EU TAMBÉM CONHEÇO O MIKE
Norton Luís Silva da Costa*
Embora nao sejamos vizinhos também conheço o Mike. Inglês mas brasileiro por adoção , que se casou com uma brasileira . Ele é um ex integrante das FFAA Inglesas, lutou nas Malvinas, quando jovem e no Iraque já ao final de sua carreira e foi lá onde conheceu a sua Maria, aqui de Curitiba que trabalhava na ONU.
O Mike é um cara legal, boa praça, inteligente e bem conversador e inesperadamente costuma tira da cartola preguntas sobre temas militares, assunto que domina nossas conversas.
Outro dia desses, ele me saiu com uma das suas : vocês militares brasileiros participaram de poucas guerras, combateram pouco embora tenham demonstrado enorme valor ,tem um excelente histórico em missões da ONU mas agora só os vejo atuando nas áreas sociais e de esfera governamental, totalmente fora dos parâmetros e dos manuais militares.Porque, e o treinamento militar para a defesa do País como fica e como anda?
Respondi que existe um dispositivo constitucional, o Art 142 da nossa Lei máxima que permite tal emprego , não de modo continuo e direto , e sim esporadica e eventualmente mas que fruto do chamado jeitinho brasileiro o Governo Federal consegui dar formas a esse quase permanente emprego legal de tropa. Alguns militares, movidos pelas circunstancias politicas, incluindo ai o apego desmedido ao cargo, inclusive tem até uma nova interpretação para o Art. da Constituição, afirmando que “subsidiário” quer dizer a mesma coisa, teria o mesmo significado de “missão principal”, que é a de treinar e se adestrar para o combate e para a defesa externa do Brasil.
O fato é que o Exército e as demais forçãs co-irmãs vem se transformando na solução para todas as falhas da máquina federal passando a atuar nas chamadas ações subsidiárias quase que diuturnamente.
Os homens que deveriam ser treinados para defender o Brasil em conflitos externos têm feito de tudo um pouco, combatem epidemias, vacinam animais,tapam buracos e pavimentam rodovias, buscam desaparecidos em calamidades, combatem os crimes transfronteriços e ambientais, ajudam, desabrigados, ensinam computação a crianças, constroem cisternas e distribuem água potável, apagam incêndios ,combatem Organizações Criminosas e pacificam áreas atuando até na guerra contra o contrabando, fazendo disso parte natural do cotidiano militar especifico das suas OM .
Também pudera pois como poderiam se adestrar com uma esquadra naval envelhecida e sem meios, sucateada quase a beira da fadiga operacional, uma Força Aérea Brasileira sem suas aeronaves de caça e com o existente em uso , sem as necessarias horas de voo e com uma frota também quase paralisada pela idade e exaustão dos componentes aéreos. O equipamento do Exército ainda pertence à geração das Guerra do Vietnam com parte do seu armamento leve em uso com a vida útil totalmente ultrapassada. Não temos a mínima capacidade logistica e de mobilização ,estamos com o parque industrial de defesa paralisado e estagnado a décadas futo da falta de investimentos e ainda temos precariedade de munição e falta de recursos para a manutenção indispensável do pouco existente ou em uso , tudo isso sendo mantido por intermédio de um mediocre orçamento anual cujo termo oficial é citado como apenas “razoável”. O despreparo do País para enfrentar uma crise externa é público e notório.Isso sem falar nem tocar no assunto remuneração ou vencimentos de todos os seus integrantes indistintamente , abaixo dos niveis criticos minimos e permitidos que dariam a tranquilidade familiar e pessoal pertinente e adequada ,mas que não são elevado em consideração pelos Comandantes em Chefia responsáveis e nem seus ditos Ministros .
Estas sao as FFAA de um País que detem a 6ª economia mundial, e este é o nosso Exército na sua versão moderna e atualizada: cumpre as atividades subsidiarias a si impostas , muitas vezes contrariando interesses internos, com afinco, denodo desmedido e orgulho transformando-as em migalhas de seu ganha pão, sempre lutando pela melhoria e pela manutenção boa imagem da Força junto a opinião pública e deixando de lado os princípios básicos e elementares que traduzem sua verdadeira missão.
Isso sem citar que estas chamadas atividades subsidiárias nem ao menos fazem parte dos currículos elencados nas escolas militares , não são estudadas nem muito menos fazem partes dos manuais de combate em uso e vai se adaptando de ações previstas para a guerra em ações de tempo de paz como se isso fosse uma modernidade e que o nosso futuro como intitução militar dependesse exclusivamente disso para a sobrevivência como instituição militar armada..
Neste caso os recursos financeiros se tornam o principal elemento motivador para assim continuar agindo como se normalidade fosse!
São dispositivos estes ditos constitucionais que nos impõe este tipo de missão que acabam carreando grandes volumes de recursos financeiros que terminam dando uma pequena sobrevida ao nosso minguado e parco orçamento,permitindo até um adestramento limitado em termos operacionais coisa que nós os militares brasileiros não gostamos nem muito menos desejamos que venha a se tornar permanente.....mas isso o Mike não sabe, nem eu tenho coragem de contar!
*Cel R/1