Influência das milícias nas eleições pode levar Exército às ruas do Rio
Maurício Thuswohl, especial para a Rede Brasil Atual
O TRE do Rio de Janeiro já pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que peça reforço do Exército em algumas áreas (Foto: Wilson Dias. Arquivo Agência Brasil) |
Rio de Janeiro – Foi a cena mais emblemática da campanha eleitoral no Rio de Janeiro até o momento. Na movimentada tarde de sábado (7) do centro de Campo Grande, na zona oeste da cidade, um homem trajando calça jeans e camiseta branca distribuía panfletos e conversava com alguns passantes, observado de perto por vários policiais fardados e à paisana que não lhe tiravam os olhos de cima. O homem era o deputado estadual Marcelo Freixo, candidato a prefeito pelo PSOL, e os 20 policias espalhados em quatro carros e duas motos, além dos três seguranças pessoais, estavam ali para protegê-lo, já que Freixo é ameaçado de morte pelos líderes das milícias que controlam a região.
Quatro anos após ter presidido a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e pedido a prisão 225 líderes milicianos – inclusive parlamentares – esta foi a primeira vez que Freixo colocou os pés em Campo Grande, bairro dominado pela maior milícia em atividade na cidade. Ao mesmo tempo em que garantia a proteção do candidato, o aparato policial que o acompanhou em sua visita à zona oeste evidenciou que o Estado não descarta uma demonstração de força dos milicianos em seus principais redutos eleitorais.
A preocupação com a possível influência das milícias nas eleições municipais fez também com que o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), desembargador Luiz Zveiter, encaminhasse ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no fim de junho uma solicitação para que tropas do Exército ocupem imediatamente alguns pontos da cidade. O objetivo da presença dos militares, segundo o tribunal, é impedir a pressão que os milicianos podem exercer sobre os eleitores em determinados bairros e localidades.
Em visita ao Rio no dia 2 de julho, a presidenta do TSE, ministra Carmem Lúcia, admitiu que o tribunal deverá atender ao pedido do TRE-RJ e solicitar ao Ministério da Defesa a presença do Exército nas ruas do Rio já durante a campanha. “Já tivemos uma primeira reunião, muito positiva, com as Forças Armadas. Existe o entendimento de que é preciso dar tranqüilidade ao Judiciário em alguns estados do país”, disse a ministra.
Se confirmada, esta será a segunda vez consecutiva que forças federais atuarão nas eleições municipais do Rio de Janeiro para coibir a ação das milícias. Em 2008, na chamada Operação Guanabara, tropas da Força Nacional de Segurança (FNS) garantiram que candidatos pudessem fazer campanha em áreas da cidade dominadas por milicianos.
Mapeamento
Antes da chegada do Exército às ruas do Rio para as eleições, o TRE-RJ pedirá aos órgãos de inteligência das polícias Civil e Militar que façam um mapeamento para decidir quais bairros e comunidades receberão a atenção prioritária das tropas: “Além das áreas sob influência das milícias, as comunidades onde foram instaladas Unidades de Policia Pacificadora (UPPs) também poderão ter vigilância militar durante a campanha. O objetivo é dar tranqüilidade à população na hora de decidir seu voto”, diz Zveiter.
O PSOL solicitou oficialmente ao TRE-RJ, à Secretaria Estadual de Segurança Pública e à Polícia Militar a garantia do direito de ir e vir e a proteção física de seu candidato. Marcelo Freixo afirma esperar poder fazer sua campanha sem impedimentos: “É preciso que a segurança de todos os candidatos, assim como sua circulação por toda a cidade, seja garantida ao longo de toda a campanha, e não somente nos dias que antecedem as eleições”, diz.
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