3 de outubro de 2010

EXÉRCITO NAS ELEIÇÕES: ESQUEMA DE GUERRA NA AMAZÔNIA

Roberto Godoy
O seringueiro Adelino Cavalcanti, um paraense que já morou em Santos, foi auxiliar de cozinha da Marinha Mercante e voltou para a Amazônia há 13 anos, vai votar para presidente da República pela quarta vez, "mas só porque a Força Aérea traz a urna até Silves, onde a Marinha pega a carga para levar até o Lago do Igarapé Açu", como contou ao Estado pelo telefone satelital da missão metodista de Altamira.
Adelino liderou o movimento para que uma comunidade de 25 famílias que vive no sistema de lagos formado pelos Rios Itabani, Igarapé Grosso, Urubu e Açu recebesse facilidades para a votação desde 1998. "Tinha 105 eleitores registrados. Agora, são só 75. Muita gente foi embora por causa da seca", diz. Ainda assim, haverá eleição no vilarejo construído sobre pilotis. Militares vão levar hoje os equipamentos e o pessoal de apoio até o local. Adelino, 60 anos e três filhos pequenos, é o encarregado das providências prévias. "Não é muita coisa: é um gerador, um alojamento e a chamada do povo."
949 horas no ar. Para transportar a máquina eleitoral até áreas de acesso difícil como o Igarapé Açu, no meio da Amazônia, dentro de Altamira, o maior município do mundo, com 161.445 km², quase o tamanho do Uruguai, as Forças Armadas montaram uma enorme operação.
O Comando da Aeronáutica é a principal plataforma do esquema que envolve Marinha e Exército. De acordo com o plano original, o deslocamento de 73 toneladas de carga vai exigir entre 949 e mil horas de voo. São 1.760 funcionários dos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE), 495 urnas, cabines, documentação, kit para a transmissão eletrônica de dados, kit de apuração dos resultados, baterias de longa duração e centenas de discos de gravação.
A Força Aérea mobilizou sete diferentes tipos de aviões e helicópteros de sete esquadrões diferentes. A frota é formada por modelos como o C-95 Bandeirante, o C-97 Brasília, o C-98 Caravan, e o grande C-105 Amazonas, todos turboélices de carga e transporte de pessoal. O helicóptero pesado H-60 Blackhawk, e o médio H-1H, cobrirão as áreas onde não há pistas de pouso - aldeias e postos avançados principalmente. "No Acre, ao menos dez localidades não teriam como participar da eleição sem o apoio logístico das Forças Armadas", acredita o juiz Maydano Fernandes, do TRE do Acre.
A FAB vai levar urnas para pontos como Marechal Thaumaturgo, 13 mil habitantes, a 600 quilômetros de distância da capital, Rio Branco, e Santa Rosa do Purus, a 300 km, mas sem comunicação por rodovia, "e agora com a rede fluvial comprometida pela seca", explica Maydano. Haverá ao menos uma missão glamourosa: um C-95 Bandeirante seguiu para Fernando de Noronha, um arquipélago de 21 ilhas e 26 km², onde votam 1.200 eleitores.
Salas de situação. A operação está sendo coordenada a partir de duas salas de situação, ambas em Brasília: a do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a do Ministério da Defesa. As unidades são equipadas com recursos de comunicações digitais por satélite e recebem dados em tempo real enviados por diversas fontes. "O objetivo é dar velocidade ao processo de decisão", explica o ministro Nelson Jobim.
Na instalação da Defesa só entra quem usa um cartão codificado. O acesso é feito pelo gabinete do ministro. A longa mesa é cercada de grandes monitores de cristal líquido, computadores e radiotransmissores invioláveis. Sentam-se ali oficiais dos três comandos, operadores dos sistemas e técnicos dos setores implicados na operação.
Esse time está monitorando o trabalho do efetivo do Comando do Exército em 365 municípios de 11 Estados e localidades onde as tropas vão garantir a preservação da lei e da ordem. Pacote fechado: cada grupo leva sua própria infraestrutura - helicópteros, barracas, caminhões, geradores, rações e medicamentos.
A Marinha vai ao Pará, Maranhão, Santa Catarina e Amazonas. Nos rios da Região Norte, a preocupação é com o transporte ilegal. A força naval mobilizou uma pequena frota de lanchas, eventualmente armadas. 

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