As autoridades federais e regionais lançaram uma mensagem clara: os preparativos policiais e militares já estão em andamento e os radicais terão poucas possibilidades de usar a violência
Mesmo contrariados, os brasileiros já admitem que apoiarão a Copa
Policiais guardam o estádio Mané Garrincha, em Brasília. / FERNANDO BIZERRA JR. (EFE) |
FRANCHO BARÓN
Rio de Janeiro - Ante o temor que provoca dentro e fora do Brasil a possibilidade de que ocorram explosões de violência durante a Copa do Mundo, o Governo de Dilma Rousseff e as autoridades dos Estados que acolherão jogos ou concentrações das seleções participantes lançaram uma mensagem clara: os preparativos policiais e militares já estão em andamento e os radicais terão poucas possibilidades de usar a violência. A exibição de uma poderosa mobilização de meios materiais e humanos deixa isso bem evidente: um dia se anuncia que o Exército será responsável pela segurança dos deslocamentos terrestres das seleções e no dia seguinte se apresenta à imprensa um draconiano aparato policial ou se realiza uma simulação na qual o Estado exibe sua capacidade de reação diante de um hipotético (e altamente improvável) ataque radiológico em uma linha do metrô do Rio. Tudo isso diante das câmeras de meio mundo.
Frente às incertezas surgidas durante a Copa das Confederações, no ano passado, quando milhões de brasileiros foram às ruas de forma espontânea para protestar contra seus governantes, o Brasil preferiu não se arriscar de novo e decidiu blindar-se para qualquer cenário de convulsão social. Os grupos contrários ao Mundial, como o Comitê Popular da Copa, anunciam que as manifestações estarão garantidas. O Governo já disse que não pretende reprimi-las, já que são um sinal claro de saúde democrática. O que não se tolerará, segundo a própria presidenta, é a violência protagonizada por grupos radicais, como os Black Blocs ou outros agrupamentos sem controle.
Efetivos do Exército, da Polícia e do Corpo de Bombeiros realizaram diante da imprensa uma simulação de violência extrema no metrô carioca. Depois de uma forte detonação, os vagões pararam em uma estação do centro com dezenas de extras teoricamente afetados por uma bomba radioativa. As câmeras registraram como equipes perfeitamente equipadas com indumentária apropriada para ataques químicos, radiológicos, bacteriológicos e nucleares retiraram pouco a pouco os feridos virtuais e os submeteram a um processo de descontaminação radioativa. O ensaio foi coordenado pelo Exército e nele foram utilizados hospitais de campanha e equipes de alta tecnologia.
Um dia antes, a Polícia Militar de Rio mobilizou diante do Pão de Açúcar numerosos efetivos equipados com cavalos, cães adestrados, helicópteros, lanchas, diversos veículos e uniformes antidistúrbios. A imagem do conjunto foi um claro aviso aos navegantes: estamos preparados para tudo. Nesta segunda-feira, um contingente adicional de 1.600 policiais recém-formados começam a patrulhar as ruas do Rio em uma prévia da imponente mobilização armada que se verá durante o Mundial.
A presidenta Dilma Rousseff decidiu na semana passada que o Exército será encarregado de proteger as seleções e delegações dos protestos que possam ocorrer. A decisão foi adotada depois que, na segunda-feira passada, um grupo de 300 professores em greve cercou o ônibus da seleção brasileira, esmurrando-o e enchendo-o de adesivos com reivindicações. A presidenta aproveitou a inauguração do corredor expresso de ônibus BRT Transcarioca, que une a Barra da Tijuca e o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, para fazer um apelo à calma social: “Quando um turista estrangeiro ou de outro lugar do Brasil vem a esta cidade, sempre retorna com a sensação de ter sido bem recebido. Estou segura de que a população receberá os turistas com carinho, cuidado, respeito e sem violência”.
A declaração de Dilma coincide com a publicação de uma sondagem de opinião realizada no Rio pela Overview Pesquisa que traz dados alentadores para o Governo. Dos entrevistados, 88,2% dizem não ter intenções de manifestar-se nas ruas durante o Mundial. Além disso, 45,4% apoiam a realização da Copa no Brasil, enquanto 39,2% se declaram contra. De qualquer forma, a paixão pelo futebol volta a contagiar a imensa maioria, já que 84% dos cariocas dizem ter a intenção de ver os jogos.
EL PAÍS/montedo.com