Futuro ministro apoia aplicação de plano do Haiti no RJ
Eliano Jorge
Confirmado como futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general José Elito Carvalho Siqueira volta ao Brasil na próxima semana para montar sua equipe. Ele viajou à China para conhecer uma neta de três meses e rever seu filho, que trabalha lá há três anos.
Atualmente, Siqueira é chefe de Preparo e Emprego do Ministério da Defesa, depois de ser secretário de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia. Entre janeiro de 2006 e janeiro de 2007, comandou a Missão de Paz da Organização das Nações Unidas no Haiti, onde ajudou a construir o Plano de Segurança Integrada que deve ser aplicado pelas forças policiais em favelas do Rio de Janeiro.
- Isso, de uma forma ou de outra, é o que está sendo feito. São dois ambientes diferentes. Mas a ideia geral é que você não pode resolver um problema em área crítica se não estiver dentro da área. Foi o que fizemos no Haiti, durante um ano, mais ou menos, e deu tudo certo. Fomos para dentro da área e não saímos mais. Ao mesmo tempo em que você procurava dar segurança na área, ajudava a área paralelamente, criando a presença do Estado. E, com isso, dia a dia, vai se adquirindo um ambiente favorável de credibilidade, de melhoria para a população. É um trabalho integrado, não é uma ação militar pura e simples - explica em entrevista a Terra Magazine, por telefone, diretamente de Xangai.
O general aprova o andamento da intervenção no Complexo do Alemão. "Está indo bem. Vamos torcer que continue assim", opina. Ele valoriza a presença brasileira no Caribe:
- O Haiti dá essa oportunidade àqueles militares de, durante seis meses, fazer um treinamento que, no Brasil, talvez levasse seis anos para chegar ao mesmo nível. Hoje temos mais de 10 mil homens no Exército, de soldado a general, que têm experiências em operações de longo prazo, de ajudar a população, de ficar longe da família. Então, são coisas que você não aprende nos bancos escolares.
O general José Elito Carvalho Siqueira será ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (foto: Redação do Terra)
Confira a entrevista.
Terra Magazine - O senhor terá uma das maiores responsabilidades no próximo governo...
José Elito Carvalho Siqueira - É, todas as missões dos ministros são todas importantes, não tem dúvida. Estamos muito honrados, acima de tudo.
Sua pasta é bem ampla. Vai desde a segurança pessoal de todo o gabinete da Presidência da República até a estabilidade institucional do País.
É uma assessoria direta, ali de todos os assuntos. Isso é muito importante. Mas é muito bom. Vamos tentar ajudar da melhor forma a todos e ao País, que é o mais importante.
O senhor enfrentou os combates em Porto Príncipe, com furacão, tempestade e tudo. Será que o novo trabalho é tão penoso quanto aquele no Haiti?
(risos) Completamente diferente, né? Mas o mais importante é que o GSI tem uma equipe muito boa, profissionais muito bons, acho que vai dar tudo certo.
O senhor já definiu sua equipe?
Não, eu, quando chegar, na semana que vem, vou conversar com o atual chefe, o general (Jorge Armando) Felix, e com calma vamos ajustando. Certamente não vai precisar de grandes ajustes, a equipe tem excelentes profissionais. Então vamos ver. É uma área bastante ampla, precisa ter recursos humanos adequados, e tem. Vamos olhar com calma.
O que o senhor acha de ser aplicado no Rio de Janeiro o Plano de Segurança Integrada, que foi desenvolvido a partir da experiência do Exército Brasileiro no Haiti?
Isso, de uma forma ou de outra, é o que está sendo feito. São dois ambientes diferentes. Mas a ideia geral é que você não pode resolver um problema em área crítica se não estiver dentro da área. Foi o que fizemos no Haiti, durante um ano, mais ou menos, e deu tudo certo. Fomos para dentro da área e não saímos mais. Então, ao mesmo tempo em que você procurava dar segurança na área, você ajudava a área paralelamente, criando a presença do Estado. E, com isso, dia a dia, vai se adquirindo um ambiente favorável de credibilidade, de melhoria para a população. É um trabalho integrado, por isso Plano Integrado.
Não é uma ação militar pura e simples. Evita-se efeito colateral. Vamos torcer agora, nesta situação temporária no Rio de Janeiro, para que tudo também corra da melhor forma, está indo bem. Vamos torcer que continue assim.
Quando se estava desenvolvendo esta experiência no Haiti, já se previa que ela resultaria em contribuições para operações no Brasil?
Não, absolutamente. O Haiti é uma escola de vida, profissional e pessoal, para qualquer situação. Porque você não vai ser um bom aviador se não pilotar avião. Não vai ser um bom cirurgião se não fizer cirurgia. Um militar, quanto mais praticar, melhor ele vai ser, em todos os seus valores.
O Haiti dá essa oportunidade àqueles militares de, durante seis meses, fazer um treinamento que, no Brasil, talvez levasse seis anos para chegar ao mesmo nível. Hoje temos mais de 10 mil homens no Exército, de soldado a general, que têm experiências em operações de longo prazo, de ajudar a população, de ficar longe da família. Então, são coisas que você não aprende nos bancos escolares. Por isso, a importância do Haiti, além de, claro, ajudar aquele país tão pobre. Este é o foco: vai ser útil para qualquer coisa.
No início da missão no Haiti, se dizia que a experiência nas favelas do Rio de Janeiro é que ajudariam as operações do Exército Brasileiro lá.
Não, nós não tínhamos esta experiência a este nível. O Exército não tem esta missão condicional e não tinha uma experiência de rotina. O que valeu lá foi a capacitação moral de todos, identificação do problema, planejar, executar (o plano) e ter a sorte de dar certo. Tendo valores, você os aplica e se apta a eles. E foi o que o Brasil fez muito bem lá. Passa a ser uma escola para todos nós, seja dentro, seja fora do Brasil. Só traz benefícios.