3 de abril de 2012

"Não vou sentir saudades do Alemão", afirma militar do Exército

Militares que patrulham Complexo do Alemão relatam impressões que tiveram da comunidade. 
Bruna Fantti

Militares distribuem água para moradores:
tentativa de aproximação com a comunidade
No próximo dia 9, cerca de 1.800 militares do Exército que estão nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, serão substituídos por outros, em troca que ocorre a cada três meses. Mas, para alguns, as recordações que vão levar não serão as melhores.
O cabo do Exército Saulo Monteiro, 23 anos, natural de Pindamonhangaba (SP), esteve no Haiti durante sete meses em 2009 e relata a frustração do convívio nas comunidades do Rio. “Aqui as pessoas não respeitam o Exército. Xingam, olham feio. Até crianças fazem isso. No Haiti a população era muito receptiva. Não vou sentir saudades do Alemão, só vou levar lembranças boas do convívio com os companheiros e da missão em si”, afirmou.
Monteiro se referia, em parte, às hostilidades que foram registradas em vídeos pelo Exército. O iG teve acesso às filmagens, que mostram agressões de supostos traficantes às tropas – algumas feitas por crianças. Em um dos flagrantes, homens jogam garrafas de vidro para conter o patrulhamento de uma companhia em um beco do Alemão.
As imagens também mostram dois agressores fugindo. Em outro vídeo, realizado no último dia 17, o Urutu, um dos veículos blindados do Exército, avança sobre uma barricada feita de lixo e fogo, também para evitar a progressão das tropas nas vielas.
Em outra filmagem realizada em março, seis crianças incitam os militares ao gesticular com as mãos as iniciais da facção criminosa responsável pela venda de drogas nas comunidades. No mesmo dia, uma equipe é agredida enquanto conduzia um suposto traficante de cocaína para a delegacia.
Eles ainda são atacados com um tijolo, jogado por uma criança que, mesmo detida, continua desafiando a tropa. Os militares também relataram que quando há uma prisão, parte da população se revolta e protesta.
O soldado Rodrigo Domingues, de 24 anos, natural de Marília (SP), contou que a recepção da tropa pela população era algo previsto por ele, que também esteve no Haiti. “Lá (Haiti) eles estavam carentes de tudo, qualquer ajuda era bem-vinda. Aqui, não. Estamos como ocupação, conquistando um espaço que era de outros, que incitam a população contra nós. São recepções diferentes, as impressões que ficam também serão”, afirmou. Mas, ponderou: " Não são todos, mas a maioria nos hostiliza".


Cultura do medo
Para o oficial que comanda a Força de Pacificação, general de brigada Tomás Paiva, a reação de parte dos moradores também já era esperada. “São resquícios de uma cultura que demora em ser retirada: a cultura do medo. As pessoas confiam no Exército, mas são motivadas por poucos traficantes que continuam ali a protestar, um pequeno grupo de pessoas que tiveram seus interesses contrariados”, disse.
Militares distribuem água para moradores: tentativa de aproximação com a comunidade
Segundo o general, ações sociais são realizadas constantemente para que ocorra uma aproximação com os moradores. “Temos várias atividades para integrar a tropa com a comunidade. Desde eventos esportivos à distribuição de água em residências com o caminhão pipa”, relatou.
No último dia 27, as tropas do Exército começaram a ser substituídas por policiais militares nas comunidades Nova Brasília e Fazendinha, no Alemão, para a implantação de duas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
De acordo com o tenente-coronel Claúdio Lima Freire, comandante-operacional das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), ainda no mês de abril outras duas operações similares deverão ocorrer. A previsão é de que até o dia 27 de junho deste ano, oito unidades estejam instaladas nos Complexos do Alemão e da Penha.
iG/montedo.com

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