Nelson: depois de sofrer ataque no Afeganistão, ele passou a ser conselheiro do exército em pesquisas para tratamento de queimados. Foto: BBC/Reprodução |
Especialistas nos Estados Unidos estão desenvolvendo uma máscara especial para tratar feridas abertas de pacientes com graves lesões de pele na face.
A terapia seria um grande avanço em uma área da medicina reconstrutiva que tem avançado lentamente nas últimas décadas e enfrenta vários desafios.
Os resultados do tratamento de um ex-sargento do Exército americano ilustram as dificuldades enfrentadas por especialistas na recuperação de graves ferimentos de pele.
As lesões sofridas por Todd Nelson eram tão ruins que os médicos achavam que ele não sobreviveria.
"Eu estava no meu comboio em Cabul, no Afeganistão", lembra ele.
"Estávamos indo para casa à noite quando passamos ao lado de um típico carro amarelo e branco. Quando eles nos viram passando, detonaram a bomba.
"A explosão aconteceu no meu lado do caminhão, eu estava no lado do passageiro.
"O caminhão foi arremessado contra uma parede de tijolos e estilhaços entraram no meu olho direito, na minha cavidade sinusal.
"Ambos os meus maxilares superiores e inferiores foram esmagados, assim como os osso ao redor do meu olho direito, e minha testa foi esmagada.
"A explosão queimou meu braço direito e minha cabeça, [e] cortou minha orelha direita fora."
Nelson passou por mais de 40 operações para reconstruir seu rosto. As cicatrizes são evidentes, mas o que não é tão aparente é a dor que ele ainda se sente em partes de seu corpo.
Nada funciona
O veterano agora trabalha com o coronel Robert Hale, do Instituto de Pesquisa Cirúrgica do Exército dos EUA, como parte de um painel consultivo.
A dupla falou com repórteres em Boston, na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).
O coronel Hale está tentando desenvolver novas técnicas que darão a soldados feridos melhores resultados.
Algumas lesões de Nelson destruíram todas as três camadas principais da pele - a epiderme, derme e hipoderme (superior, intermediário e inferior) - chegando até ao periósteo, a membrana que recobre o osso.
"A maneira como tratamos a condição de Todd tem sido usada por cerca de 30 e poucos anos. E não evoluiu muito", disse Hale.
"Nós basicamente removemos o tecido morto, mantemos o doente na cama da melhor maneira possível, e então cobrimos com enxertos de pele de espessura parcial retirada de sua coxa ou em algum lugar que não foi queimado em seu corpo.
"É uma maneira bem sucedida para fechar a ferida, mas deixa muita fibrose e cicatrizes que o cara simplesmente não pode tolerar. Se você tem um monte de cicatrizes e fibrose, o rosto não funciona como deveria. As pálpebras não fecham, o nariz não funciona, a boca não funciona."
Desenvolvimentos de curto prazo
Uma das grandes inovações dos últimos anos tem sido a terapia de pressão negativa. Isso envolve a selagem de uma espuma no fundo de uma ferida aberta, com sucção, para ajudar a condição dos tecidos de base e prepará-los para receber um enxerto. Pacientes preferem esta terapia, pois reduz o número de trocas de curativos dolorosos.
"Isso revolucionou nosso cuidado de feridas abertas", disse Hale, "mas não podemos usá-lo no rosto, porque existem muitas áreas que vazam (fluidos) em torno da espuma de silicone, como as pálpebras, o nariz, e a boca."
Os médicos do Exército dos EUA estão, portanto, tentando desenvolver uma máscara especial que iria fazer o mesmo trabalho.
Em vez de usar uma espuma, seriam usados microcanais na máscara para tirar os fluidos da ferida. Em seguida, são usadas folhas moldadas, de pele artificial, para construir a camada intermédia, a derme, antes de se adicionar o enxerto externo empregando novas camadas de pele, de 20 células de espessura, retiradas de outra parte do corpo.
Para a camada mais profunda, a hipoderme, está sendo considerado o uso de gordura do abdômen, a ser injetado sob feridas em cicatrização.
"Todas as tecnologias que eu estou explorando atualmente em meu laboratório e que estou financiando em outros laboratórios de pesquisa são coisas que já estão ao nosso alcance", disse Hale.
"Em uns cinco, seis ou sete anos, devemos ter produtos e estratégias que podem ser aplicadas aos soldados que foram feridos na guerra, e tudo isso deve ser transponível para o público em geral."
Diário de Pernambuco (BBC)/montedo.com