"Guerra fria" na escolta de Dilma
Ao optar pelo acompanhamento da PF no percurso até o Congresso, presidente eleita mexeu com os ânimos dos militares do Gabinete de Segurança Institucional. Corporações negam "ruídos"
Alana Rizzo e Edson Luiz
A escolha da presidente eleita, Dilma Rousseff, pela escolta da Polícia Federal na posse provocou uma disputa entre a corporação e os militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Durante o percurso na Esplanada, Dilma estará sob a proteção da PF, contrariando o protocolo de cerimônias anteriores. Desta vez, os agentes acompanharão o carro da presidente até o Congresso. Os militares — responsáveis pela proteção do presidente, do vice e dos familiares — assumem em seguida a segurança de Dilma. Atualmente, o GSI vigia a filha, o genro e o neto de Dilma.
Um coronel fez questão de reforçar ao Correio que o trabalho de segurança institucional é militar. “Quem vai decidir é o GSI. A PF só vai fazer uma escolta. É uma questão de cerimonial. Não é nada demais”, disse, destacando que o reforço nem era necessário e que a competência é do gabinete. Já a PF defende a responsabilidade de coordenar o desfile e a segurança de Dilma. Parte da equipe atual acompanha a presidente desde que ela se candidatou. Em 2003, agentes do GSI foram buscar Lula na Granja do Torto, o que causou constrangimento nos policiais federais que o escoltavam desde a eleição.
Um dos ruídos durante a organização foi a localização da cavalaria. Nas posses anteriores, os Dragões da Independência marchavam ao lado do carro do presidente. Este ano, seis policiais federais vão acompanhar a pé o carro da presidente eleita na Esplanada. A PF defende que a medida é uma questão de segurança e de garantir a visibilidade do público. Em 2002, um cavalo caiu durante o percurso do presidente Lula na Esplanada.
Dragões
Em entrevista coletiva no domingo, data do ensaio oficial, o Comando Militar do Planalto (CMP) minimizou a retirada da cavalaria. O coronel Carlos Penteado afirmou que os cavalos foram suprimidos porque se assustavam com o público. Houve discussão no ensaio. À frente da comitiva, os Dragões seguiam lentos e não conseguiam acompanhar as motocicletas.
A PF afirma estar cumprindo a função institucional de fornecer a segurança até a posse no Senado. Ressalta ainda que um conjunto de forças é responsável por garantir a cerimônia. O GSI também nega ruídos. Esse não é, contudo, o primeiro entrevero entre militares e PF. Fontes ligadas ao Planalto afirmaram que Dilma estudou, durante a transição, desmilitarizar o GSI. A proposta não foi levada adiante. O modelo seria o mesmo de outros países, em que um civil assume o controle da segurança presidencial. Uma ala da PF pleiteava a função.
Em outros dois eventos — Cúpula do Mercosul, em Ouro Preto (MG), e reunião dos Brics, em Brasília —, o GSI e a PF também não se entenderam sobre a segurança. No Brasil, os federais são responsáveis pela proteção dos chefes internacionais, mas não podem fazer a proteção do presidente da República. Delegados criticam essa situação.
Esboço
Hoje(30), a Polícia Federal realiza um último treinamento antes da posse, reunindo os 65 agentes que atuarão na escolta de Dilma. A PF faz parte do efetivo de 3,8 mil integrantes dos órgãos de segurança que estarão presentes na Esplanada, no sábado, reunindo policiais civis, militares, rodoviários federais e as três Forças Armadas. Ontem, os militares realizaram a última reunião para definir a forma de trabalho no dia 1º.
Pelo menos mil soldados do Exército estarão envolvidos na segurança, principalmente dando suporte à PM na vigilância do trecho onde Dilma passará a partir das 14h. Eles devem evitar invasão do público que estará em um cercado. A intenção é evitar que a presidente eleita tenha contato com as pessoas que estiverem assistindo ao seu deslocamento, como ocorreu em 2003 durante a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, quando populares cercaram o Rolls-Royce presidencial.
Dilma será escoltada por seis agentes federais mulheres — um pedido da presidente eleita —, que serão cercadas por outras duas fileiras de policiais homens. A segurança especial a pé será a partir da Catedral, quando o comboio vindo da Granja do Torto trocará o carro fechado de Dilma pelo Rolls-Royce. A partir desse momento, vários policiais espalhados pela Esplanada serão acionados, inclusive snipers — atiradores de elite — distribuídos no alto de ministérios. O Exército também vai manter soldados com essa especialidade em locais não revelados.
A segurança por parte do Exército, Marinha e Aeronáutica ficará centralizada no Centro da Operação Posse, no Comando Militar do Planalto. “Vamos atuar de todas as formas possíveis e imagináveis para garantir a tranquilidade no dia da posse”, ressalta o coronel Penteado, porta-voz do CMP.
CORREIO BRAZILINSE