Adiei o quanto foi possível a decisão de escrever o que vai
abaixo. Afinal, sou um ferrenho defensor do processo democrático na política,
entendo que o País deve encontrar seu caminho e isso só se dá com o
fortalecimento das instituições e respeito à Constituição, o que –obviamente –
exclui processos de exceção, como a tal Intervenção Militar Constitucional, uma
excrecência que carrega incoerência na própria definição.
Pensando assim, devo aplaudir a campanha organizada em prol
da candidatura de militares Brasil
afora, certo?
Como diria o imortal Pedro Pedreira, ‘há controvérsias’.
Professor Mourão
Assisti por três vezes a entrevista do general Mourão ao
UOL. Não tenho dúvidas: o movimento é hierárquico, está sob o seu Comando e tem o total apoio e suporte
do Clube Militar, por ele presidido. A entidade – é bom lembrar – não admite
praças em seus quadros.
A fala do general é professoral e reflete a postura de quem se
acostumou a não ser questionado: Mourão não sugere, ensina, mesmo que seja o
óbvio: “Executivo e Legislativo são coisas totalmente distintas!”; é taxativo: “parte
da população tema tendência de ficar aguardando que o coco caia na cabeça: não
pode ser assim!”; “tem que ser extremamente transparente!” adverte aos candidatos
militares sobre o uso do crowdfunding,
mais conhecido como ‘vaquinha-on-line’.
A turma da Academia
Além de Bolsonaro, Mourão cita nominalmente quatro
candidatos na entrevista: seu companheiro de turma – faz questão de dizer o
nome completo - ‘Guilherme Galvão de Oliveira Pinto’, candidato a deputado
federal pela Bahia; o general Paulo Chagas, concorrendo ao governo do DF; o general
Peternelli e o tenente-coronel Zucco,
que buscam vaga na Câmara Federal por São Paulo e Rio Grande do Sul,
respectivamente.
Ecos de 1964
No universo do general e do grupo que ele representa não há - e isso é muito claro - espaço para Kelma Costa, Ivone Luzardo,
Genivaldo Silva, Mirian Stein ou para candidatos militares de baixa patente. São os ecos de 1964, quando o discurso de Jango em uma assembleia de sargentos decretou a queda do governo.
Sigam-me os que forem militares!
O movimento capitaneado por Mourão, ao mesmo tempo em que sinaliza
que seu objetivo é seduzir o eleitorado civil, parece ter a convicção de que os
militares das Forças Armadas seguirão à reboque. É um erro! O fato de boa parte
dos fardados apoiar Bolsonaro não implica que esse mesmo contingente eleitoral,
na sua grande maioria constituído de praças e familiares, veja com bons olhos a
ideia de oficiais com mandato falando em seu nome no Congresso Nacional.
Bolsonaro e o valor
do voto
Experiente, Bolsonaro acena para o movimento dos estrelados
sem descuidar de manter sua popularidade entre o pessoal do andar debaixo. Diferentemente
de Mourão e seus comandados, ele sabe muito bem que o voto do general vale o
mesmo que o do cabo das baias.
Enfim...
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.