Em entrevista a GaúchaZH, o presidente eleito do Clube Militar e porta-voz informal do alto oficialato interpretou como ataque subliminar ao Exército a divulgação de documentos da CIA
Em junho Mourão assumirá a presidência do Clube Militar (André Ávila / Agência RBS) |
Humberto Trezzi
Em junho próximo o general do Exército Antônio Hamilton Martins Mourão, que acaba de ir para a reserva, assumirá a presidência do Clube Militar. Os integrantes da organização funcionam como porta-vozes dos oficiais aposentados das Forças Armadas e, também, como representantes do oficialato da ativa. E foi como futuro condutor da entidade que ele concordou em comentar, para GaúchaZH, o impacto do memorando da CIA que aponta que o ex-presidente Ernesto Geisel autorizou a execução de opositores durante o regime militar (1964-1985).
Mourão se atritou com o governo federal em 2016 quando era Comandante Militar do Sul. Na época, ele foi criticado por tolerar uma homenagem feita por militares subordinados ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado por entidades de direitos humanos de torturador durante o regime militar. Nesta breve entrevista a GaúchaZH, ele evitou polemizar sobre o passado, mas analisou o documento da CIA:
O que o senhor achou do documento da CIA que fala que as execuções de integrantes da esquerda armada no Brasil foram autorizadas pelo presidente Ernesto Geisel e endossadas pelo futuro presidente João Figueiredo (ambos já falecidos)?
Pois é... dei uma olhada no documento. Tem de ver a origem disso. Sabemos que as embaixadas fazem relatos aos governos sobre o que se passa no país. Até pode ser verdadeiro. Mas é curioso que, em nenhum momento do texto, é mencionado quem estava na reunião dos generais (o presidente e os que comandavam o Centro de Inteligência do Exército - CIE). Quem passou a informação para a CIA? O Miltinho (general Milton Tavares de Souza, que estava saindo do CIE)? O Figueiredo, que se preparava para chefiar o SNI (Serviço Nacional de Informações)? Não sabemos.
O senhor tem dúvidas sobre a autenticidade do documento?
Olha, qualquer documento confidencial tem um nível de veracidade. Alguns reproduzem informações comprovadamente verídicas, outros trabalham com informe provavelmente verídico e, por último e menos confiáveis, os que trabalham com dados que podem ser verdadeiros. Não sei qual o nível desse documento, quem o produziu e muito menos quem foi o informante da CIA. É preciso ler com reservas. Até porque o vazamento desse tipo de notícia pode ter objetivos políticos.
Por exemplo?
A quem interessa vazar informações sobre envolvimento de militares em mortes, num momento assim do país? A quem interessa manchar a reputação das Forças Armadas, que segundo pesquisas são as instituições em que a população mais confia, hoje, no Brasil? Gostaria de saber por que esse documento surgiu justo agora, num momento turbulento da nação.
GAÚCHAZH./montedo.com