Soldado que carregou corpo de Cândido Castello Branco narra episódio
Francisco Cavalcante, então soldado da FAB, carregando o corpo do irmão do Marechal Castelo Branco, uma das cinco vítimas do acidente aéreo (Reprodução: O Povo) |
A publicação do livro sobre fotojornalismo do O POVO fez voltar um personagem ligado ao acidente de Castello Branco
Demitri Túliodemitri@opovo.com.br
Fortaleza (CE) - A fotografia, romantizam alguns, é uma ponte para os encontros. Pois que seja. A republicação de uma imagem histórica na capa do livro Linha do Tempo, Fotojornalismo O POVO: 1928-2013, quarenta e sete anos depois do clique de Manuel Cunha, deu em conversas e lembranças na família Cavalcante. Parte dela habitante do bairro Montese. E o personagem principal da foto um exilado, por conta própria, de um sítio em Caucaia - município da Região Metropolitana de Fortaleza.
Quase meio século depois, Francisco Uchôa Cavalcante, hoje aos 66 anos de idade, rodou na memória o dia em que o destino lhe pôs frente a frente com o ex-presidente do Brasil Humberto de Alencar Castello Branco. Era 18 de julho de 1967 e as circunstâncias trágicas marcaram a história do então soldado da Base Aérea de Fortaleza. “Eu tinha 19 anos quando essa foto foi tirada”, recorda.
Francisco Cavalcante Uchôa é o militar que aparece, no centro da fotografia, carregando nas costas o corpo de Cândido Castello Branco. O irmão do marechal que se tornou o primeiro presidente do Brasil após golpe militar de 31/3/1964.
Horas depois da queda do avião que matou o Castello Branco e outras quatro pessoas, uma equipe da Polícia da Aeronáutica foi enviada ao local para tentar resgatar alguém com vida. “Havia a informação que dificilmente encontraríamos sobreviventes”, conta.
Capa do Jornal do Commércio do RJ - 19 de julho de 1967 |
Uchôa, nome de guerra usado no quartel, lembra que os militares haviam acabado de tomar café da manhã quando chegou a notícia sobre o desastre aéreo. Um choque entre um caça da Força Aérea Brasileira (FAB) e um avião civil que transportava o ex-presidente Castello Branco. Precisavam de voluntários para ir até o lugar da queda. Uma mata fechada que ficava por trás da Chesf, na época bairro do Mondubim e, hoje, entorno do Conjunto Prefeito José Walter.
Quarenta minutos após uma caminhada de quatro quilômetros e abertura de uma picada, Francisco Uchôa e outros militares chegaram ao lugar. Mas era tarde para os quatro passageiros do “avião de Castello”. O marechal cearense, Cândido Castello Branco, a escritora Alba Frota e o major Manoel Nepomuceno de Assis estavam mortos. “Não é verdade dizer que o ex-presidente ainda agonizava. Quando chegamos, ele já não tinha vida”, testemunha.
O avião, lembra Francisco Uchôa, caiu numa floresta de pés de sabiás e outras árvores de madeira forte. Ao lado da aeronave, estavam os quatro corpos, o piloto Celso Tinoco – que faleceu no hospital da Base Aérea – e o co-piloto Emílio Celso Tinoco, filho do piloto e único sobrevivente do desastre.
Antes dos militares, conta Francisco Uchôa, “um vaqueiro” de uma fazenda daquelas bandas teria chegado primeiro ao local. Na verdade, três funcionários da Chesf avistaram o avião em queda e se embrenharam pela mata até os destroços. Com machados, eles teriam “rasgado” o bimotor (um Piper Aztec) e retirado os quatro passageiros e os dois tripulantes. “Reclamaram da forma como transportamos as pessoas, estavam mortas. E não havia essa história de perícia, isolamento da área. As condições de resgate eram precárias”, relembra o personagem da fotografia que correu o Brasil e o mundo em 1967. Registro imortalizado pelo repórter-fotográfico Manuel Cunha.
SERVIÇO
Linha do Tempo, Fotojornalismo O POVO: 1928-2013 é livro que foi lançado para comemorar os 85 anos de fotojornalismo praticados no jornal. São 80 imagens sobre a história dos cotidianos de Fortaleza, do Ceará e do País.
O POVO/montedo.com