5 de agosto de 2011

GUERRA DAS MALVINAS: MAS DE UMA CENTENA DE SOLDADOS ARGENTINOS JAZEM SOB LÁPIDES SEM NOME

Parentes de soldados argentinos mortos nas Malvinas exigem perícia para identificar corpos




Janaína Figueiredo, correspondente (janaina.figueiredo@oglobo.com.br)
BUENOS AIRES - No cemitério de Darwin, nas Ilhas Malvinas, 123 lápides informam que em cada um dos túmulos está enterrado um "soldado argentino apenas conhecido por Deus". Outros 114 corpos foram identificados, mas o mistério dos 123 continua provocando profunda dor em seus familiares, que esta semana decidiram recorrer à Justiça para exigir ao Estado argentino o envio de uma equipe de antropólogos forenses às ilhas. No documento apresentado nos tribunais de Buenos Aires, as famílias dos soldados defenderam "o direito à identidade e à verdade", já que além de descobrirem onde estão enterrados seus entes queridos, elas querem, também, saber como morreram.
- Temos um compromisso com nossos colegas, nós sobrevivemos e temos a obrigação de lutar pela verdade - disse Ernesto Alonso, do Centro de Ex-Soldados Ilhas Malvinas (Cecim, na sigla em espanhol).
Segundo ele, "o governo da Grã Bretanha não deveria se opor à presença de uma equipe de antropólogos que a única coisa que buscará é a verdade". A associação de veteranos das Malvinas e os familiares das vítimas pretendem descobrir em que circunstâncias faleceram os 123 soldados que até hoje não foram identificados. Muitos, segundo o Cecim, poderiam ter morrido de fome, congelados, ou até mesmo ter sido assassinados por oficiais e suboficiais.
- Quando terminou o conflito, os militares silenciaram qualquer informação sobre as Malvinas - denunciou Alonso.
Os veteranos argentinos acusam as Forças Armadas de terem promovido um "processo de desmalvinização, cujo objetivo foi esconder informações sobre as atrocidades cometidas durante a guerra". O advogado Alejo Ramos Padilla, que defende as famílias das vítimas, assegurou que, "se surgirem responsabilidades, o processo continuará avançando e buscará condenar os culpados".
Como seu marido e antecessor, o ex-presidente Néstor Kirchner, a presidente Cristina Kirchner continua reclamando a soberania das Malvinas em fóruns internacionais, especialmente nas Nações Unidas. Em junho passado, a disputa entre ambos países provocou um delicado incidente diplomático. A presidente argentina acusou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, de ter uma posição "arrogante, medíocre e quase estúpida" em relação às Malvinas. Um dia antes, Cameron dissera que "enquanto as Falklandas (Malvinas) quiserem continuar sendo território soberano britânico, deverão continuar sendo território soberano britânico. Ponto final da história".
- Sabemos que não será fácil contar com a colaboração do governo britânico, que não aceita, sequer, cumprir resoluções das Nações Unidas - admitiu Ramos Padilla.
A guerra das Malvinas começou em 2 de abril de 1982, com o envio de 12 mil homens argentinos às ilhas. Após 74 dias de combates, o conflito foi encerrado, e o saldo de mortos do lado argentino chegou a 649 soldados.
O GLOBO

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