Leila Suwwan
Próximo do fim de sua gestão na Defesa, Nelson Jobim (PMDB) não conseguiu resolver de forma definitiva os gargalos e deficiências da aviação civil -desafio ao qual se propôs ao assumir o posto durante a crise aérea - mas tenta deixar como legado o inédito comando civil forte das Forças Armadas e o ambicioso projeto de reaparelhamento militar.
- As Forças Armadas sabem o que fazer, mas quem vai dizer o que fazer sou eu! Ou melhor, o presidente! - disse Jobim ontem, em tom exaltado, em um seminário na Fiesp. Em sua palestra, tão longa que impediu os discursos dos três comandantes presentes, Jobim destacou até que mudou a lei para que o ministro da Defesa passe a indicar formalmente os titulares da Marinha, Exército e Aeronáutica e integrar a "linha de comando" no uso do aparato militar.
Sem citar a persistência de dificuldades na Anac e a precária infraestrutura aeroportuária, Jobim chegou a defender a transferência da agência de aviação civil e da Infraero para o Ministério dos Transportes, colocando fim ao elo histórico com a Aeronáutica. Não falou da desmilitarização do controle do espaço aéreo, mas lembrou que o país precisa ter seu próprio satélite para cumprir as exigências desse setor no futuro.
Sem explicar as dificuldades para ampliar a capacidade da aviação em São Paulo, chegou a provocar os presentes:
-A maioria de vocês usa jatos executivos. Entre quatro e cem passageiros, eu prefiro cem. Politicamente eu não tenho como justificar um investimento para atender um público de 2 mil pessoas. Se tiver que esgoelar, vai ser esgoelado. Vamos trocar quatro por cem - disse, sem apresentar perspectivas concretas de ampliação para o setor, que, segundo ele, deve fechar o ano com crescimento de 30%.
Para cacifar a importância estratégica das Forças Armadas, Jobim chegou a dizer que o país pode se tornar alvo de atentados terroristas, devido à crescente importância geopolítica.
- Será que, ao participar do Conselho de Segurança, o Brasil não passará a ser alvo de terroristas devido às posições que venha a tomar com relação a combates islâmicos?
Jobim também anunciou ontem que o Brasil pretende participar da força de paz da ONU no Líbano, mas depois explicou que o país não conseguiria atender ao pedido de uso de navios brasileiros, e só auxiliará no setor de comando marítimo, sem envio de tropas ou equipamento.
Para exemplificar que o Brasil deixou de ter uma atitude "dissimulada" e agora pode dizer que sim ou que não quando bem entender, Jobim também acusou a OTAN de extrapolar suas funções e comemorou os segredos científicos do Brasil para o enriquecimento de urânio, obtido pelos "malucos da Marinha".