19 de setembro de 2014

"A luta armada está na moda". Calma, é só uma candidata do PSTU apresentando suas propostas de campanha.

Imagem: Mauri Melo
Raquel: PSTU se prepara para a "luta armada"
A candidata ao Senado, primeira convidada da nova rodada de entrevistas no Grupo de Comunicação O POVO, admitiu radicalismo político, pregou fim do Senado e confisco de empresas








Hébely Rebouçashebely@opovo.com.br
Fortaleza (CE) - A candidata do PSTU ao Senado, Raquel Dias, defendeu a luta armada como método de transformação social e disse que o partido está se preparando para a revolução com armas. Raquel foi sabatinada ontem na TV O POVO. “Como a gente vive em um Estado opressor e o armamento é uma ação contra o próprio Estado, não posso dizer como estamos nos preparando”, respondeu.
Raquel, que é professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), também defendeu a extinção do Senado, traçou diferenças entre o PSTU e grupos como o Crítica Radical e disse que, se eleita, aportará emendas parlamentares na área de educação. Confira os principais momentos.

Fim do Senado
Raquel Dias concorre a uma vaga no Senado, mas disse ser a favor da extinção da Casa e defendeu a implementação de um sistema legislativo unicameral. “O Estado, com todas as suas instituições democráticas ou coercitivas, tem o caráter de classe, são instituições que ajudam na manutenção do status quo”, afirmou. Ela disse que, se eleita, utilizará o espaço para “fazer a denúncia” e, ao mesmo tempo, dialogar com a população. Questionada se não seria contraditório admitir funções importantes da Casa e, ao mesmo tempo, pregar sua extinção, Raquel ponderou que a proposta do fim do Senado é “apenas pano de fundo”, e não uma bandeira prioritária. “Mas queremos, sim, uma transformação radical da sociedade que inclui o fim de certas instituições”, afirmou.

Equilíbrio
Confrontada com o fato de a representação no Senado permitir equilíbrio entre estados ricos e pobres, a candidata do PSTU disse discordar da premissa de que o Ceará seja pobre. “Não consideramos o Ceará um estado pobre. O Ceará é o maior exportador de frutas tropicais, teve crescimento de PIB acima da média nacional. Isso é uma discussão abstrata. Um parlamentar eleito para o PSTU irá defender propostas relacionadas com a vida do trabalhador. Essa disputa entre estados não faz parte da lógica que defendemos”, apontou.

Confisco
O programa do PSTU defende que empresas que “boicotam” a economia do País merecem ter os bens confiscados. Questionada sobre que circunstâncias se encaixariam no conceito de “boicote”, Raquel citou a corrupção como exemplo. Outra forma de boicote à economia nacional são empresas que recebem isenções do governo e não devolve compensações. A candidata foi lembrada de que, no Ceará, várias empresas são beneficiadas com isenção fiscal. Quais seriam? “Eu não poderia citar sem ter embasamento sobre cada uma”, disse, apontando as áreas de transporte público, construção civil e calçadista. Mesmo sob insistência, Raquel não citou nomes. “Se não entraríamos numa discussão jurídica”, justificou.

Radicalismo
Raquel admitiu que o PSTU é uma sigla radical, mas negou que o radicalismo implique falta de diálogo. “Não queremos ficar isolados, pelo contrário". Raquel foi perguntada sobre por que o PSTU não abandona o sistema partidário – e, assim, abre mão de benefícios como o fundo partidário – tal como fizeram integrantes do grupo Crítica Radical. “Somos absolutamente diferentes dos companheiros do Crítica Radical. Se nós sairmos da luta política, como fez o Crítica, não vamos atingir nosso objetivo, que é pegar o trabalhador para nossa causa. O Crítica diz para o trabalhador não trabalhar, mas sem trabalhar ele não come”, analisou.

Arrogância?
Raquel foi perguntada se não seria arrogante afirmar que sua candidatura é a “única de esquerda” do estado, no que ela respondeu: “Temos quatro candidaturas ao Senado: a do maior empresário do estado, de um partido de direita e burguês, Tasso Jereissati (PSDB). A do Mauro Filho (Pros), apoiado pelo governador Cid Gomes, que é uma oligarquia que enfrenta as questões do trabalhadores como caso de policia. E a Geovana Cartaxo (PSB), que abraçou o projeto do PSB, que até ontem era o do governador”, lembrou. “Com a configuração atual, portanto, não é arrogante, é coerente”, argumentou.

Renegado
Perguntada sobre por que, a cada eleição, a classe trabalhadora “renega” o PSTU ao eleger candidatos de outros partidos, a candidata ao Senado Raquel Dias afirmou que a sigla disputa em “clara desvantagem” com legendas com as quais o proletariado também se identifica, como o PT. “Nós estamos fazendo uma disputa com um dos maiores aparatos que são o PT e a CUT. Estamos numa situação claramente de desvantagem. Outro elemento é o da ideologia, difundida pelos órgãos de comunicação de massa e instituições a exemplo das escolas”, avaliou.

Luta armada
Lembrada sobre os atos violentos que marcaram parte das manifestações a partir de junho de 2013 e perguntada se a luta armada não estaria “fora de moda”, Raquel disse pensar o oposto: “Achamos que estamos na moda. A luta armada está na moda”. A candidata defendeu esse método revolucionário. “Achamos que não. Achamos que para que os trabalhadores tome o poder em suas mãos, o controle sobre sua própria vida, é necessário uma revolução armada”, afirmou. Perguntada se o PSTU está se preparando para essa revolução, Raquel disse que sim, mas não revelou detalhes. “Estamos nos preparando, sim, só não vou dizer como. Como a gente vive num Estado opressor, mas que se apresenta como democrático, e o armamento é uma ação contra o próprio Estado, não posso dizer como estamos nos preparando”, afirmou. Raquel foi perguntada se o PSTU estaria formando milícias, no que ela tangenciou: “Nós defendemos uma revolução e, na história da humanidade, todas as revoluções foram armadas. (...)Nossas milícias são organizadas em cursos de formação, leitura de livros, desenvolvimento da consciência de classe”, disse.

Salário
Raquel Dias está licenciada do cargo de professora na Uece e confirmou que permanece recebendo salário durante o afastamento para as eleições. “É justo, é um direito. Eu preciso comer, sem comer eu morro. Antes de se ser candidata eu sou um ser humano, eu sou mãe, tenho dois filhos, tenho três gatos. Eu poderia abdicar do meu salário se o Grupo de Comunicação O POVO me pagasse para que eu pudesse fazer a publicidade do PSTU”, propôs.


Contradições
O PSTU de Raquel tem como um dos aliados o Psol, sigla que, em estados como Alagoas, tem recebida apoio de siglas consideradas “direitistas” e “burguesas” pelo grupo, como o PSDB. Sobre essa situação, Raquel disse que nesse e em outros casos, o PSTU se posicionou publicamente de forma contrária. “Temos outro caso, como em Iguatu, onde soltamos uma carta pública porque há um candidato lá que tem relações com partidos burgueses tradicionais”, afirmou. “Já fizemos o debate público e somos absolutamente contra. Não temos problema em fazer a crítica fraterna”, alegou.
O POVO/montedo.com

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