Sérgio Barreto Motta
Um especialista em sistemas de defesa informa à coluna que as notícias sobre participação das Forças Armadas na segurança da Copa transmitem ao grande público a falsa impressão de que tudo vai bem no setor. Acentua: “O aparelhamento citado é tão gigantesco, que isso pode levar a sociedade brasileira e seus representantes na Câmara e no Senado a concluírem que não é mais necessário dar tratamento urgente às necessidades orçamentárias das Forças Armadas”.
Acrescenta que isso contrasta com a sinceridade do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, quando declarou a aposentadoria dos caças Mirage antes mesmo da decisão do governo de compra dos novos Gripen suecos. Cita como exemplo nota oficial, na qual a Marinha informou que 1.200 militares atuarão com 14 embarcações e 29 veículos no Lago Paranoá, em Brasília. E ironiza: “Se tudo isso, considerando só a Marinha, é apenas para o Lago Paranoá, pode-se imaginar como deveria ser gigantesco o aparato para todo o território nacional”.
O analista também critica a instalação de sistemas de mísseis antiaéreos em terraços de edifícios no bairro da Tijuca próximos ao Maracanã, no Rio: “Os mísseis antiaéreos dos fuzileiros são de origem francesa e foram comprados por volta de 1994. São de curto alcance, chamados de táticos, guiados por sensor de raios infravermelho emitidos por fontes de calor. São considerados mísseis não adequados aos ambientes urbanos. Se tiverem realmente de ser utilizados para abater algum objeto aéreo suspeito se aproximando do Maracanã poderão causar mais danos a civis inocentes do que prevenir desastres. Haveria sérios danos colaterais, pois o objeto acertado, se abatido, poderá cair sobre área densamente povoada”.
A cobertura televisiva da seleção da Holanda mostrou os jogadores na praia tendo ao fundo um dos três Navios de Patrulha Oceânica existentes na Marinha. Seria melhor utilizar navios próprios para áreas costeiras, capazes de se contraporem a possíveis pequenas embarcações que tentassem uma aproximação da costa para algum atentado. Mas os navios de patrulha costeira vêm sendo equipados, por economia, com radares próprios tão somente para sistemas de navios mercantes, aptos a detectar objetos sobre o mar. Isso acontece porque são radares bem mais baratos que, portanto, podem ser incluídos nos parcos orçamentos da Marinha. Não terão efeito, por exemplo, sobre os hoje tão populares drones (veículos aéreos operados remotamente, que, nos Estados Unidos, estão à venda no comércio) que poderão ser utilizados a partir de uma embarcação aparentemente inocente tal como um iate ou um pequeno pesqueiro.
Afirma ainda: “Estes navios de patrulha talvez não sejam capazes de detectar objetos aéreos sobre o mar, próximos da costa. Tais objetos, voando mais baixo, provavelmente também não deverão ser detectados pelos sistemas de controle da Aeronáutica que são preparados para acompanhar o tráfego aéreo comercial em trânsito ou em aproximação de aeroportos”. E conclui: “Enquanto isso, o importantíssimo SisGAAz, sistema de gerenciamento do mar brasileiro, não vai adiante, por falta de verbas”.
Primeira Linha (Monitor Mercantil)/montedo.com