9 de abril de 2012

Violento ou 'paraíso'? Generais não se entendem sobre o Alemão.

Nota do editor:
Juntei as duas notícias na mesma postagem, para que vocês possam analisar melhor. Afinal, quem está com a razão? O general que sai ou o que assume?


Alemão é mais violento que o Haiti, diz general
Para general, Alemão é mais violento e complexo que Haiti em 2007

Raphael Gomide, do iG
O general Tomás Miguel Miné Paiva Ribeiro, que deixa nesta segunda-feira a função de comandante da Força de Pacificação do Exército nos Complexos do Alemão e da Penha, afirmou ao iG que a missão no Rio é muito mais difícil e violenta que a que a Missão de Paz no Haiti em que atuou como subcomandante do Batalhão Brasileiro (Brabatt), em 2007.
Assume a função o general Carlos Sarmento, da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, no Rio, último contingente militar na área, antes de a Polícia Militar implantar as UPPs na região. Sarmento já comandou a Força de Pacificação, em 2011.
O general Tomás esteve no Haiti entre maio e outubro de 2007, período imediatamente posterior à “pacificação” real de Cité Soleil, a mais perigosa favela da capital Porto Príncipe, antes dominadas por gangues. A Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) começara lá em junho de 2004. A última ação de massa na região, em Bois Neuf, foi uma operação com 600 militares dos países da Minustah e ocorreu sem tiros, em 28 de fevereiro. General Tomás esteva lá ainda como coronel e observador, preparando-se para assumir o posto.
“Recebemos muito menos tiros lá no Haiti do que aqui (nos Complexos do Alemão e da Penha). Mudamos até a maneira de empunhar os fuzis: quando chegamos lá, era arma carregada, destravada e pronta para atirar. No meio da missão, já andávamos com armas abaixadas. Recebemos pouco tiro lá, muito menos que aqui. Aqui foram mais de 100 tiros contra a tropa nesses dois meses e meio”, afirmou o general Tomás.
Desde que assumiu o comando da Força de Pacificação, em 27 de janeiro, general Tomás implementou uma rotina mais reforçada de patrulhamento a pé e de moto de becos e vielas, priorizando essas áreas e “saturando” a área com os cerca de 1.600 homens operacionais distribuídos pelos complexos do Alemão e da Penha.
A reação dos traficantes foi clara. Dispararam as hostilidades em relação à tropa. Só em fevereiro, foram 102 “ações hostis”, na contabilidade da Força de Pacificação.
Até então, desde janeiro de 2011, o maior número tinha acontecido em maio de 2011, quando houve 34 ações, um terço do ocorrido em fevereiro – a média anterior mensal era de 16 casos.
Nesse período de cerca de dois meses e meio em que as tropas de Campinas (SP) e de Santa Maria (RS) ficaram na região, foram alvo de 22 tiros de fuzil, 114 tiros de pistola ou revólver, além de 37 bombas caseiras ou rojões, jogados em direção aos soldados. Houve ainda 70 casos de pedras, paus, garrafas e tijolos lançados contra os militares e 42 “formações de turba” – como no dia da visita do príncipe Harry.
Seguindo a orientação do CML (Comando Militar do Leste) – de “proteger a população” –, o contingente informou ter dado 42 tiros de advertência de fuzil, 16 tiros de pistola, como resposta. A arma mais usada pelo Exército entre o fim de janeiro e hoje foi a espingarda calibre 12 de munição de borracha, não-letal, com 400 disparos, associados às granadas de luz e som (32), e gás de pimenta.
“No Haiti, a tropa chegou pronta para combater, não para manutenção da paz, mas para imposição da paz. Tinha atirado muito em treino e estava segura. No Haiti a situação social é muito pior que aqui. Mas aqui há uma cultura do tráfico ainda muito forte”, disse.
No período, cresceram também as apreensões de drogas e armas. Em fevereiro e março, foram apreendidas 11 armas, sendo quatro réplicas de fuzis, maior média desde o início da Operação Arcanjo.
Os militares apreenderam 7208 papelotes de cocaína, 2896 sacolés de maconha, 2896, 300 comprimidos de ecstasy: 376 pedras de crack e 36 de haxixe.
Foram recolhidos pela tropa ainda um carregador de fuzil, 58 cartuchos de fuzil calibre 7.62mm, 29 cartuchos de pistola 9mm, 18 rádios portáteis, 30 celulares, um par de binóculos e 11 veículos roubados.
As ações de inteligência passaram a priorizar, pela ordem, armas, sistemas de informações das “forças adversas” – traficantes –, procurados, tráfico de drogas e crimes conexos.
iG/montedo.com


"Alemão continua um paraíso", diz novo general da Pacificação

Comandante que assume nesta segunda-feira minimiza grande aumento no número de hostilidades contra a tropa nos últimos dois meses
Foto: Divulgação/Polícia Civil - General Carlos Sarmento
 ao lado da chefe da Polícia Civil do Rio, Martha Rocha
Raphael Gomide
O general Carlos Sarmento, novo comandante da Força de Pacificação dos complexos do Alemão e da Penha, afirmou nesta segunda-feira (9), ao assumir a missão, que o "Alemão continua um paraíso, até com vista aérea, o teleférico". A afirmação foi feita em resposta a pergunta do iG, que o questionou sobre declaração dada por ele em agosto de 2011, na outra vez que comandou a área. Na ocasião, ele disse que o Alemão estava um "paraíso".
Desde fevereiro, porém, a tropa do Exército tem sofrido constantes ataques, inclusive a tiros, de traficantes remanescentes da região. Em entrevista ao iG, o general Tomás, substituído nesta segunda, declarou que a missão no Alemão e na Penha foi mais violenta e complexa que sua experiência no Haiti, em 2007.
Na ocasião, seu contingente foi o primeiro a não ser alvejado pelas gangues, que perderam o controle do território para os capacetes azuis da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). O oficial foi subcomandante do Batalhão Brasileiro (Brabatt) no Haiti.
"Não posso dizer pelo tempo em que não estive aqui. Passei o comando em agosto de 2011. Naquele momento, realmente, eu disse que o Alemão estava um paraíso. Agora, pelas informações que eu tenho, o Alemão continua um paraíso, e agora até com vista aérea", brincou, fazendo referência ao teleférico instalado na área, com seis estações.
O general Sarmento reassume a Força em um momento de tensão, com aumento das hostilidades ao Exército e o princípio da substituição dos militares por tropas da PM, que implantarão UPPs na área.
Ele prometeu manter o intenso patrulhamento de becos e vielas, considerado um dos responsáveis pela intensificação das hostilidades. "O modus operandi será o mesmo, com o foco na população. O patrulhamento nos becos continua", disse Sarmento.
Em seu discurso de despedida, o general Tomás afirmou que a atuação nos complexos é a "missão mais importante do Exército em território nacional" e que a pacificação é um caminho sem volta.
iG/montedo.com

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