Medida, considerada extrema, pode tanto ser eficaz como gerar uma radicalização
do movimento ao estilo 2013
Igor Gielow
SÃO PAULO
O governo federal vai usar as Forças Armadas para liberar estradas
bloqueadas por caminhoneiros caso não haja um refluxo no movimento, que entrou no quinto dia nesta sexta
(25).
A medida, considerada extrema e indesejada, já vinha sendo avaliada pela
área de inteligência e segurança do governo. Na noite de quinta, a Casa Civil
havia anunciado uma trégua com as principais entidades do setor,
congelando o preço do diesel que move os caminhões por 30 dias e pedindo
duas semanas para retomar a negociação.
Até o fim desta manhã, contudo, não havia sinais de arrefecimento daquilo
que os caminhoneiros chamam de greve, mas que o governo já identifica
majoritariamente como um locaute - quando empresários
incentivam a disrupção de um setor econômico para tentar auferir
vantagens, o que é ilegal.
Ainda assim, há também um fator de
espontaneidade na paralisação que intriga e preocupa o governo, temeroso
de uma repetição nas estradas do cenário urbano dos protestos de junho de
2013.
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse nesta manhã que era preciso
esperar para que o acordado com as associações na quinta chegasse à base,
mas convocou uma reunião de emergência no Planalto para avaliar o contexto. ns pontos do país, o estrangulamento causado pela ausência de
transporte de combustível chegou a níveis drásticos. O aeroporto de Brasília,
terceiro mais movimentado e maior centro de distribuição de conexões do
país, está sem querosene de aviação, por exemplo.
O governo hesita em usar o Exército, numa semana marcada por inação
política e diversos movimentos contraditórios e desastrosos por parte de
seus aliados na chefia do Legislativo. O agravamento exponencial da crise na
quinta levou àquilo que, no Ministério da Defesa, se chama de recurso ao
“posto Ipiranga” —referência, irônica no contexto atual, à propaganda da
distribuidora de combustíveis que promete resolver todos os problemas do
cliente em uma visita. No caso, o “posto Ipiranga” são os militares.
Inicialmente, o Ministério da Segurança Pública defendia que um
desbloqueio fosse feito com forças regulares, das PMs estaduais e da Polícia
Rodoviária Federal. Durante a quinta, monitoramento feito pelo Exército
indicou que os bloqueios estavam sendo feitos de forma ordeira, embora
aqui e ali fossem registrados incidentes. Com a demora na solução
negociada, há uma crescente leitura de que a medida mais drástica poderá
ser mais efetiva. Não será algo inédito, se ocorrer. Em 1999, o então
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegou a convocar o
Exército para a mesma missão, e a mera ameaça debelou o movimento.
O perigo mora, para o governo, no exato contrário: se a medida, a exemplo
da repressão policial que incendiou os protestos de 2013, acabe por
radicalizar o movimento. O fato de a gestão do presidente Michel Temer
(MDB), significativamente ausente das discussões, ter virado um para-raios
de insatisfação popular em praticamente qualquer decisão que tome
também pesa na equação.
FOLHA/montedo.com