Aspecto relevante para o incentivo à participação da reserva na política é a excelência dos nossos quadros.
Sérgio Pinto Monteiro*
Militares na política foi sempre um tema polêmico. Não iremos abordá-lo, já que esse não é o nosso objetivo. Entretanto, vale lembrar que a história registra uma intensa participação das forças armadas no cenário político brasileiro. A proclamação da República, o movimento Tenentista dos anos 20, a presença dos militares na Revolução de 30, o apoio ao Estado Novo, a eleição do General Eurico Gaspar Dutra presidente da República em 1945, a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes nas eleições presidenciais de 1945 e 1950, a decisão do ministro da Guerra, General Henrique Teixeira Lott, de garantir a posse do presidente Juscelino Kubitschek em 1956, a deposição de João Goulart pelo movimento civil-militar de 1964, são exemplos bem conhecidos da presença de militares no processo político brasileiro. Também relevante nesse aspecto foi a criação, em 1949, da Escola Superior de Guerra, com o objetivo inicial de desenvolver e consolidar, em militares e civis, conhecimentos necessários ao exercício de funções de planejamento, assessoramento e direção superior. As doutrinas formuladas pela ESG tiveram importante repercussão na área política, em especial durante os chamados governos militares.
São, também, conhecidos os regulamentos que impedem os militares de, enquanto em serviço ativo, desenvolverem atividades político-partidárias. Tais restrições - a nosso ver adequadas - criaram, entretanto, um estigma contra os militares da reserva que se lançam na política partidária e que, embora decadente, ainda hoje prevalece em alguns setores das forças armadas. O argumento, via de regra, é que, despreparados para o exercício da atividade política - com todas as suas problemáticas e vicissitudes - os militares acabariam sendo envolvidos pelo sistema onde, quase sempre, se desprezam os princípios éticos - e demais valores - praticados na caserna, com grave repercussão no elevado conceito que a tropa desfruta junto à população.
Apesar de reconhecer os riscos envolvidos, não podemos ignorar os novos tempos. A sólida formação dos militares de hoje onde, paralelamente ao profissionalismo, a carreira também é focada em cidadania e interação com o meio civil, parece-nos que reduziria, expressivamente, a possibilidade de cooptação pelo sistema.
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política
é que serão governados pelos que se interessam”. (Arnold Toynbee)
Outro aspecto relevante para o incentivo à participação da reserva na política é a excelência dos nossos quadros. A imensa maioria dos integrantes da reserva estão aptos - intelectual e fisicamente - para o desenvolvimento de atividades políticas. Seus atributos, onde se destaca o exercício da liderança aliada à experiência adquirida na carreira, permitem supor que antigos chefes militares não teriam dificuldade em transformar-se em líderes políticos de elevado conceito junto ao povo, ávido por mudanças de perfil nos quadros dirigentes da nação.
Assistimos hoje, perplexos e estarrecidos, o baixíssimo nível da classe política brasileira onde prevalece, quase sempre, a “doutrina” do interesse próprio, do sucesso fácil, da vitória a qualquer preço. Basta ver o reduzido índice de confiabilidade que os políticos detêm junto à população. Em recente pesquisa, as duas instituições nacionais com piores desempenhos são o Congresso Nacional (14%) e os Partidos Políticos, com apenas 8%. Nessa mesma avaliação, as Forças Armadas aparecem em primeiro lugar com 70% de confiabilidade.
O atual cenário é oportuno para o surgimento de novas lideranças. A nação clama por mudanças profundas em nossas estruturas político-partidárias e administrativas. As ruas já se manifestaram. O processo eleitoral ora em curso mostra, lamentavelmente, o desejo de continuidade de muitos homens (e mulheres) públicos (as) comprometidos (as) com o que de pior existe nesse país. Na mídia, no horário eleitoral, lá estão eles (as), menosprezando a nossa capacidade de reação, desprovidos (as) que são de qualquer princípio de ética e de moral.
A hora é de RETOMADA. Precisamos renovar os quadros dirigentes de nossa pátria, enxovalhada por maus brasileiros. A participação de integrantes da reserva das forças armadas no processo eleitoral deve ser saudada como uma iniciativa corajosa e meritória. Nossos companheiros de sangue verde-amarelo estão partindo para uma nova e difícil missão: resgatar o país das mãos dos que não merecem a nacionalidade que têm e da qual não se orgulham. Vamos apoiar os candidatos oriundos da reserva. Eles são confiáveis e nos representarão condignamente. Juntos e unidos lutaremos, novamente, o bom combate.
*Historiador, oficial da reserva não remunerada, presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da Academia Brasileira de Defesa, diretor de Cultura e Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB.