Aspecto relevante para o incentivo à participação da reserva na política é a excelência dos nossos quadros.
Sérgio Pinto Monteiro*
São, também, conhecidos os regulamentos que impedem os militares de, enquanto em serviço ativo, desenvolverem atividades político-partidárias. Tais restrições - a nosso ver adequadas - criaram, entretanto, um estigma contra os militares da reserva que se lançam na política partidária e que, embora decadente, ainda hoje prevalece em alguns setores das forças armadas. O argumento, via de regra, é que, despreparados para o exercício da atividade política - com todas as suas problemáticas e vicissitudes - os militares acabariam sendo envolvidos pelo sistema onde, quase sempre, se desprezam os princípios éticos - e demais valores - praticados na caserna, com grave repercussão no elevado conceito que a tropa desfruta junto à população.
Apesar de reconhecer os riscos envolvidos, não podemos ignorar os novos tempos. A sólida formação dos militares de hoje onde, paralelamente ao profissionalismo, a carreira também é focada em cidadania e interação com o meio civil, parece-nos que reduziria, expressivamente, a possibilidade de cooptação pelo sistema.
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política
é que serão governados pelos que se interessam”. (Arnold Toynbee)
Outro aspecto relevante para o incentivo à participação da reserva na política é a excelência dos nossos quadros. A imensa maioria dos integrantes da reserva estão aptos - intelectual e fisicamente - para o desenvolvimento de atividades políticas. Seus atributos, onde se destaca o exercício da liderança aliada à experiência adquirida na carreira, permitem supor que antigos chefes militares não teriam dificuldade em transformar-se em líderes políticos de elevado conceito junto ao povo, ávido por mudanças de perfil nos quadros dirigentes da nação.
Assistimos hoje, perplexos e estarrecidos, o baixíssimo nível da classe política brasileira onde prevalece, quase sempre, a “doutrina” do interesse próprio, do sucesso fácil, da vitória a qualquer preço. Basta ver o reduzido índice de confiabilidade que os políticos detêm junto à população. Em recente pesquisa, as duas instituições nacionais com piores desempenhos são o Congresso Nacional (14%) e os Partidos Políticos, com apenas 8%. Nessa mesma avaliação, as Forças Armadas aparecem em primeiro lugar com 70% de confiabilidade.
O atual cenário é oportuno para o surgimento de novas lideranças. A nação clama por mudanças profundas em nossas estruturas político-partidárias e administrativas. As ruas já se manifestaram. O processo eleitoral ora em curso mostra, lamentavelmente, o desejo de continuidade de muitos homens (e mulheres) públicos (as) comprometidos (as) com o que de pior existe nesse país. Na mídia, no horário eleitoral, lá estão eles (as), menosprezando a nossa capacidade de reação, desprovidos (as) que são de qualquer princípio de ética e de moral.
A hora é de RETOMADA. Precisamos renovar os quadros dirigentes de nossa pátria, enxovalhada por maus brasileiros. A participação de integrantes da reserva das forças armadas no processo eleitoral deve ser saudada como uma iniciativa corajosa e meritória. Nossos companheiros de sangue verde-amarelo estão partindo para uma nova e difícil missão: resgatar o país das mãos dos que não merecem a nacionalidade que têm e da qual não se orgulham. Vamos apoiar os candidatos oriundos da reserva. Eles são confiáveis e nos representarão condignamente. Juntos e unidos lutaremos, novamente, o bom combate.
*Historiador, oficial da reserva não remunerada, presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da Academia Brasileira de Defesa, diretor de Cultura e Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB.