Na selva colombiana, Farc libertam os últimos reféns em seu poder
Operação marca retorno dos últimos militares e policiais sequestrados pela guerrilha
Libertados desembarcaram por volta das 20h no aeroporto de Villavicencio
Foto: Luis Acosta / AFP
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A guerrilha das Farc entregou nesta segunda-feira os últimos 10 militares e policiais que mantinha em seu poder a uma missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e ao coletivo Colombianos e Colombianas pela Paz, em algum ponto da selva da Colômbia.
A libertação foi realizada "nas últimas horas numa zona rural entre os limites do Departamento de Meta e Guaviare", conforme um comunicado do CICV. Os reféns libertados são"todas as pessoas anunciadas pelo grupo armado" com libertações programadas para esta semana, também de acordo com o comunicado.
Previa-se, antes, que a operação de resgate fosse efetuada em duas jornadas, entre esta segunda-feira e a quarta-feira próxima. Os militares e policiais estiveram em poder do grupo armado entre 12 e 14 anos.
— A decisão de entregá-los todos, de uma só vez, partiu das Farc, pelo que agradecemos, em nome das famílias — disse à imprensa o representante do CICV na Colômbia, o espanhol Jordi Raich.
Os libertados desembarcaram por volta das 20h no aeroporto de Villavicencio, de onde partiu, na manhã desta segunda-feira, a missão humanitária em um helicóptero Cougar da Força Aérea Brasileira [na verdade, os helicópteros são do 4º BAvEx, de Manaus].
São os últimos reféns militares e policiais mantidos em cativeiro pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), informou a própria guerrilha, embora a polícia colombiana denuncie que ainda não tem notícias de dois de seus homens, também sequestrados.
Foram libertados nesta segunda-feira os militares Luis Alfonso Beltrán, Luis Arturo Arcia, Luis Alfredo Moreno e Robinson Salcedo; e os policiais César Augusto Lasso, José Libardo Forero, Wilson Rojas Medina, Jorge Romero, Carlos José Duarte e Jorge Trujillo.
Todos eles foram capturados em quatro ataques da guerrilha, praticados entre 1998 e 1999.
Para a operação de libertação foram suspensas todas as ações das forças militares na zona.
No aeroporto de Villavicencio, dezenas de familiares aguardavam sua chegada.
— Este foi o melhor presente, a melhor surpresa, e espero apresentá-lo a Ana María, sua neta. Agora, só quero abraçá-lo com todo o meu coração e será uma oportunidade para minha filha conhecer um homem grandioso, valente e um incansável lutador — disse Jennifer, filha do policial Carlos José Duarte.
Carlos Andrés, outro filho de Duarte, que tem agora 13 anos, disse que "quando a guerrilha o levou tinha apenas dois meses. Sempre me falaram dele, me mostraram suas fotos. Ele esteve sempre em minha vida, apesar de só hoje poder voltar a vê-lo".
Depois do pouso em Villavicencio, os reféns libertados serão trasladados a Bogotá para exames médicos.
Desde 2008, a ex-senadora Piedad Córdoba, líder de Colombianos e Colombianas pela Paz, vem mediando a libertação de 20 reféns políticos ou policiais e militares, que as Farc mantinha em seu poder, para poder trocá-los por centenas de guerrilheiros presos.
Outros reféns políticos ou da força pública foram resgatados anteriormente em operações militares, entre eles a ex-candidata presidencial de nacionalidades colombiana e francesa, Ingrid Betancourt, em 2008. Outros conseguiram fugir e alguns morreram em cativeiro.
Em Villavicencio também estão a guatemalteca Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz; a ativista mexicana pelos direitos humanos Margarita Zapata e a argentina Mirta Acuña, fundadora da organização Mães da Praça de Maio, convidadas pelo coletivo Colombianos e Colombianas pela Paz.
As Farc são a principal guerrilha da Colômbia, com 9.000 combatentes e quase meio século de luta armada, segundo cálculos oficiais.
Recentemente, as Farc, que prometeram cessar com o sequestro de civis para exigir resgate, se dispuseram a um diálogo com o governo do presidente Juan Manuel Santos.
O presidente exige da guerrilha, como passo inicial, o fim dos sequestros, dos atentados e do recrutamento de menores.
Zero Hora/montedo.com