18 de dezembro de 2010

GENERAL ADMITE PREOCUPAÇÃO COM ABUSO EM FAVELAS DO RIO

"(Os policiais) estarão nos vendo e nós estaremos vendo eles. 
A regra do jogo é clara. Para todos os lados"
A missão do general de brigada Fernando José Laquiaval Sardenberg, comandante da Força de Paz do Exército no Rio de Janeiro, pode ser tão complicada quanto localizar-se nas vielas estreitas e tortuosas dos complexos de favelas da Penha e do Alemão. Além de garantir a paz em uma área que passou décadas como reduto inacessível de traficantes, é preciso manter o controle sobre um efetivo de 2 mil homens do Exército, da Polícia Militar e da Polícia Civil e garantir que não ocorram abusos.
No Complexo do Alemão, moradores reclamaram de casas arrombadas e bens saqueados nos dias que se seguiram à invasão policial. Casos mais graves foram registrados em outras operações, algumas envolvendo até o Exército. Em 2008, onze militares que faziam parte do efetivo incumbido de garantir a proteção de obras de um projeto do governo federal no morro da Providência prenderam três jovens da favela e entregaram para traficantes de um grupo rival do morro da Mineira. Os jovens foram assassinados.
Sardenberg admite a preocupação. De acordo com ele, um esquema especial está sendo montado para eliminar a possibilidade de conduta abusiva por parte da Força de Paz. Os policiais atuarão juntamente com os militares e a ideia é que a vigilância seja permanente. "(Os policiais) estarão nos vendo e nós estaremos vendo eles. A regra do jogo é clara. Para todos os lados", afirma o general.
O comandante promete punir com rigor se algum excesso for detectado. A expulsão da força de paz será a primeira medida. "Se (o infrator) for um militar, vai entrar imediatamente em uma viatura e será levado ao quartel onde serão tomadas as sanções disciplinares cabíveis", disse ao falar que também será imediatamente afastado o policial militar ou civil responsável por desvio de conduta. Sardenberg afirma que ele mesmo vai telefonar para a autoridade policial e solicitar punição adequada.
Segundo o general, serão instaladas ouvidorias nas comunidades para que reclamações e denúncias sejam apuradas.

Presença maciça
Sardenberg disse que o efetivo empregado, descrito como "presença maciça" pelo comandante, vai ter total controle das favelas. De acordo com ele, essa será a principal diferença entre a ocupação atual sob o controle da polícia e a ocupação da Força de Paz. "Vamos entrar, nos instalar, operar em patrulhamento. Com isso, vamos poder garantir, em melhores condições, o direito de ir e vir dos moradores, assim como o trabalho dos órgãos da prefeitura nas comunidades".
As tropas vão se instalar em pontos estratégicos, montando postos de campanha onde permanecerão dia e noite. Uma delegacia especial de Polícia Civil também será montada nas comunidades para dar maior agilidade no cumprimento de mandados de busca e apreensão e para receber eventuais detidos.
Os militares vão atuar na patrulha e também terão poder para revistar. Quem cumprirá mandados de busca e apreensão nas casas serão os policiais civis que fazem parte da Força de Paz. Sardenberg diz que o exército dará apoio e acompanhará as ações.
A previsão de saída do Exército dos complexos da Penha e do Alemão é para outubro de 2011. A data coincide com a formação de novos policiais militares que deverão fazer parte do contingente das unidades de polícia pacificadora a serem instaladas nas comunidades.

Do Haiti ao Alemão
Comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, Sardenberg, 52 anos, chegou ao Alemão no dia 26 de novembro e foi recebido a balas. Em menos de 12 horas após ter recebido a ordem do Comando Militar do Leste para comandar 800 paraquedistas de seu quartel e fechar as vias de acesso das comunidades apinhadas de traficantes, o general reunia a tropa na esquina das ruas Paranhos e Itararé e passava orientações a seus oficiais.
Logo após ingressar na Paranhos seguido pela tropa, começaram as rajadas de tiros vindas da Favela da Grota. Não demorou até que balas de fuzil vindas do Morro do Adeus começassem a respingar nas ruas e paredes do entorno. Apesar da resistência, os homens do general seguraram as posições e assim permaneceram por aproximadamente 36 horas até que as forças policiais auxiliadas por veículos da Marinha e helicópteros do Exército invadissem e tomassem o Complexo do Alemão.
Não foi a primeira guerra vivida pelo general. Em 2004, o Sardenberg fez parte do primeiro efetivo das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) enviado pelo Brasil. A recepção não foi amistosa e as condições do Haiti, sem distribuição de água e energia em diversos pontos, não ajudavam. O general enfrentou tiroteios e participou da missão de resgate a um ministro francês que estava encurralado em uma favela.
Ao entrar no Alemão, Sardenberg se disse triste por ter de atuar no Rio. Carioca, lamentava o estado de insegurança vivido. Quatorze dias depois, ele foi anunciado comandante da operação de ocupação. Sua missão agora é manter a paz em sua terra natal.

Violência no Rio
O Complexo do Alemão está ocupado pelas forças de segurança desde o dia 28 de novembro. A tomada do local aconteceu praticamente sem resistência numa ação conjunta da Polícia Militar, Civil, Federal e Forças Armadas. A polícia investiga uma possível fuga de traficantes pela tubulação de esgoto do Alemão antes dos policiais subirem o morro. Na quinta, 25 de novembro, a polícia assumiu o comando da Vila Cruzeiro, na Penha. Ambos dominados, até então, pela facção criminosa Comando Vermelho. As ações foram uma resposta do Estado a uma série de ataques, que começou na tarde do dia 21 de novembro. Em uma semana, pelo menos 39 pessoas morreram e mais de 180 veículos foram incendiados por criminosos nas ruas do Rio de Janeiro.

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