredicto, aumentando a pena para 12 anos e 1
mês. O STJ indeferiu um par de habeas corpus solicitados pela defesa de Lula . O
STF também mandou um habeas corpus ao arquivo. E há outro sobre a mesa do
ministro Edson Fachin.
Se a coleção de derrotas judiciais revela alguma coisa é o seguinte: a agressividade
de Lula e seus defensores revelou-se o caminho mais curto para a condenação. Há
na fila mais meia dúzia de ações penais contra Lula . Uma segunda condenação já
está no forno. E Lula continua aferrado à máxima segundo a qual é errando que se
aprende… A errar.
2) Insanidade companheira: Dias depois de se queixar dos ovos, pedras, tiros e
bloqueios de rodovias que atazanaram a passagem de sua caravana pelos Estados
do Sul, Lula acendeu um pavio que inspirou desatinos em série. Os sem-terra e os
sem-juízo bloquearam algo como 50 rodovias no país.
Agredido por um petista na frente do Instituto Lula , um manifestante pró-Lava Jato
deu entrada no hospital com traumatismo craniano. Defronte do sindicato de São
Bernardo, militantes arremessaram ovos em jornalistas.
3) Suprema insensatez: Em Belo Horizonte, um grupo criminoso a serviço do “exército”
do Stédile tingiu de vermelho parte da fachada do edifício onde a presidente do
Supremo, Cármen Lúcia, tem um apartamento.
Ainda não se ouviu o repúdio do PT às agressões companheiras. Nessa matéria,
Lula e seu partido especializaram-se em tocar trombone sob um imenso telhado de
vidro. Avaliam que o radicalismo troglodita no patrimônio e no direito de ir e vir dos
outros é refresco. Ainda não se deram conta do risco que o PT corre de encolher nas
urnas de 2018.
Blog do Josias (UOL)/montedo.com