Obama anuncia corte de US$ 450 bilhões em orçamento militar
Gastos de Defesa dos EUA serão reduzidos nos próximos dez anos segundo nova estratégia
Elisabeth Bumiller e Thom Shanker
O presidente dos EUA, Barack Obama, formalizou nesta quinta-feira, 5, a nova estratégia militar do país - reduz o orçamento do setor, estabelece uma diferente orientação das Forças Armadas ante ameaças na Ásia e na região do Pacífico, mantém uma forte presença no Oriente Médio e deixa claro que as forças terrestres deixarão de ter condições de empreender campanhas prolongadas e em grande escala simultâneas, como no Iraque e no Afeganistão.
'Agora, estamos virando a página de
uma década de guerra', disse Obama
Pablo Martinez Monsivais/AP
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Numa rara aparição na sala de imprensa do Pentágono, Obama apresentou uma diretriz militar que se afasta da adotada nas guerras arrasadoras herdadas do governo de George W. Bush e dependerá mais do poderio naval e aéreo no Pacífico e no Estreito de Ormuz para contrabalançar as ações da China e do Irã.
A estratégia de Obama inclui cortes de centenas de bilhões de dólares nas forças armadas, o que a torna um inábil complemento de suas difíceis relações com os militares desde seu primeiro dia na presidência. Numa carta que acompanha a nova estratégia, o presidente escreveu: "Precisamos colocar em ordem nossa situação fiscal e recompor nosso poder econômico em longo prazo".
Mas, num ano eleitoral, em que ele está sendo atacado pelos candidatos republicanos por enxugar o orçamento militar e, conforme afirmam, por sua fraca reação às ameaças iranianas, Obama disse também que os EUA "evitarão repetir os erros do passado, quando as Forças Armadas não estavam bem preparadas para o futuro".
Com isso em mente, disse o presidente, seu governo continuará investindo nas medidas de combate ao terrorismo, na coleta de informações, na guerra cibernética e na dissuasão da proliferação das armas nucleares.
Obama discutiu pela manhã a nova estratégia com seu secretário da Defesa, Leon Panetta, e com o general Martin E. Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto. Funcionários comentaram que foi a primeira vez na história que um presidente convocou uma coletiva no Pentágono.
"Agora, estamos virando a página de uma década de guerra", declarou Obama. O país precisa estar preparado, acrescentou. "Não podemos repetir os erros do passado - depois da Segunda Guerra, depois do Vietnã -, quando as nossas Forças Armadas não estavam devidamente preparadas. Portanto, elas serão menores, mas o mundo deve saber que os EUA manterão sua superioridade militar."
Porta-aviões poupados. Panetta concluiu que, na próxima década, o Exército terá de encolher até mesmo em relação às metas atuais, para 490 mil soldados, mas os EUA não cortarão nenhum dos seus 11 porta-aviões, acrescentaram representantes do Pentágono e analistas militares sobre as propostas de orçamento apresentadas pelo secretário.
A nova estratégia militar tem como base cortes no Pentágono de pelo menos US$ 450 bilhões, nos próximos dez anos. Outros US$ 500 bilhões poderão ser cortados pelo Congresso no mesmo período.
Nesta nova realidade, Panetta deverá, nas próximas semanas, propor cortes na produção da nova geração de armas e até mesmo adiamentos na compra de caças F-35, um dos programas de armamentos mais caros da história. O adiamento das compras de F-35, no entanto, não deve impedir que as fábricas continuem em funcionamento - dando à fabricante Lockheed-Martin a possibilidade de corrigir os constantes problemas no desenvolvimento do avião.
Nos últimos dias, assessores de Panetta e Dempsey informaram que será possível divulgar alguns detalhes específicos sobre os cortes do Pentágono, antes que a proposta final do orçamento seja concluída, no final do mês. Mas vários representantes do Pentágono, militares e especialistas em orçamento militar criticaram os cortes específicos, embora não quisessem se identificar.
O secretário da Defesa deixou claro que a redução das tropas será feita criteriosamente e levará alguns anos, de forma que os veteranos não sejam jogados num mercado difícil em matéria de emprego, e as famílias dos militares não acreditem que o governo deixou de merecer a sua confiança depois de uma década de sacrifícios, afirmaram.
Um Exército menor seria uma clara indicação de que o Pentágono não prevê outra campanha para combater a insurgência. Tampouco os militares teriam condições de sustentar duas guerras terrestres ao mesmo tempo, como exigiram as estratégias militares nacionais passadas.
Mas as Forças Armadas terão de ter capacidade para frustrar as aspirações beligerantes de um adversário e ao mesmo tempo dedicar-se a operações de ajuda humanitária.
NYT/montedo.com