Paralisação tem impactado distribuição de remédios pelo Brasil (Felipe Raul/Estadão Conteúdo) |
Lígia Formenti e Roberto Godoy
Brasília
Com dificuldade para escoar remédios para Estados por causa da greve dos
caminhoneiros, o Ministério da Saúde solicitou auxílio da Força Aérea Brasileira
para transporte de produtos. Parte deles tem estoques suficientes para apenas dois
dias.
A pasta pediu ainda escolta das Forças Armadas para transportar por via terrestre os
medicamentos entre os Estados e auxílio das companhias aéreas para que os
produtos sejam levados em caráter prioritário. Na lista, estão medicamentos para
tratamento de câncer, para pacientes transplantados, remédios de alto custo, além
de vacinas e drogas usadas na terapia anti-HIV.
O Ministério da Saúde classificou a cesta de produtos comprada de forma
centralizada por critério de prioridade. Para casos urgentes, estoques são
suficientes para dois dias. Esse é o caso, por exemplo, de alguns
imunossupressores (indicados para pacientes que fizeram transplante) e do
trastuzumabe, usado no tratamento de câncer de mama. Há ainda produtos cujo
abastecimento é considerado grave: com quantitativo suficiente para atender 5 dias
de demanda. Há ainda itens considerados em situação de "observação", com
estoques para 10 dias.
As dificuldades também são encontradas no setor varejista. Farmácias e drogarias
continuam sem receber medicamentos, afirmou o presidente da Associação
Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias, Sérgio Mena Barreto. De acordo com
ele, transportadoras, com medo de perder a mercadoria, preferem manter
carregamentos em seus armazéns. "Os bloqueios liberam apenas medicamentos
para hospitais, não para o comércio varejista", disse.
Para Mena Barreto, se a situação perdurar, haverá desabastecimento importante de
remédios ainda esta semana. "A situação é preocupante", resume. Barreto afirma
que, no Paraná, mesmo caminhões com selos da Defesa Civil não conseguem
ultrapassar os bloqueios.
Quando a barreira é ultrapassada, o problema é apenas amenizado. Isso porque,
entregue a carga, o caminhão vazio não consegue fazer o caminho de volta. "E aí,
novas entregas ficam prejudicadas", afirma Mena Barreto.
Transplantes
Embora considerado como cirurgia de emergência, a realização de transplantes no
País sofreu uma redução nos últimos dias, também em virtude da paralisação.
"É um efeito cascata. Nessa situação, diminuem as notificações de possíveis
doadores e, com isso a captação e, em consequência, as cirurgias", afirmou o diretor
superintendente do Hospital do Rim da Universidade Federal de São Paulo, José
Osmar Medina Pestana.
Os números mostram o impacto. Mensalmente, são feitos cerca de 80 transplantes
no hospital. Este mês, foram 60.
O presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, Paulo Pêgo, tem
avaliação semelhante. Sem falar em dificuldades. Neste sábado (26), um transplante
de pulmão somente pode ser realizado graças a escolta feita pela Polícia Militar de
São Paulo.
Forças armadas entram em ação
A FAB informou que vai designar ainda nesta segunda-feira (28) dois aviões
cargueiros do primeiro grupamento do Rio de janeiro (Ala 11) para o abastecimento
de hospitais do País.
Os cargueiros Hércules C-130 vão decolar da capital fluminense para a cidade de
Montes Claros (MG). Lá, vão receber mil caixas de medicamentos e insumos
hospitalares, que representam cerca de 24 toneladas de remédios. Cerca de 16
toneladas seguirão para as cidades de Recife e Caruaru, em Pernambuco, ainda
nesta segunda-feira. As oito toneladas restantes serão distribuídas na terça-feira,
ainda sem destinação específica.
No Estado de São Paulo, o porto de Santos está guarnecido desde domingo por 250
fuzileiros navais que chegaram ao terminal marítimo a bordo do navio Bahia,
também deslocado do Rio de Janeiro. Os fuzileiros são apoiados por um esquadrão
de blindados Piranha e por um helicóptero empregado em reconhecimento aéreo.
Segundo o Comando da Marinha, a missão do grupo é garantir as operações do
porto. O Bahia é um navio de combate anfíbio comprado pelo governo do Brasil, na
França, em 2015. Desloca 11.300 toneladas e mede 168 metros, o equivalente a um
campo e meio de futebol.
Pode receber 450 fuzileiros além dos 300 tripulantes, veículos de desembarque,
blindados e 3 helicópteros.
UOL/montedo.com