Por muito que nos queiramos manter discretos é impossível escapar-lhes. São jovens, andam aos magotes e enxameiam o Transiberiano. Os soldados russos são um dos must da mais longa travessia de comboio do mundo.
Estava a esticar as pernas numa das poucas vezes por dia que o comboio pára por meia-hora, de cá para lá pela plataforma a ritmo acelerado a aproveitar os poucos minutos sobrantes depois de ter comprado um pão e algo para lhe pôr dentro quando um jovem me vem cumprimentar. Pergunta-me o meu nome, diz-me o dele e começa a falar em russo. Passado pouco tempo já estou rodeado de homens jovens, todos soldados em licença.
Chego à carruagem-restaurante às 10 da manhã para tomar o pequeno-almoço e já lá está um soldado de cerveja na mão para matar-o-bicho. Ao terceiro ou quarto gole perde a timidez e pergunta-me o nome, diz-me o dele e começa a falar em russo.
É impossível escapar aos soldados no Transiberiano e o melhor que há a fazer é alinhar na conversa em que ninguém se entende, ver umas fotografias, assistir a uns vídeos de cantorias nos smartphones e ir sempre acompanhando os brindes feitos a um ritmo constante.
Bebe-se muito no Transiberiano. Chá, cerveja ou vodka. Seja qual for a bebida esta é uma constante e há que acompanhar os líquidos (principalmente se alcoólicos) com snacks. E depois, claro, há que conseguir sobreviver. Não apenas à bebida mas também à curiosidade e às conversas e atitudes dos soldados, que não perdem nenhuma oportunidade para se meterem com as funcionárias da carruagem-restaurante e que na falta de bom vocabulário em inglês conseguem ser exaustivamente repetitivos.
Havia um que de cinco em cinco minutos me perguntava porque é que eu tinha barba e usava o cabelo comprido. A minha resposta era sempre a mesma, ao princípio com um sorriso mas depois já automaticamente: Não sou militar.
Trajeto do lendário Expresso Tansiberiano: 9.289 km (blog mochileiros) |
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