Chefe de missão na Síria afirma que não quer soldados da ONU armados
Em entrevista ao G1, general elogiou 11 brasileiros no país. 'São corajosos'.
Governo e rebeldes 'decidiram que têm mais a ganhar lutando', acredita ele.
Tahiane Stochero
O general Robert Mood, que comanda a missão de paz da ONU na Síria, disse em entrevista exclusiva ao G1 que, apesar do aumento da violência, ele não quer observadores das Nações Unidas armados no terreno.
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General Robert Mood comanda observadores da ONU na Síria, incluindo 11 brasileiros (Foto: Martial Trezzini/AP) |
Desde maio de 2012, ele chefia 300 militares que monitoram um conflito entre governo e grupos rebeldes, iniciado em março de 2011, que já provocou mais de 15 mil mortes.
No grupo de observadores da ONU, há 11 militares brasileiros que foram elogiados por Mood. "Eles são comprometidos e corajosos", afirmou.
Há duas semanas, o trabalho deles foi suspenso pelo Conselho de Segurança porque não havia condições de segurança.
Nesta semana, a ONU divulgou estar “alarmada” com a violência no país e preocupada com a proteção de jornalistas e a população civil. Mesmo assim, Mood disse que os observadores têm a obrigação de continuar no país até que as partes voltem a negociar. E, para ele, devem continuar desarmados.
“A violência na Síria está gradualmente aumentando desde 10 de junho. Tanto o governo da Síria como os grupos armados de oposição estão focados em perseguir os meios militares para alcançar seus objetivos”, explicou o general, que respondeu, a partir de Damasco, quartel-general da ONU na Síria, às perguntas enviadas pela reportagem por e-mail.
“Carros da ONU estiveram sob ataques de tiros, direta e indiretamente, diversas vezes até suspendermos o trabalho. Já há muitas armas nas mãos do governo e dos rebeldes nesse país. Se nós introduzirmos observadores armados, tendo a acreditar que isso irá complicar a situação e pode até prolongar o conflito”, ponderou.
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Carros levando observadores da ONU foram atingidos por tiros em El-Haffeh, na Síria (Foto: ONU/Divulgação) |
“Como observadores desarmados, acreditamos que nosso comprometimento com a população é ainda nossa melhor força de proteção”, afirma. “Também tenho a preocupação de que, se andarmos armados, nossos observadores passam a ser vistos mais como alvos legítimos.”
Questionado sobre se acreditava que uma intervenção internacional da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ou uma missão da ONU para impor a paz no país seriam alternativas para resolver o problema, respondeu: “Apenas as partes (governo e rebeldes) podem pôr fim à violência na Síria”.
Conflito de muitas faces'
Mood demonstrou preocupação com a população civil, afirmando que viver no país está mais perigoso devido ao aumento do uso de explosivos, armas pesadas (bombas e metralhadoras), intensos tiroteios e atiradores de precisão (snipers) em comunidades. “Também estou preocupado com a contínua ocupação militar de hospitais e que pessoas tenham acesso a tratamento e a medicamentos”.
Apesar de Kofi Annan, encarregado pela ONU e pela Liga Árabe de negociar o cessar-fogo na Síria, afirmar que a situação se aproxima de uma guerra civil, o general acredita que “é difícil colocar a crise na Síria em um modelo”.
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Área com população morando em Homs é alvo de ataques. ONU mostra preocupação com civis feridos no confronto (Foto: David Manyua/ONU/Divulgação) |
“É um conflito complicado e de muitas faces, com vários participantes e várias dimensões. Minha análise é que é um conflito de baixa intensidade, localizado e diferenciado, dependendo da região e da cidade. Além disso, as oposições políticas e armadas ao governo são muito fragmentadas”, afirmou.
Conflito de baixa intensidade é o termo que define uma guerra interna em um país, quando há confronto entre grupos insurgentes rebeldes e forças regulares do governo, como Exército e polícias.
“Quando o cessar-fogo foi declarado, em 12 de abril, a situação se acalmou por um tempo. Hoje, nós estamos vendo a deterioração da situação na Síria aumentando a cada dia. As partes (governo e rebeldes) decidiram que eles têm mais a ganhar com confrontos e violência do que com negociação política”, desabafa
'Time do Brasil'
O comandante da ONU diz que a violência ainda impede que os observadores façam patrulhas nas ruas, mas que a decisão de retomar ou não os trabalhos é revista a cada dia. Na quinta (28), Annan propôs um novo plano de transição ao governo. “Nossa missão é monitorar a diminuição da violência. A ONU nunca teve a intenção de monitorar o aumento da violência”, diz Mood.
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Rebeldes sírios posam com armas em Idlib (Foto: AFP) |
“Meus observadores são a voz factual do que está ocorrendo nas ruas. Nós descrevemos apenas o que vimos com nossos próprios olhos e o que podemos verificar. Denunciamos violações aos seis pontos que o plano do Kofi Annan fez para conter a escalada do conflito e que tanto o governo como os rebeldes concordaram”, disse.
Entre os pontos monitorados estão o cessar-fogo, boas condições para os presos, liberdade de reunião e para protestos pacíficos, acesso de ajuda humanitária e liberdade de imprensa.
Mood agradeceu o apoio do Brasil para a formação da missão de observadores da ONU na Síria, afirmando que eles são “corajosos e comprometidos”. “Estamos realmente agradecidos ao suporte que o Brasil deu, permitindo que conseguíssemos estar aqui país com rapidez. Temos um time eficiente aqui do Brasil que tem demonstrado muita coragem e liderança”, disse ao G1.
O Brasil foi um dos primeiros países a enviar militares para a UNSMIS (Missão de Observadores da ONU para a Síria) no início de maio deste ano, logo após a criação. “Estou orgulhoso e impressionado e, acima de tudo, agradecido com a coragem e o comprometimento que os militares brasileiros demonstraram todos os dias”.