GABRIEL MANZANO
Para o soldado Cid, foi um ato banal. "Pisei em seu braço, impedindo que levantasse a arma, e perguntei: 'Qual o seu nome?' Com ar de deboche e ódio, respondeu aos gritos: 'Guerrilheira não tem nome'. Eu e João Pedro a metralhamos.
Observação do site www.averdadesufocada.com :
Será que o repórter conta no livro em que situação aconteceu a morte da guerrilheira?
Será que fala da emboscada preparada por ela e mais alguns guerrilheiros, contra uma patrulha do Exército, chefiada pelo Major Lício?
Será que no livro conta que o Major Lício ao tentar levantá-la, sem notar que ela havia recuperado a arma, enquanto eles seguiam os outros guerrilheiros, foi atingido no rosto por um tiro, disparado por ela, à queima roupa?
Será que toda a patrulha teria que ser dizimada para que a guerrilheira fosse salva?
Assim morreu, em 24 de outubro de 1974, numa obscura grota na selva, ao norte de Goiás, a militante do PC do B Lúcia Maria de Souza, ou Sônia, capturada pelo grupo do major Sebastião Curió - o homem que o regime militar havia encarregado de liquidar sumariamente a Guerrilha do Araguaia.

A tarefa exigiu paciência, determinação, talento. Leonencio rodeou o assunto e o major durante longos anos. Vasculhou 32 pastas, um pacote de mapas, seis álbuns de fotos e muitos papéis soltos que o xerifão das selvas, hoje tenente-coronel reformado, guardava para escrever, ele próprio, o seu livro - cujo título seria A Selva do Araguaia.
"Meu desejo é que a narrativa agrade. É importante que isso seja conhecido, esclarecido", afirma o autor, que antecipou no Estado boa parte desse material em uma série de reportagens em junho de 2009.
Cor local
Fato marcante dos anos 70, a aventura armada no Araguaia tem sido objeto de muitos outros autores, mas o que surpreende em Mata! é o testemunho direto dos episódios - o que só as memórias de Curió tornariam possível. Breves capítulos vão despejando, aos poucos, a cansativa caminhada, as conversas, o dia, a hora, o lugar, o ataque, o grito, a fuga, o tiro. O cerco e a liquidação dos inimigos, já exaustos e sem recursos. O resultado, para a história, é uma correção atrás da outra de muitos relatórios - falsos - que o regime divulgou sobre quem morreu, onde e como. Não há grandes surpresas sobre o destino dos corpos.
Mas sabe-se, por exemplo, que foram 41 e não 25 os fugitivos que, já detidos, foram executados quando não ofereciam mais risco. Que Paulo Roberto Marques, o Amauri, não morreu no cerco à cúpula da guerrilha no Natal de 1973, mas fugiu e dias depois se entregou. "Entrou num helicóptero com as mãos amarradas. Foi fuzilado perto do Rio Saranzal", anunciam os papéis de Curió. Que Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, não caiu em combate, mas morreu na cadeia de Marabá em 26 de junho de 1974.
Serra Pelada
Na segunda metade do livro vem à tona outra grande aventura de Curió: os seus turbulentos anos no comando de Serra Pelada. Uma saga de garimpeiros esfarrapados e prostitutas valentonas, gente que ele defendia e manipulava numa área maior que Inglaterra, Irlanda e Gales juntos.
Passados 38 anos da aventura, o tenente-coronel aposentado confessa ao repórter sua nostalgia. "Em Serra Pelada eram dois objetivos: extrair o ouro para encher o cofre do Banco Central e continuar o trabalho político. Não via o tempo passar. Hoje qual é meu rumo? Para onde eu vou? Araguaia foi uma guerra, nunca esqueça." E bate na sua tecla preferida: "Se não houvesse determinação e pulso forte na erradicação da guerrilha, teríamos até hoje um movimento semelhante às Farc."
Estadão/montedo.com