Roberto de Sousa Causo é talvez o autor de ficção científica brasileiro mais atuante no meio de 20 anos pra cá, com dois romances publicados e vários contos e ensaios em fanzines, revistas e antologias famosas, além de histórias publicadas em 10 países.
Em seu novo livro, Selva Brasil (112 pág., 2010) pela editora Draco, Causo trabalha com um gênero conhecido como história alternativa, que desenvolve tramas que tentam imaginar como teria sido a História de um lugar se uma determinada situação importante tivesse um desfecho diferente.
O momento escolhido aqui é 1962, ano em que o então presidente Jânio Quadros teria feito planos (que nunca foram postos em prática) de invadir as Guianas por acreditar que o Brasil tinha direito histórico a boa parte de seus territórios. Tudo isso revelado num artigo publicado em 1993, após a morte do ex-presidente, em que um jornalista ainda diz que o exército brasileiro teria apoio da Argentina, que tentaria retomar o controle das ilhas Malvinas das mãos da Inglaterra.
A história do livro se passa exatamente em 1993, onde o próprio Causo é narrador e personagem de suas aventuras como sargento do exército numa guerra que já se estende por mais de 30 anos com mais perdas do que ganhos de território na Amazônia brasileira. Retratando o dia-a-dia de um pelotão numa guerra no meio da selva, Causo reconstrói a História brasileira a partir da iniciativa (dessa vez executada) de Jânio, além de reescrever sua própria história.
A trama, muito bem narrada em primeira pessoa, consegue nos inserir com sucesso nas dificuldades passadas pelos soldados e acaba se tornando difícil de largar justamente pelo fato de tentar dar uma perspectiva brasileira a uma história de guerra. Devo admitir que foi bastante divertido ler nomes como Tadeu, Daniel e Carlos, além de termos como FUNAI, Itamarati, FAB e outros numa história desse tipo.
O texto ainda faz citações a Guimarães Rosa e Jorge Luis Borges e a trama acaba se desenvolvendo espetacularmente em algo que lembra uma mistura de Coração das Trevas de Joseph Conrad com a lenda do Experimento Filadélfia, um experimento militar secreto realizado com o navio de guerra americano USS Eldrige, já abordada em vários livros e filmes.
Boa parte dos termos utilizados no livro vem da experiência pessoal do autor no exército e de uma extensa pesquisa sobre armas, plantas e geografia amazônica. O autor, que mora em São Paulo, ainda admite no posfácio sua fascinação por tudo que remete a maior floresta do mundo, falando também sobre algumas das várias histórias que já escreveu sobre a selva.
Um livro curto, de leitura fácil que dá uma aula de história ao mesmo tempo que diverte e surpreende pelo tempero brasileiro num suspense alternativo de ficção científica.
Ótima prova que o Brasil ainda é capaz de produzir bons autores que não desistem de dar uma cara reconhecível a ficção científica nacional.
Recomendado!
Valeu!
Em seu novo livro, Selva Brasil (112 pág., 2010) pela editora Draco, Causo trabalha com um gênero conhecido como história alternativa, que desenvolve tramas que tentam imaginar como teria sido a História de um lugar se uma determinada situação importante tivesse um desfecho diferente.
O momento escolhido aqui é 1962, ano em que o então presidente Jânio Quadros teria feito planos (que nunca foram postos em prática) de invadir as Guianas por acreditar que o Brasil tinha direito histórico a boa parte de seus territórios. Tudo isso revelado num artigo publicado em 1993, após a morte do ex-presidente, em que um jornalista ainda diz que o exército brasileiro teria apoio da Argentina, que tentaria retomar o controle das ilhas Malvinas das mãos da Inglaterra.
A história do livro se passa exatamente em 1993, onde o próprio Causo é narrador e personagem de suas aventuras como sargento do exército numa guerra que já se estende por mais de 30 anos com mais perdas do que ganhos de território na Amazônia brasileira. Retratando o dia-a-dia de um pelotão numa guerra no meio da selva, Causo reconstrói a História brasileira a partir da iniciativa (dessa vez executada) de Jânio, além de reescrever sua própria história.
A trama, muito bem narrada em primeira pessoa, consegue nos inserir com sucesso nas dificuldades passadas pelos soldados e acaba se tornando difícil de largar justamente pelo fato de tentar dar uma perspectiva brasileira a uma história de guerra. Devo admitir que foi bastante divertido ler nomes como Tadeu, Daniel e Carlos, além de termos como FUNAI, Itamarati, FAB e outros numa história desse tipo.
O texto ainda faz citações a Guimarães Rosa e Jorge Luis Borges e a trama acaba se desenvolvendo espetacularmente em algo que lembra uma mistura de Coração das Trevas de Joseph Conrad com a lenda do Experimento Filadélfia, um experimento militar secreto realizado com o navio de guerra americano USS Eldrige, já abordada em vários livros e filmes.
Boa parte dos termos utilizados no livro vem da experiência pessoal do autor no exército e de uma extensa pesquisa sobre armas, plantas e geografia amazônica. O autor, que mora em São Paulo, ainda admite no posfácio sua fascinação por tudo que remete a maior floresta do mundo, falando também sobre algumas das várias histórias que já escreveu sobre a selva.
Um livro curto, de leitura fácil que dá uma aula de história ao mesmo tempo que diverte e surpreende pelo tempero brasileiro num suspense alternativo de ficção científica.
Ótima prova que o Brasil ainda é capaz de produzir bons autores que não desistem de dar uma cara reconhecível a ficção científica nacional.
Recomendado!
Valeu!