10 de novembro de 2012

Governo oficializa anistia post mortem do terrorista Carlos Marighella. Não duvidem se um dia ele virar herói nacional.

Governo oficializa anistia política do terrorista Carlos Marighella
Então tá. Leiam o que informa a Agência Brasil. Volto no próximo post, é claro.

Carlos Marighella
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, oficializou a anistia post mortem de Carlos Marighella, guerrilheiro morto pelo regime militar em 1969.
A declaração está na Portaria 2.780, publicada hoje (9) no Diário Oficial da União. Marighella já havia recebido o reconhecimento em dezembro passado, na 6ª Sessão de Julgamento da Caravana da Anistia, realizada em Salvador.
Marighella foi militante do Partido Comunista Brasileiro e um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar depois de 1964. Ele morreu assassinado em 1969 em São Paulo por agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). Antes da anistia política, o Estado já havia reconhecido, em 1996, que fora responsável pela sua morte.
O guerrilheiro iniciou a militância aos 18 anos de idade, quando se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. Preso em 1936 durante a ditadura de Getulio Vargas, foi eleito deputado federal constituinte em 1946 e, no ano seguinte, foi cassado. Quase 20 anos depois, foi preso novamente pelo Dops. Em 1968, fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN). Em 5 de dezembro passado, quando a Comissão de Anistia se reuniu em Salvador, se completaram 100 anos do seu nascimento.
De acordo com informação prestada pelo Ministério da Justiça em dezembro, a família de Marighella não solicitou reparação econômica, apenas reconhecimento da perseguição ao militante. No total, foram publicadas na edição de hoje do Diário Oficial da União 34 portarias tratando de declaração de anistia, ratificação de condição de anistiado político e concessão de reparação indenizatória.
Agência Brasil

O herói que achava o terrorismo nobre e honrado, que defendia sabotagem a trens de passageiros e que pregava a emboscada para executar o inimigo sem chance de defesa

Reinaldo Azevedo
No post anterior, vocês ficam sabendo que o terrorista Carlos Marighella é agora, oficialmente, um anistiado político. O texto que reproduzo é da Agência Brasil. Na sua suposta objetividade, transforma um dos terroristas mais virulentos do país numa espécie de herói. Não tenho compromisso com A ou com B. Tenho compromisso com os fatos. Ali se diz que Marighella foi militante do Partido Comunista Brasileiro. Foi também. Mas não se tornou notável por isso. O que agigantou — aos olhos de alguns — a sua biografia foi ter rompido com o partido, de que era dirigente (oficialmente, foi expulso) e fundado a Ação Libertadora Nacional (ALN), o mais letal dos grupos terroristas de então.
Ele também tinha a pretensão de ser um pensador e um teórico da luta armada. Escreveu um Minimanual do Guerrilheiro Urbano em que faz a defesa aberta, explícita, sem meias-palavras, do terrorismo. No texto da Agência Brasil, ele foi “um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar”. Trata-se de uma verdade circunstancial e de uma mentira essencial. Na circunstância, de fato, a luta armada era contra o regime militar. Na essência, Marighella recorreu às armas para instaurar um regime comunista no Brasil. Ele é a maior evidência de que é pura cascata essa história de que o AI-5 estreitou de tal sorte o espaço político que só restou partir para o pau. Em 1965, com a ditadura ainda vivendo uma fase relaxada, escreveu o livro “A Crise Brasileira”, em que ataca justamente o PCB por se opor à luta armada. Pouco depois, escreve “Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil”. O PCB o expulsa em 1967, e ele funda a ALN no começo der 1968. O AI-5 só foi baixado no dia 13 de dezembro de 1968. Mas prevalece a mentira oficial, que será referendada pela Comissão da Verdade (!), segundo a qual a luta armada queria derrubar a ditadura militar para instaurar a democracia no país e só existiu por causa do AI-5…
Curioso! As mesmas forças que buscam formas de driblar a Lei de Anistia para condenar, nem que seja moralmente, “agentes da repressão” se esforçam para transformar Marighella em herói. Muito bem. No dia 4 de novembro de 1969, ele foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, em São Paulo, e foi morto a tiros por agentes do DOPS, liderados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. O histórico de ações terroristas da ALN já era grande. Muito bem! Atribui-se justamente à “embocada” o aspecto mais moralmente doloso da ação do DOPS. Que ironia!
Se vocês clicarem aqui, poderão ler a íntegra do minimanual. Marighella, o próprio, era defensor de emboscadas e recomendava aos guerrilheiros que recorressem a ela. e sem piedade: era pra matar!!! Ou por outra: antes de outro qualquer, ele próprio reconhecia como válido o método a que recorreu o DOPS para matá-lo. Reproduzo trecho do texto de sua autoria que trata do assunto. Vejam que tipo de herói está sendo glorificado (em vermelho):

Emboscada
As emboscadas são ataques tipificados por surpresa quando o inimigo é apanhado em uma estrada ou quando faz que uma rede de policiais rodeie uma casa ou propriedade. Uma mensagem falsa pode trazer o inimigo a um lugar onde caia em uma armadilha.
O objeto principal da tática de emboscada é de capturar as armas e castigá-los com a morte.
As emboscadas para deter trens de passageiros são para propósitos de propaganda, e quando são trens de tropas, o objetivo é de eliminar o inimigo e tomar suas armas. O franco-atirador guerrilheiro é o tipo de lutador ideal especialmente para as emboscada porque pode se esconder facilmente nas irregularidade do terreno, nos trechos dos edifícios e dos apartamentos sob construção. Desde janelas e lugares escuros pode mirar cuidadosamente a seu alvo escolhido.
As emboscadas tem efeitos devastadores no inimigo, deixando o nervoso, inseguro e cheio de temor.
E então? Que fique claro: se havia a chance de capturar Marighella vivo, ele não deveria ter sido morto na operação. Mas não venham transformar em herói alguém que preconiza emboscada contra trens de passageiros, que prega — e, de fato, realizou — execuções sumárias, que defende a ação de francos atiradores. É esse o herói sem mácula?

“O terrorismo enobrece e honra”
“Como você ousa, Reinaldo, chamar Marighella de terrorista?” Ele é que chamava A SI MESMO de terrorista, com a diferença que achava isso positivo. Também está em sua manual (em vermelho):
A acusação de “violência” ou “terrorismo” sem demora tem um significado negativo. Ele tem adquirido uma nova roupagem, uma nova cor. Ele não divide, ele não desacredita, pelo contrário, ele representa o centro da atração. Hoje, ser “violento” ou um “terrorista” é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada, porque é um ato digno de um revolucionário engajado na luta armada contra a vergonhosa ditadura militar e suas atrocidades.

É a cabeça de um terrorista. Contra “as atrocidades”, por que não outras atrocidades, não é mesmo? Marighella nada tinha também contra “execuções” — na hipótese de que tenha sido executado. Ao contrário. Era uma das ações que ele achava legítimas para o guerrilheiro urbano. Escreveu a respeito (em vermelho):

Execuções
Execução é matar um espião norte-americano, um agente da ditadura, um torturador da policia ou uma personalidade fascista no governo que está envolvido em crimes e perseguições contra os patriotas, ou de um “dedo-duro”, informante, agente policial, um provocador da policia.
Aqueles que vão à polícia por sua própria vontade fazer denúncias e acusações, aqueles que suprem a polícia com pistas e informações e apontam a gente, também devem ser executados quando são pegos pela guerrilha.
A execução é uma ação secreta na qual um número pequeno de pessoas da guerrilha se encontram envolvidos. Em muitos casos, a execução pode ser realizada por um franco atirador, paciente, sozinho e desconhecido, e operando absolutamente secreto e a sangue frio.

A ALN foi a organização terrorista que mais recorreu ao “tribunal revolucionário” para decretar a morte de pessoas consideradas inimigas. Atenção! Há casos de eliminação de seus próprios camaradas. Se vocês clicarem aqui, lerão um post em que um ex-integrante do comando da ALN conta como matou um colega porque havia a suspeita de que ele estivesse passando informações à Polícia. Constatou-se depois que a informação era falsa. O assassino, ainda hoje, diz não se arrepender. Nota: o que matou é também um anistiado e um indenizado. O que morreu desapareceu na poeira da história, a exemplo das mais de 120 pessoas assassinadas pelos terroristas.
Se estamos em regime de “Comissão da Verdade”, que se conte a verdade inteira. No país da jabuticaba e da pororoca, no entanto, o objetivo da Comissão da Verdade é oficializar as mentiras que servem aos vencedores da hora. Poucos se atreverão a escrever o que escrevo? E daí? Desde quando maioria, em qualquer grupo, é necessariamente sinônimo de verdade?
Veja/montedo.com

Nota do editor:
Neste vídeo, o ex-terrorista Carlos Eugênio da Paz conta, sem esconder a satisfação, como executou Henning Albert Boilesen (1916-1971), então presidente do grupo Ultra, que era acusado de organizar a arrecadação de dinheiro entre empresários para financiar a Operação Bandeirantes (Oban), que combatia os terroristas de esquerda.



Voltemos a Reinaldo Azevedo:

Foi seu único crime? Não! Ele já confessou num texto que tem sangue pingando das mãos — sem arrependimento. Aquele era o seu trabalho. O “Tribunal Revolucionário” de Carlos Eugênio também matava companheiros. No dia 19 de novembro de 2008. Augusto Nunes narrou, no Jornal do Brasil, um outro assassinato cometido pelo valentão. A vítima era Márcio Leite de Toledo, membro da cúpula da ALN. Reproduzo um trecho:
“Márcio Leite de Toledo tinha 19 anos quando foi enviado a Cuba pela Aliança Libertadora Nacional para fazer um curso de guerrilha. Ao voltar em 1970, tornou-se um dos cinco integrantes da Coordenação Nacional da ALN. Com 19 anos, lá estava Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz. Em outubro, durante uma reunião clandestina, os generais garotões souberam da morte de Joaquim Câmara Ferreira, que em novembro do ano anterior substituíra o chefe supremo Carlos Marighela, assassinado numa rua de São Paulo. Márcio propôs uma pausa na guerra antes que fossem todos exterminados.
Já desconfiado de Márcio – não era a primeira vez que divergia dos companheiros – Carlos Eugênio convenceu o restante da cúpula de que o dissidente estava prestes a traí-los e entregar à polícia o muito que sabia. Montou o tribunal que aprovou a condenação à morte e ajudou a executar a sentença no fim da tarde de dia 23 de março de 1971, no centro de São Paulo. Antes de sair para o encontro com a morte, o jovem que iria morrer escreveu que “nada o impediria de continuar combatendo”. Não imaginava que seria impedido por oito tiros.
O assassino quase sessentão admite que o crime foi um erro, mas não se arrepende do que fez. Na guerra, essas coisas acontecem, explica o justiceiro impiedoso. Depois do crime, ele se tornou muito respeitado pelos companheiros, que o conheciam pelo codinome: Clemente.”

Carlos Eugênio, acreditem, responde a Augusto, nestes termos:
“A lembrança dessa época, para mim, é lembrança de uma luta que não me arrependo de ter travado. Era uma luta armada, era dura, precisamos todos, humanistas que éramos, aviltar nossas entranhas, nosso sentimentos, nossas convicções. (…)Tenho sangue em minhas mãos? É claro que tenho. Não era pra lutar? Não era pra fazer uma guerra de guerrilhas? Dá para medir quem estava mais certo? Todos estávamos errados, pois fomos todos derrotados. (…)Mas não se esqueçam também que o sangue que escorre de minhas mãos escorre das mãos de todos aqueles que um dia escolheram o caminho das armas para libertar um povo. E que defenderam a luta armada, mesmo sem ter dado nenhum tiro (…)

Numa coisa, ao menos, ele está certo, não é? Se a pessoa integrou um bando armado, que matava, traz sangue nas mãos, ainda que não tenha dado um tiro…
Veja/montedo.com

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