23 de outubro de 2010

CORONEL FAJUTO AGIU "POR AMOR À PÁTRIA", DIZ ADVOGADO

Com a barba por fazer e um ar abatido, o falso tenente-coronel do Exército era uma mistura de ansiedade e frustração numa conversa de cerca de uma hora que teve com seu advogado, Rodrigo Roca, no começo da tarde desta quinta-feira. Numa cela de 24 metros quadrados, dividida com outros dez detentos na carceragem da Polinter no Grajaú, na Zona Norte do Rio, Carlos da Cruz Sampaio Júnior demonstrava preocupação com o resultado do pedido de liberdade provisória, feito pelo advogado na quarta-feira na 29ª Vara Criminal.
“Eu era bom no que eu fazia”, desabafou ele para o advogado Rodrigo Roca (assista à entrevista com o advogado Rodrigo Roca).
Na conversa com o advogado, Sampaio confidenciou que sempre quis ser militar do Exército. E que teria, inclusive, prestado prova para ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), mas não foi aprovado na seleção.
— Ele sempre teve ideias e projetos. Mas só passou a ser levado a sério quando se apresentou como coronel do Exército — disse Roca.

‘Eu me represento’
Nesta quinta-feira à tarde, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, negou que tenha sido representado pelo coronel fajuto numa visita ao Comando de Policiamento da Capital (CPC) de São Paulo, conforme EXTRA publicou. Mas confirmou que Sampaio estava lá, enviado pela secretaria, para o encontro ocorrido no dia 5 de outubro:
— Ele não me representou e não estava autorizado a me representar. Quem me representa sou eu.

Sampaio tem coleção de uniformes militares e montou fotografia em que veste roupa de major
Na cobertura 4 do bloco E, edifício Esmeralda, em Vila Isabel, Carlos da Cruz Sampaio Júnior guarda um dos segredos de sua “carreira”. Dentro de um baú, perto da mesa do computador, no canto de seu quarto, estão mais de 20 uniformes falsos, que ele usava de acordo com a ocasião. Sua roupa é seu poder. O destino era uma unidade da Polícia Militar? Então, o traje deveria ser a farda preta, usada por seções especiais ou a cinza-camuflada, igual à do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChq). Se o compromisso tinha algum representante das Forças Armadas, o coronel pirata se cobria de verde, como na foto da carteira falsificada que o levou a ser desmascarado pela secretaria de Segurança (Seseg). O chapéu foi inserido depois, com a ajuda de um programa de computador para manipular imagens.
— Em qualquer lugar que ele fosse, gostava de ser respeitado como se estivesse num quartel. Como tem uma fala firme, passava credibilidade a qualquer pessoa — contou uma de suas alunas de rapel.
O amor pela farda era tão forte quanto a sede de respeito alheio. No Comando Operacional Paintball Team, em Pilares, anunciando-se capitão do Exército e delegado de polícia, ele chegou mansamente, em dezembro de 2008, e conseguiu uma vaga. Em poucas semanas, alcançou o posto de tenente na hierarquia da equipe — composta pelo capitão, três tenentes, um sargento e dois cabos. Homem de habilidade em treino militar, exibindo até slides com animação que deixaram os integrantes de queixo caído e organizando curso de rapel, o tenente-coronel pirata agia, nos bastidores, para tomar o posto do capitão Allan Oliveira. Confeccionou carteira funcional do grupo. Três meses depois, com direito à discussão com o comandante, Sampaio Júnior se deparou com um novo membro do “Comando Operacional” que conhecia seus antecedentes.
No dia seguinte, o coronel Caô se desligou da equipe, deixando uma dívida de R$ 1,4 mil com um “tenente”. Alegava que R$ 1 mil iriam para um advogado e R$ 400 ao pagamento da pensão alimentícia da única filha. Com três meses de atraso, Sampaio quitou a dívida.
— Ele só foi integrante do Comando Operacional. Chegou dizendo que era delegado, capitão... Foi mais uma mentira dele, pelo visto — afirmou o capitão Allan Oliveira.
Divulgação

O vacilo
O reino de Sampaio começou a ruir depois que assumiu seu posto na subsecretaria de Integração Operacional da Seseg. Nas primeiras semanas, como não tinha crachá, precisava apresentar documento oficial, mas dava apenas o número do documento falso que havia montado. Em agosto, houve a confecção dos novos crachás. Na ocasião, foram requisitados os documentos. Carlos apresentou a carteira falsa e a Seseg, a partir deste momento, rastreou a fraude.

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